Mortes: Com diplomacia e arte, retratou cotidianos e paisagens

Sergio Telles casou a pintura, uma grande paixão, com o trabalho no Itamaraty

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São Paulo

Apesar de não agradar ao pai, a escolha das carreiras de pintor e diplomata foi harmônica para a vida de Sergio Telles. Era durante as viagens que ele aumentava o repertório de paisagens para suas criações artísticas.

O amor pela pintura saiu do coração e foi parar nos pincéis aos nove anos de idade. Sergio só parou de pintar nos últimos dias de vida. Em 24 de janeiro, um câncer no pâncreas o levou, aos 85 anos.

Quando descoberta a doença, pela estimativa de médicos, viveria menos de cinco meses. Resistiu, no entanto, quase dois anos.

No período em que estava doente, também não deixou de organizar exposições e participar de leilões, segundo a arquiteta Maria Teresa Moreira dos Santos Barcellos Telles, 56, sua esposa.

Sergio Barcellos Telles (1936-2022)
Sergio Barcellos Telles (1936-2022) - Arquivo pessoal

Em 1954, Sergio participou pela primeira vez do Salão Nacional de Belas Artes. Ganhou vários prêmios e, no ano seguinte, aos 19, realizou a primeira exposição individual na galeria de arte da prefeitura do Rio de Janeiro.

Sergio havia iniciado a faculdade de direito, mas trancou o curso para viajar à Europa, em 1957. Na ocasião, visitou museus na Itália, na França, na Holanda e em Portugal. Como estagiário, atuou na restauração da Pinacoteca do Vaticano. De volta ao Brasil, trabalhou em alguns ateliês.

"A partir dessa viagem, meu pai decidiu que queria uma carreira que o permitisse conhecer o mundo e seguir com a pintura. Por isso, escolheu a de diplomata", conta o filho Miguel Telles, 27, que também seguirá a carreira na diplomacia.

Em 1964, Sergio ingressou no Ministério das Relações Exteriores via concurso público. Como diplomata, exerceu diversas funções no Brasil e em vários países. Chegou a embaixador.

Aposentou-se do Itamaraty, regressou ao Brasil em 2006 e se consolidou na pintura, em São Paulo.

Sua especialidade era pintura a óleo. Além de natureza morta, Sergio gostava de instalar o cavalete nas ruas e pintar paisagens e cenas do cotidiano.

Suas pinturas foram expostas em museus e galerias da América Latina, Europa, Ásia e África. Os trabalhos passaram, entre outros locais, por Petit Palais, (Genebra), Museu Carnavalet (Paris), Museu de Arte Moderna de Kobe (Japão), Fundação Calouste Gulbenkian (em Lisboa e Paris), Masp (Museu de Arte de São Paulo), Museu Nacional de Belas Artes e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Algumas de suas obras fazem parte de coleções permanentes de museus como o Masp, o Carnavalet e o Beaubourg (em Paris), o Hermitage (em São Petersburgo) e o Puskin (em Moscou).

O artista ilustrou álbuns de poemas de Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, publicados pela galeria Wildenstein de Londres e de Buenos Aires, em parceria com Júlio Pacelo. Realizou também o álbum de litografias "Café Hawelka" para a galeria Würthle, de Viena.

Sergio gostava ainda de ler os editoriais dos jornais, principalmente os relacionados à política, e tudo sobre a história do Brasil, conta a família.

Dono de personalidade forte e determinação, é lembrado como um pai presente e ativo, que queria e conseguiu ver os filhos encaminhados na carreira que cada um escolheu.

Sergio Telles deixa a esposa e quatro filhos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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