Apesar de não agradar ao pai, a escolha das carreiras de pintor e diplomata foi harmônica para a vida de Sergio Telles. Era durante as viagens que ele aumentava o repertório de paisagens para suas criações artísticas.
O amor pela pintura saiu do coração e foi parar nos pincéis aos nove anos de idade. Sergio só parou de pintar nos últimos dias de vida. Em 24 de janeiro, um câncer no pâncreas o levou, aos 85 anos.
Quando descoberta a doença, pela estimativa de médicos, viveria menos de cinco meses. Resistiu, no entanto, quase dois anos.
No período em que estava doente, também não deixou de organizar exposições e participar de leilões, segundo a arquiteta Maria Teresa Moreira dos Santos Barcellos Telles, 56, sua esposa.
Em 1954, Sergio participou pela primeira vez do Salão Nacional de Belas Artes. Ganhou vários prêmios e, no ano seguinte, aos 19, realizou a primeira exposição individual na galeria de arte da prefeitura do Rio de Janeiro.
Sergio havia iniciado a faculdade de direito, mas trancou o curso para viajar à Europa, em 1957. Na ocasião, visitou museus na Itália, na França, na Holanda e em Portugal. Como estagiário, atuou na restauração da Pinacoteca do Vaticano. De volta ao Brasil, trabalhou em alguns ateliês.
"A partir dessa viagem, meu pai decidiu que queria uma carreira que o permitisse conhecer o mundo e seguir com a pintura. Por isso, escolheu a de diplomata", conta o filho Miguel Telles, 27, que também seguirá a carreira na diplomacia.
Em 1964, Sergio ingressou no Ministério das Relações Exteriores via concurso público. Como diplomata, exerceu diversas funções no Brasil e em vários países. Chegou a embaixador.
Aposentou-se do Itamaraty, regressou ao Brasil em 2006 e se consolidou na pintura, em São Paulo.
Sua especialidade era pintura a óleo. Além de natureza morta, Sergio gostava de instalar o cavalete nas ruas e pintar paisagens e cenas do cotidiano.
Suas pinturas foram expostas em museus e galerias da América Latina, Europa, Ásia e África. Os trabalhos passaram, entre outros locais, por Petit Palais, (Genebra), Museu Carnavalet (Paris), Museu de Arte Moderna de Kobe (Japão), Fundação Calouste Gulbenkian (em Lisboa e Paris), Masp (Museu de Arte de São Paulo), Museu Nacional de Belas Artes e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Algumas de suas obras fazem parte de coleções permanentes de museus como o Masp, o Carnavalet e o Beaubourg (em Paris), o Hermitage (em São Petersburgo) e o Puskin (em Moscou).
O artista ilustrou álbuns de poemas de Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, publicados pela galeria Wildenstein de Londres e de Buenos Aires, em parceria com Júlio Pacelo. Realizou também o álbum de litografias "Café Hawelka" para a galeria Würthle, de Viena.
Sergio gostava ainda de ler os editoriais dos jornais, principalmente os relacionados à política, e tudo sobre a história do Brasil, conta a família.
Dono de personalidade forte e determinação, é lembrado como um pai presente e ativo, que queria e conseguiu ver os filhos encaminhados na carreira que cada um escolheu.
Sergio Telles deixa a esposa e quatro filhos.
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