São Paulo tem, pelo menos, 180 mil árvores em falta, que deveriam ter sido plantadas nos últimos dez anos, mas não foram. A situação se agravou nos últimos seis meses, período em que o serviço de plantio deixou de ser realizado por uma empresa cujo contratou se encerrou em julho de 2021, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.
Mesmo com o fim do contrato, no último semestre de 2021, houve o plantio de 5.806 árvores pelas subprefeituras, além de 26.274 novas por compromisso ambiental e 129 por ajustamento de conduta, segundo a prefeitura. Ao todo, em 2021, o município plantou 49.895 árvores, de acordo com a administração municipal.
Com a interrupção, o número de árvores plantadas na capital paulista em 2021 foi o menor desde 2016. Além das que deixaram de ser plantadas, muitas árvores foram retiradas e não receberam a substituição prevista em lei. Os dados são da Divisão de Arborização Urbana (DAU), dos Planos de Metas das duas últimas gestões e do Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU)
Mesmo no período em que o contrato ainda estava ativo, as metas definidas pelo PMAU para o número de árvores plantadas anualmente nunca foram totalmente atingidas. O instrumento foi elaborado entre 2019 e 2020 como parte do esforço da cidade para atingir as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Os números estão mais distantes ainda do estabelecido no Plano de Metas 2021-2024, elaborado pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), que prevê o plantio de 45 mil árvores por ano.
O objetivo é alcançar 50% de cobertura vegetal na cidade. O índice atualmente é de 48,2%.
Além da cobertura em si, outro problema é a distribuição desigual da vegetação pela cidade. A subprefeitura de Parelheiros, por exemplo, é a segunda maior da cidade e tem mais de 60% de sua área é coberta por mata atlântica. Essa taxa cai a 3,2% em bairros como o Brás, zona com menor cobertura arbórea da capital.
O professor da USP Marcos Buckeridge, especialista em arborização urbana, explica como essa desigualdade de distribuição da vegetação é um dos fatores que compõem a grande desigualdade social na capital.
Áreas mais arborizadas têm melhor qualidade do ar, temperaturas mais equilibradas, maior umidade e menos enchentes, além de serem mais agradáveis visualmente.
"Nós [cientistas] não sabemos se existe uma relação de causa e efeito ou não, mas existe maior arborização onde o índice de desenvolvimento humano (IDH) é maior. Nos locais de maior IDH e maior arborização, os habitantes chegam a viver 20 anos a mais em comparação com aqueles que vivem em regiões de baixo IDH e baixa arborização. Ainda que não seja uma relação direta, a árvore é um dos fatores que se correlaciona com as desigualdades que temos na cidade de São Paulo.", explica Buckeridge.
O professor ressalta que a temática das árvores urbanas está em alta no meio científico de todo o mundo, e que todos os lugares enfrentam desafios, especialmente as grandes cidades. Isso porque o custo é alto para cuidar de um plantel enorme como o de São Paulo, que tem cerca de 650 mil árvores.
Apesar dos custos, Buckeridge explica que esse investimento deve ser feito, especialmente pensando nas mudanças climáticas.
Tanto o professor como a prefeitura, por meio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), afirmam que a gestão atual tem dado importância para o tema, com a criação de um comitê formado por cientistas para definir planos responsáveis de arborização para a capital.
Até o ano passado, a empresa responsável pelo manejo e plantio das árvores da capital recebia mais de R$ 7 milhões anualmente por esse serviço.
A SVMA afirma que o novo contrato está em fase final de licitação, aguardando julgamento de recurso para liberação de pregão eletrônico. A secretaria não informou uma previsão de quando os serviços devem retornar à normalidade.
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