Mesmo com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, o Carnaval de rua na capital paulista continua cancelado no último fim de semana em abril, quando as escolas de samba irão desfilar no Sambódromo.
Devido à suspensão anunciada pela prefeitura no início de janeiro, os organizadores hesitam em colocar seus blocos nas ruas sem a infraestrutura fornecida pela administração em outros anos, como apoio para desviar o trânsito, fornecimento de banheiros químicos e credenciamento de ambulantes.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) confirmou nesta sexta-feira (18) a decisão de manter a suspensão do Carnaval de rua.
Segundo integrantes da administração, o motivo do cancelamento é o mesmo dos blocos: falta de dinheiro para arcar com o evento que consome milhões para ser organizado. No último Carnaval de rua, em 2020, pouco antes de a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar a pandemia de Covid-19, a prefeitura arrecadou R$ 16 milhões em patrocínio para organizar os desfiles.
Em nota enviada à Folha no fim de fevereiro, a prefeitura afirmou que "a logística para realizar um evento como o Carnaval é muito complexa e, por isso, demanda tempo hábil para a organização".
A falta de patrocínio de empresas, quase sempre do ramo cervejeiro, também inviabiliza por parte dos blocos a contratação de equipamentos e trios elétricos, segundo os organizadores. Além disso, eles temem responsabilizações jurídicas em caso de acidentes durante os desfiles.
Organizadores de blocos também reclamam da falta de diálogo com a prefeitura. A articulação tem sido feita somente entre eles em reuniões semanais, nas quais têm sido consenso que os desfiles em abril continuam sem previsão.
Por isso, a falta de definição sobre o Carnaval de rua em abril deve resultar em um cenário parecido ao que ocorreu no feriado de Carnaval: uma extensa programação de festas fechadas, a maioria organizada pelos blocos que costumam atrair milhares de pessoas para as ruas; e algumas iniciativas de blocos improvisados, que demandam quase sempre pouca estrutura, como alguns músicos com instrumentos de sopro e pequenas caixas de som.
Em fevereiro, o Carnaval pago teve grande adesão de foliões diante da suspensão da programação dos blocos. Por outro lado, os foliões que fizeram questão de pular na rua tiveram a praça Olavo Bilac, em Santa Cecília, como uma espécie de foco de resistência da folia irrestrita.
A folia confinada foi criticada por estudiosos de cultura popular e organizadores de blocos que classificam o fenômeno como uma espécie de segregação social. Eles criticam o que chamam de "cancelamento seletivo", que, na prática, define quem tem e quem não tem direito à folia.
Ingressos para as festas de Carnaval chegaram a R$ 700 em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. O mesmo deve ocorrer em abril, segundo os organizadores de blocos.
Com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, a aposta dos organizadores de blocos é que a adesão às aglomerações improvisadas seja maior em abril.
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