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Índice mostra como capitais brasileiras lidam com a mobilidade urbana

Série especial da Folha também reúne reportagens sobre sete cidades da lista

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Ciclovia na orla da praia de Iracema, em Fortaleza Rubens Cavallari/Folhapress

São Paulo

O Índice Folha de Mobilidade Urbana surge a partir da necessidade de reunir e consolidar dados que possam servir de base para a produção de reportagens e, consequentemente, de tomada de decisões por parte do poder público.

A proposta é agregar dados que possam permitir observar cidades tão distintas quanto São Paulo e Palmas, por exemplo —a mais e menos populosas capitais brasileiras, respectivamente.

A coleta e a análise de informações tão abrangentes tornam possível identificar, com critérios bem definidos, quais as capitais com maior e menor pontuação no geral e também nos mais diversos quesitos, que vão desde aspectos ambientais até a infraestrutura do transporte público.

Com os dados em mãos, pode-se, por exemplo, ter um indicativo de qual delas tem lidado da melhor forma com a mobilidade ativa, com infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas. Ou ainda aquela com a melhor circulação urbana, um tema que envolve, entre outras coisas, os níveis de congestionamento.

O projeto conta ainda com reportagens em sete das capitais, o que permite não só observar in loco pontos positivos ou negativos sinalizados pelos resultados do índice, mas também identificar aspectos não captados pelos dados.

Esse grupo amostral, bastante heterogêneo, é composto de capitais que aparecem nas duas pontas do índice, com pontuação mais baixa (Porto Velho e São Luís) e mais alta (Aracaju, Fortaleza e São Paulo), e de capitais (Rio de Janeiro e Brasília) cujas características diferem de forma significativa das demais.

O índice, elaborado em parceria com a 99, baseia-se em tese de doutorado apresentada por Marcela da Silva Costa, em 2008, à Escola de Engenharia de São Carlos, da USP. Essa tese levou à criação do Imus (Índice de Mobilidade Urbana Sustentável).

A parceria entre a Folha e a 99 começou com o patrocínio do canal de mobilidade do jornal, com o objetivo de aprofundar a cobertura de mobilidade urbana. Envolveu também o LAB 99 + Folha de Jornalismo, que promoveu treinamento para 30 jornalistas e estudantes.

O índice, desenvolvido ao longo de quase um ano, é o projeto especial que finaliza este ciclo.

O levantamento original, feito por Marcela, contou com nove grandes domínios, que são assuntos gerais a respeito de mobilidade. Cada domínio é correspondente a um conjunto de indicadores capazes de calcular e observar o desempenho de municípios em temas tão diversos quanto gratuidade na tarifa do transporte público e extensão da rede de ciclovias. A pontuação é calculada dentro de um intervalo entre 0 e 1.

Como nem todas as capitais tinham ou disponibilizaram informações em quantidade suficiente para uma avaliação tão detalhada quanto aquela sugerida pela tese, o Índice Folha de Mobilidade Urbana adota cinco desses domínios, agrupando 13 dos 87 indicadores originais. São aqueles com os quais foi possível criar um índice sem gerar grandes distorções. De forma geral, eles são representativos o bastante para desenhar o cenário atual de cada cidade e mostrar quais pontos merecem mais atenção.

O domínio aspectos ambientais, por exemplo, lida com temas como o controle dos impactos no meio ambiente e o uso de recursos naturais, representados por indicadores como o volume de emissões de monóxido de carbono (CO) e o consumo de energia limpa e combustíveis alternativos em cada município. Quanto menos dependente do diesel, por exemplo, melhor.

Essencial para garantir o acesso à mobilidade nas grandes cidades, a infraestrutura de transportes é outro domínio destacado. No índice, ela aparece por meio da densidade e da conectividade da rede viária, que podem ser resumidas como o conjunto de corredores, terminais, estações, pontos, entre outros, e a forma como estão dispostos na cidade. Os municípios mais bem avaliados são aqueles que têm capacidade de ligar diversos bairros entre si de forma eficiente.

Os modos não motorizados também estão representados entre os grandes assuntos. Espaços para pedestres caminharem pela cidade, ciclovias e as ações adotadas para reduzir o tráfego de veículos a motor foram avaliados, com base em informações fornecidas pelas prefeituras. Menor dependência dos carros ajuda a pôr a capital com maior pontuação no índice.

As 27 capitais também aparecem de acordo com o tráfego e a circulação urbana. Acidentes de trânsito em geral, incluindo aqueles que envolvem pedestres e ciclistas, bem como a quantidade de veículos por habitantes, estão presentes neste domínio. De forma geral, quanto menos ocorrências, melhor.

Pesadelo de todo motorista, os congestionamentos também estão contemplados aqui, baseados em cálculo feito pela 99.

Como não poderia faltar, o sistema de transporte urbano é outro item abordado. Quantidade de passageiros, diversidade dos modais, tarifas, descontos e gratuidades são os indicadores avaliados. O equilíbrio entre a demanda e a oferta é algo que traz pontos positivos no ranking.

Professor de engenharia de transportes na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, Antônio Nélson Rodrigues da Silva foi o orientador da tese que deu origem ao índice originalmente, em 2008. Agora, participou de todas as etapas de produção do Índice Folha de Mobilidade Urbana.

Segundo ele, esses indicadores são fundamentais para que as cidades consigam detectar e resolver questões que impedem o desenvolvimento da mobilidade urbana.

Ele compara o índice com o diagnóstico feito por um médico. "Se tem um problema específico e não sabe o que é, você não vai tomar um remédio próprio para aquela doença. Pode tomar qualquer coisa, mas não para aquilo que precisa", explica Rodrigues da Silva.

O professor da USP afirma que, embora não conte com todos os indicadores do trabalho original, o índice atual é útil para avaliar a situação atual das capitais. "Os domínios que não conseguimos preservar seriam importantes, mas paciência. São dados difíceis de se obter. É uma situação aceitável."

Os domínios que não conseguimos preservar seriam importantes, mas paciência. São dados difíceis de se obter. É uma situação aceitável

Antônio Nélson Rodrigues da Silva

Professor de engenharia de transportes na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP

Responsável por consolidar os indicadores coletados pela reportagem, a então graduanda da Escola de Engenharia de São Carlos, hoje engenheira, Leticia Lie Maeda afirma que chamou a atenção o fato de muitas prefeituras não disponibilizarem informações básicas. Parte das capitais não forneceu, por exemplo, nem mesmo mapas detalhados de por onde passam suas linhas de ônibus.

Por falta de dados, ficaram de fora assuntos como acessibilidade, aspectos sociais, aspectos políticos e planejamento integrado, que seriam fundamentais para estabelecer comparativos e aprofundar as análises.

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