Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

Promotoria prende bicheiros e delegados e apura ligação com morte de Marielle no RJ

Operação mirou Ronnie Lessa, acusado de assassinar vereadora, e o contraventor Rogério de Andrade

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Rio de Janeiro

O Ministério Público do Rio de Janeiro deflagrou nesta terça (10) uma operação contra delegados, policiais militares e contraventores acusados de fazer parte de um esquema para proteger uma organização criminosa especializada em jogos de azar.

Entre os alvos estão o policial militar reformado Ronnie Lessa, preso desde março de 2019 e réu pela morte da vereadora Marielle Franco, e Rogério de Andrade, sobrinho de Castor de Andrade, um dos maiores bicheiros cariocas, morto em 1997.

Os promotores apuram se Andrade, que atualmente também é presidente de honra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, tem algum envolvimento no assassinato da vereadora e de seu motorista Anderson Gomes, ocorrido em uma emboscada em março de 2018.

Dinheiro em cima de cama
Agentes do Ministério Público encontraram dinheiro em espécie na casa da delegada Adriana Belém, no Rio de Janeiro; ao todo, houve a apreensão de R$ 1,8 milhão - Reprodução

Segundo a força-tarefa montada para investigar o homicídio, os dois atuavam juntos pelo menos desde 2009 e se reaproximaram no mês seguinte à morte de Marielle. Eles conversaram sobre a abertura de um bingo ilegal na Barra da Tijuca, na zona oeste.

"Desde o primeiro momento que essa equipe assumiu o caso, revisitamos tudo o que foi produzido. É fato notório e público o vínculo entre eles, entre o Ronnie Lessa e o chefe da organização criminosa que figura como 01 dessa denúncia, o Rogério de Andrade", disse o promotor Diogo Erthal.

"Por óbvio, essa é uma das linhas de investigação. Mas, nesse momento, nós não temos elementos para dizer nem que sim, nem que não. Se a resposta fosse sim, nesse momento ele estaria sendo denunciado por outro crime", continuou ele durante entrevista coletiva.

Segundo o promotor Fabiano Cossermelli, também integrante da força-tarefa, o bingo seria o primeiro de outros empreendimentos clandestinos que tinham como objetivo expandir a atuação de Andrade naquela região. Mas o projeto foi interrompido pela prisão de Ronnie Lessa.

A operação desta terça, chamada de Calígula, visou cumprir 24 mandados de prisão preventiva e 119 de busca e apreensão. Eles são referentes a 30 pessoas denunciadas pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Até o início da noite, foram presas 12 pessoas e cumpridos mais dois mandados de prisão contra suspeitos que já estavam detidos por outros crimes, incluindo Lessa. Além disso, foram estourados dois bingos clandestinos, um na Barra da Tijuca e outro no Recreio do Bandeirantes.

Entre os presos estão os delegados Marcos Cipriano, hoje conselheiro da Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Rio de Janeiro), e Adriana Belém, que foi titular da 16ª delegacia da Barra da Tijuca por anos e atualmente era assessora da Secretaria Municipal de Esportes.

Na casa dela, foi encontrado cerca R$ 1,8 milhão em espécie, parte em sacolas da grife Louis Vuitton, que os promotores suspeitam que seja proveniente de lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, ela teria recebido propina em troca de favores a Andrade.

Em uma das ocasiões, o delegado Cipriano teria intermediado um encontro entre Lessa, Belém e seu braço direito, o inspetor Jorge Luiz Camillo Alves, onde foi feito um acordo para "devolver" quase 80 máquinas que haviam sido apreendidas em uma casa de apostas, levadas em caminhões.

De acordo com a Promotoria, esse estabelecimento foi aberto por Andrade e Lessa num local conhecido como Quebra-Mar em 2018, ano da morte de Marielle, e foi fechado pela PM no dia da inauguração. Porém, foi reaberto após o arranjo com os policiais e as máquinas liberadas.

A relação entre os dois é apontada nas denúncias como antiga. Em 2009, o policial militar reformado, que era indicado como um dos seguranças do contraventor, perdeu uma perna num atentado a bomba que explodiu seu carro.

A denúncia sustenta que a organização criminosa supostamente comandada por Rogério e seu filho, Gustavo de Andrade, atuava não só no Rio de Janeiro, mas em vários outros estados, usando a violência contra concorrentes e desafetos e sendo suspeita da prática de diversos homicídios.

A operação também apreendeu ao menos 107 máquinas de caça-níqueis, 17 aparelhos de celular, cinco notebooks, um HD, um pen drive, diversos documentos e chips, além de R$ 48 mil, US$ 2.200, 4.420 pesos argentinos e 70 pesos uruguaios em espécie.

Procurada, a defesa de Rogério de Andrade afirmou por mensagem que "essa operação, além de não deixar demonstrada a necessidade de prisão cautelar do Rogério, reluz claramente uma afronta ao STF [Supremo Tribunal Federal] que acaba de conceder o trancamento de uma ação penal contra ele".

"Isso vem ocorrendo desde juízes como De Sanctis, Marcelo Bretas e Sergio Moro, que tentam burlar as decisões do Supremo! Nesse caso, claramente há um material probatório requentado para impedir o trabalho técnico da defesa", escreveu.

A Folha entrou em contato com a defesa de Ronnie Lessa, mas não recebeu resposta. Os advogados dos delegados Adriana Belém e Marcos Cipriano não foram localizados.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto com base em informação do Ministério Púbico do Rio, a operação Calígula visou cumprir 24 mandados de prisão na terça-feira (10), e não 29, como havia sido informado. O texto foi corrigido.

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