Descrição de chapéu Obituário José Wilson Mendes Gonçalves (1946 - 2022)

Mortes: Pingo de Ouro fez da viola e do irmão Beija-Flor seus eternos companheiros

Músico teve uma carreira de mais de 40 anos de sucesso, sempre tocando música caipira

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São Paulo

A história de José Wilson Mendes Gonçalves poderia se confundir com a de Mirosmar José de Camargo, caso seu pai fosse como o do outro cantor, mostrado no filme famoso.

Pingo de Ouro, assim como Francisco, o pai de Zezé di Camargo, foi um sonhador obstinado pela música caipira. A diferença no seu caso é que ele mesmo se tornaria sucesso nas rádios e palcos do interior do país e não o filho.

José Wilson Mendes Gonçalves, o Pingo de Ouro, cantor sertanejo que morreu no último dia 3 de junho, em Várzea Paulista (SP) - Arquivo pessoal

Na semelhança musical, José Wilson era o mais velho de sete irmãos na roça em Varzelândia (MG). Ali, já pensava em um dia ser cantor. Com a família se mudou para Londrina e lá montou a dupla Pingo de Ouro e Beija-Flor com o irmão Anísio.

O problema é que o parceiro logo desistiu e, em 1977, outro irmão, Romildo, 13 anos mais jovem, se tornou o novo Beija-Flor da dupla, que cantou e tocou modas de viola Brasil afora por mais de 40 anos.

A família mais uma vez mudou de estado e fixou residência em Jundiaí (SP), onde os dois irmãos cantores trabalharam na indústria, até que decidiram viver apenas de música.

No início, cantavam e tocavam em um clube aos sábados e em uma churrascaria aos domingos. Foi o dono do restaurante, aliás, que em 1988 ajudou a tirar do papel o sonho do primeiro disco da dupla, "Gaúcho Velho", e emprestou o Mercedes-Benz da foto da capa do LP.

"Meu pai colocou o disco embaixo do braço e viajou o Brasil batendo na porta de rádios", lembra a psicóloga Elisangela Mendes Gonçalves Momenté, 42, filha mais velha de Pingo de Ouro.

Foi a Rádio Nacional de Brasília, conta ela, que abriu de vez as portas para o sucesso da dupla. A partir dali, os dois irmãos começaram a cantar em festas de peões, festivais e na televisão. Puxaram o modão no programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura, apresentado por Inezita Barroso e Moraes Sarmento.

Nas andanças da vida, Pingo de Ouro e Beija-Flor se apresentaram com sertanejos famosos, como Sérgio Reis, Tonico e Tinoco, João Mineiro e Marciano, entre tantos outros, mais os anônimos que levaram para cima do palco.

De cantores de rádio, os dois viraram apresentadores de programa da madrugada de música sertaneja em Jundiaí. Elisângela, já adolescente, ia junto com o pai para ler os anúncios ao vivo —aliás, ele comprou uma máquina de escrever, quando a menina tinha dez anos, para que datilografasse suas letras.

Até que em 2007 a dupla resolveu encostar viola e violão. Pingo de Ouro até tentou montar outra parceria com o amigo Berito. Mas o esquecimento das letras no meio da música era o alarme de que talvez algo não estivesse bem e o novo projeto não vingou.

Capa de Gaúcho Velho, primeiro disco da dupla Pingo de Ouro e Beija-Flor - Reprodução

O músico passou por um tratamento de câncer e nunca deixou de cantar sertanejo raiz para sua grande família. Mesmo quando o Alzheimer insistia em fazê-lo desafinar.

No velório do Pingo de Ouro, seu irmão Romildo, o Beija-Flor, puxou a roda de viola com outros artistas para tocar "Amargurado", de Tião Carreiro e Pardinho. "Vai com Deus, seja feliz", repetiam, enquanto amigos e fãs se emocionavam com a homenagem.

José Wilson Mendes Gonçalves, o Pingo de Ouro, morreu no último dia 6 em Várzea Paulista (SP). Deixa a mulher Lia, os filhos Elisângela, Elaine e Edenilson, oito netos, 500 letras de músicas, três discos e a lembrança de sua viola chorosa.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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