Veja os bairros de SP campeões de roubo e furto de carros, e os modelos mais levados

Zonas leste e sul têm regiões com maiores números de ocorrências

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São Paulo

As imagens do furto de um Corsa Wind branco, modelo provavelmente anterior a 2001, que circularam em grupos em redes sociais da zona leste da cidade de São Paulo no mês passado refletem bem o mapa deste tipo de crime na capital paulista.

O mais novo boletim econômico Tracker-Fecap, elaborado pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, aponta que o Corsa —que com suas variações de modelos e nomes acabou produzido no Brasil entre 1994 e 2016— , foi o carro mais furtado no primeiro quadrimestre deste ano na capital.

E dos dez bairros com mais casos de furtos de veículos da cidade, nove ficam na zona leste —o décimo colocado nesse ranking de criminalidade é o Ipiranga, na zona sul.

Carros estacionados em rua do Tatuapé, na zona leste de São Paulo; bairro tem o maior número de veículos furtados no primeiro quadrimestre deste ano - Rivaldo Gomes - 6.mai.19/Folhapress

No caso dos roubos, há equilíbrio entre as duas regiões da cidade de São Paulo com cinco casos na zona leste e cinco, na sul. O Hyundai HB20 foi líder nesse tipo de crime.

Em toda a cidade, dados da Secretaria da Segurança Pública apontam que houve uma alta de 3,7% no número de veículos furtados na comparação entre o primeiro quadrimestre deste ano e o mesmo período de 2019, antes da pandemia de Covid-19. No caso dos roubos, a queda foi de 32%. Em todo o estado houve redução nos dois indicadores.

O Corsa Wind encabeça uma lista composta por carros populares atuais e outros mais antigos pelo fato de muitos de seus componentes servirem em todos os modelos fabricados ao longo de sua história.

Assim, alimenta o mercado de autopeças ilegais, segundo Vitor Corrêa, coordenador do grupo Tracker, empresa de rastreamento parceira no estudo, realizado com base em dados de boletins de ocorrência disponibilizados pela polícia.

Os dados da Fecap divergem dos do governo. Segundo a Fundação, 9.519 veículos foram furtados na cidade de São Paulo nos primeiros quatro meses deste ano, contra 12.464 ocorrências divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública. No caso dos roubos, os números são 3.319 e 4.746, respectivamente.

A pasta estadual diz não comentar pesquisas cuja metodologia desconhece. E afirma que é incorreto fazer um ranking apenas com indicadores criminais, sem levar em consideração características geográficas, sazonais e sociais, por exemplo.

O delegado William Wong Alves, titular do 30º Distrito Policial, no Tatuapé, porém, tem em mãos um estudo detalhado que corroboram com o da fundação. O bairro de classe média da zona leste lidera as estatísticas de furtos de veículos na capital, com 269 ocorrências nos primeiros quatro meses de 2022.

Alves assumiu o posto no fim de janeiro deste ano, mas como já trabalhou em outras áreas da 5ª Delegacia Seccional, da qual faz parte deu distrito policial, sabia da alta incidência de furtos de veículos naquela região. Por isso, pediu um estudo detalhado à Coordenadoria de Análise e Planejamento, da própria Secretaria.

Com os dados, afirma, investigadores do 30º DP estão indo a campo com mais informações para coibir esse tipo de crime. Os policiais sabem, por exemplo, que quartas e quintas-feiras são os dias da semana preferidos entre os ladrões e que 99% dos veículos furtados estavam estacionados nas ruas.

Segundo Alves, são poucas as quadrilhas que atuam no Tatuapé. "Quando fazemos a prisão de uma delas, as estatísticas caem drasticamente", afirma o policial, com base nos estudos que tem em mãos.

Ele também sabe que veículos furtados no Tatuapé são desmontados e levados para autopeças nas regiões mais periféricas da cidade e da Grande São Paulo.

As ruas Felisbela Gonçaves, Santa Gertrudes e Francisco Marengo são as com maiores índices de furtos, segundo a polícia. Nessas vias, ou em próximas a elas, existem hospitais, centros de compras, bares e restaurantes. Por isso, há variedade de modelos estacionados.

Mas nem precisariam de muito tempo. A polícia diz que em um minuto é possível furtar um veículo, mesmo os modelos mais tecnológicos.

De acordo com Vitor Corrêa, ladrões trocam o módulo, unidade eletrônica que gerencia o carro. Também contam com aparelhos que cortam o sinal de rastreamento e podem substituir o miolo da chave.

Mercado

Coronel da reserva da Polícia Militar e integrante do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, Alan Fernandes, que comandou batalhão da PM na zona leste quando estava na ativa, afirma que é difícil diminuir o furto de veículos.

Segundo ele, quando a Polícia Civil investe no combate ao comércio ilegal de autopeças, as estatísticas de furtos diminuem.

Para o delegado do 30º DP, a proliferação de veículos de transporte por aplicativo ajuda a inflar a criminalidade. "São carros que rodam muito. É um problema que não existia", afirma, sobre a possível procura por peças de reposição ilícitas por motoristas.

Mas não são apenas os modelos mais baratos que aparecem na lista dos preferidos pelos ladrões. A pesquisa da Fecap aponta uma tendência de alta entre os SUVs, principalmente em casos de roubos.

"Chama a atenção o aumento de ocorrências envolvendo o T-Cross, com alta de 235,29% em um ano [no estado]", afirma o professor Erivaldo Costa Vieira, do Departamento de Pesquisas em Economia do Crime da Fecap, sobre o SUV da Volkswagen, vendido a partir de R$ 110 mil (novo).

Outro lado

A reportagem não conseguiu falar com o 49º Distrito de São Mateus, na zona leste, que lidera o número de roubo de veículos com 114 ocorrências no primeiro quadrimestre.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirma que o número de policiais nas ruas da capital dobrou com a Operação Sufoco, implantada em 4 de maio, e que foi estendida para todo o estado.

A pasta diz que mais de 551 mil veículos foram vistoriados, sendo 20.754 deles apreendidos e 1.256 roubados ou furtados localizados.

Trecho da nota afirma que os furtos de veículos caíram 3,62% na comparação com 2019 no estado, graças ao combate à cadeia econômica em torno da venda irregular de veículos e peças usadas, por meio da Lei dos Desmanches, que já fiscalizou 6.639 estabelecimentos, sendo 241 lacrados desde 2015.

"Somente neste ano, o Departamento Estadual de Investigações Criminais [DEIC] prendeu em flagrante 113 pessoas relacionadas a esta modalidade criminal e apreendeu mais de 16 mil peças automotivas."

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