Após falar em status de secretário para polícias, Tarcísio nega mudança na segurança de SP

Candidato afirma que plano é manter a atual SSP e melhorar a colaboração entre PM e Civil

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São Paulo

Depois de manifestar a intenção de dar status de secretário ao comandante da Polícia Militar e ao chefe da Polícia Civil —numa alteração da estrutura da SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo)—, o candidato ao governo do estado Tarcísio de Freitas (Republicanos), passou a negar a mudança na pasta.

A nova versão foi dada depois de reportagem da Folha publicada nesta quarta (19) mostrar que o modelo aventado por ele, com secretarias separadas para a PM e a Polícia Civil, é o mesmo utilizado no Rio de Janeiro, estado de origem do candidato. Isso levou à extinção da Secretaria da Segurança Pública fluminense em 2019.

O plano de acabar com a pasta em São Paulo é criticado pela maioria dos especialistas na área.

Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, fala com a imprensa - Bruno Santos/Folhapress

"Às vezes você está em um evento e diz: ‘vejo isso com bons olhos, vou analisar’. Não quer dizer que você tomou uma decisão", disse Tarcísio de Freitas em evento na zona norte da capital paulista nesta quarta.

Ele se referia às declarações dadas por ele durante uma visita à Associação dos Delegados de São Paulo, no final de maio. Na ocasião, entrevistado pelo então presidente da entidade, Gustavo Mesquita, Tarcísio afirmou ser favorável à mudança na pasta.

"A gente quer estruturar uma polícia que tenha independência, que consiga exercer seu papel de Polícia Judiciária, de fazer investigações e solucionar crimes. [...] Pretendemos trabalhar com os policiais vocacionados, com bons policiais, colocar a Polícia Civil na mesma estrutura dos outros secretários. Isso vai ser fundamental para que a gente tenha essa independência", disse.

Na sequência, segundo o vídeo gravado no encontro, Mesquita perguntou ao então pré-candidato se ele era favorável à separação da Secretaria da Segurança, dando uma pasta para cada polícia. "Sou favorável e parece fazer muito sentido", disse ele.

Consultada pela Folha na última sexta-feira, a campanha disse que ele mantinha o plano de dar status de secretário aos chefes das duas polícias, para "ter a ligação direta entre o comando e o governador".

"Esta mudança de estrutura será cuidadosamente planejada de modo a tornar a transição possível durante o mandato", ressaltou, por meio de nota.

Horas antes da manifestação do candidato a jornalistas nesta quarta, a assessoria do candidato tinha reafirmado a intenção de dar status de secretário aos policiais, mas sem acabar com a SSP.

"Um eventual status de secretário para os comandos das polícias é uma possibilidade que é bem vista por Tarcísio, caso seja eleito. Essa possibilidade traz o contato direto das polícias com o governador e isso dará a relevância necessária às tomadas de decisão de segurança pública", disse nota da assessoria.

O texto também afirmava que não estava nos planos a criação de novas secretarias para as polícias Militar e Civil. A assessoria não explicou, porém, como Tarcísio poderia dar cargos de secretários aos comandantes sem criar novas pastas ou acabar com o modelo atual.

Na entrevista, posterior, ele mudou a versão em relação aos secretários-policiais. Disse que a intenção, na verdade, é acabar com o escalão intermediário das secretarias-executivas, criadas no governo João Doria (PSDB), para ter uma maior proximidade com o governador.

"Eu preciso do comandante-geral da PM e da direção-geral da Polícia Civil mais próximas do governador. Essa é a ideia. Mantendo a SSP [Segurança], mas com um ambiente de integração, ambiente de colaboração e com maior proximidade com o governo de estado", disse Tarcísio. "O que é necessário é que tenha uma integração entre o comando-geral da Polícia Militar e a diretoria-geral da Polícia Civil", disse ele, se referindo à Delegacia Geral da Polícia Civil de São Paulo.

Policiais militares de São Paulo fazem patrulhamento na capital paulista - Rivaldo Gomes/Folhapress

"Esse é o que eu entendo o melhor modelo. Sendo eleito, vamos desenhar isso com os especialistas em segurança pública. A ideia é manter a SSP e trabalhar numa colaboração: Polícia Civil e Polícia Militar, que é o que vai funcionar. Só vai ter segurança pública de qualidade se você trabalhar com a integração das forças policiais", finalizou em entrevista na zona norte.

Procurado pela Folha, Mesquita chegou, em primeiro momento, a duvidar que Tarcísio de Freitas tivesse negado publicamente a intenção de separar as pastas. "Nós respeitamos se essa não for a intenção dele, se não for, caso não seja... nós respeitamos obviamente, e seguiremos à disposição para trabalhar sempre no sentido de contribuir e, nesse sentido, a gente tem inúmeras propostas."

Ainda segundo o delegado, o objetivo de separar as pastas é fortalecer a Polícia Civil e a PM. "A mudança de secretaria, muito longe de ser uma medida corporativista, é uma maneira que nós enxergamos de fortalecer, dar independência, dar autonomia às instituições, para ambas, sem prejuízo à integração. Isso foi realizado em outros estados com sucesso, a exemplo do Rio de Janeiro", disse.

O sistema atual, ainda segundo o delegado, não funciona corretamente porque há um conflito de atribuições e a PM, por ter uma força maior, acaba dominando o cenário. "A Polícia Civil fica sempre esquecida em segundo plano."

Delegados fluminenses ouvidos pela Folha afirmam que a mudança no Rio vem funcionando bem.

Policiais paulistas ouvidos pela Folha ao longo dos últimos dias davam como certa a mudança na pasta —o assunto era especialmente debatido dentro da Civil.

A Associação dos Delegados soltou uma nota na terça (18) para reafirmar sua defesa da separação e que pediu a mudança tanto para Tarcísio quanto para Fernando Haddad (PT).

"Associação de Delegados de SP defende extinção da SSP e criação de Secretarias autônomas", disse a nota. "Com a Secretaria da Polícia Civil, o delegado-geral da Polícia Civil seria alçado à condição de secretário estadual, não apenas prestigiando o cargo, mas minimizando as ingerências políticas na Instituição".

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