Prefeito de Sorocaba anuncia 'guerra' contra Marcha da Maconha

Ex-usuário de crack e outras drogas, Rodrigo Manga tem enfrentamento à dependência química como bandeira política

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São Paulo

O prefeito de Sorocaba (a 99 km de São Paulo), Rodrigo Manga (Republicanos), anunciou medidas definidas por ele como "de guerra" contra a Marcha da Maconha, marcada para o dia 12 de novembro na cidade.

"Respeitamos a livre manifestação, mas não podemos aceitar uma apologia à liberação e ao uso das drogas", afirmou em entrevista coletiva à imprensa nesta quarta-feira (19).

Bolsonarista, Manga é o responsável pelas políticas contra as drogas da Frente Nacional de Prefeitos e pretende levar as ações anunciadas em Sorocaba para outras cidades do país.

O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (ao centro), durante entrevista coletiva - Divulgação/Prefeitura de Sorocaba

Entre as medidas estão pedidos de liminares contra a realização da marcha. Elas foram protocoladas pela Secretaria Jurídica do município nas varas da Fazenda Pública e da Infância e Juventude.

Outra iniciativa anunciada foi a decisão de negar autorização para o ato, sob a alegação de que no mesmo dia a cidade sediará o Park Rock Festival, no Parque das Águas. Segundo a prefeitura, equipes das secretarias municipais estarão ocupadas no apoio ao evento, principalmente nas áreas de trânsito e segurança.

Em nota divulgada após a declaração de "guerra" pelo prefeito, os organizadores da Marcha da Maconha destacaram que a manifestação é um direito garantido pelo artigo 5º, inciso 26, da Constituição Federal.

"Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente", diz o artigo citado.

O local escolhido para o ponto de encontro da manifestação, marcada para as 16h20 do dia 12, é a praça Frei Baraúna, na região central de Sorocaba.

Como parte de sua mobilização, Manga disse que irá a Brasília articular uma emenda constitucional para vetar manifestações de "apologia às drogas ou a qualquer tipo de ação considerada crime".

Os organizadores da marcha lembram que o STF (Supremo Tribunal Federal) já decidiu, por unanimidade, em 2011, a legalidade do manifesto, não enquadrando o ato no crime de apologia às drogas.

Em seu voto, o relator do caso, então ministro Celso de Mello, afirmou que a livre expressão e o exercício de reunião "são duas das mais importantes liberdades públicas".

De acordo com os organizadores, a Marcha da Maconha busca a discussão sobre a alteração de leis consideradas problemáticas e o estímulo a estudos da maconha que já são realizados em outros países.

"Não somos marginais, não estamos aqui para fazer apologia às drogas. Somos civis buscando evolução no quadro social do país", dizem na nota.

EX-DEPENDENTE

A reação do prefeito de Sorocaba ocorreu depois dele ter recebido um comunicado sobre a realização da Marcha da Maconha. Antes da entrevista coletiva, Manga fez uma live nas redes sociais e disse se sentir de mãos atadas por não poder impedir o ato.

"A maconha é a porta de entrada para todas as outras drogas", afirmou na live. "O que eu puder fazer para impedir que os nossos filhos, os nossos jovens, que qualquer criança se envolva com essa desgraça, eu vou fazer".

Manga é ex-usuário de crack e outras drogas e tem no enfrentamento à dependência química uma das principais bandeiras de sua trajetória política.

Segundo o livro "Prova de Amor – Histórias de Esperança na Luta contra as Drogas", escrito por Felix José Romanos, o prefeito teve problemas com drogas quando era um jovem empresário bem-sucedido no ramo de venda de carros.

"Em um dos seus piores momentos de vida, Rodrigo Manga chegou a perder o equivalente ao valor de 30 veículos para conseguir manter o vício", diz a publicação.

Manga atribui sua recuperação ao apoio que recebeu da igreja evangélica Mundial, onde tornou-se missionário e começou um trabalho de recuperação de dependentes químicos.

Em 2012, aos 32 anos, ele foi eleito vereador e assumiu a Comissão de Dependentes Químicos da Câmara Municipal. Também fundou o CADQ (Centro de Atenção ao Dependente Químico).

Reeleito em 2016, foi presidente da Câmara e em 2020 venceu a disputa para a prefeitura da cidade.

Segundo depoimento gravado em vídeo e publicado na página dele no Facebook, além do crack, Manga usou maconha, LSD, ecstasy e mesclado.

"No meu caso, a recuperação foi através da fé", diz no vídeo. O prefeito afirma que para ele a religião é importante para que não coloque em risco a recuperação.

O político disse que não é contra o uso medicamentoso de substâncias químicas relacionadas à maconha. "Mas usar esse e outros argumentos para justificar um ato a favor das drogas na cidade não tem cabimento. Enquanto Deus permitir e eu for prefeito de Sorocaba, tenho o dever de fazer o que estiver ao meu alcance para lutar contra as drogas", finalizou.

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