Corregedoria vai investigar delegada de caso que envolve Thiago Brennand

Policial compara queixa de casal contra empresário a episódio da Escola Base; Promotoria diz que inquérito tem informações incompletas

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São Paulo

A Corregedoria da Polícia Civil vai instaurar um procedimento administrativo para apurar a conduta da delegada Maria Corsato em uma das investigações envolvem o empresário Thiago Brennand, 42.

Brennand ficou conhecido em setembro após agredir a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia na zona oeste de São Paulo. Desde então, ao menos 15 mulheres o acusaram de supostos crimes sexuais. Em vídeos, ele nega as acusações.

Thiago Brennand se pronuncia sobre acusações em vídeos publicados no YouTube
Thiago Brennand se pronuncia sobre acusações em vídeos publicados no YouTube - YouTube/Reprodução

Após a repercussão, o empresário viajou para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde foi preso em 13 de outubro e solto após pagar fiança. Ele responde a processo de extradição em liberdade.

No caso alvo de sindicância, é Brennand quem acusa uma outra colega da mesma academia e seu noivo de ameaça, difamação e injúria. Isso ocorreu após a mulher, que não teve o nome divulgado, registrar um boletim de ocorrência contra o empresário pelo suposto envio insistente de mensagens para ela.

A mulher conta que bloqueou o contato de Brennand no WhatsApp, mas ele seguiu mandando mensagens pelo aparelho do filho e por SMS. No boletim, ela afirma que Brennand é um homem "extremamente violento, que tem contra si processos por agressão e medidas restritivas de liberdade interpostas por outras vítimas".

Nos autos da manifestação, a delegada Maria Corsato pediu que o juiz mantivesse a apuração em sigilo e comparou a situação com o caso da Escola Base —episódio ocorrido em 1994 em que donos de uma escola e um motorista foram injustamente acusados de pedofilia.

A promotora Marcia Leguth argumentou que o pedido não tem fundamento e que há provas concretas contra Brennand. Ela também criticou a condução do caso pela delegada e afirmou que o inquérito tem lacunas de informação e imprecisões.

Em novembro, a mulher envolvida na discussão apresentou uma petição pelo arquivamento desse inquérito e pela instauração de outro —agora para investigar Brennand por suspeita de injúria, perseguição e denunciação caluniosa.

O Ministério Público ouviu a mulher e concordou com a abertura da nova investigação. Para isso, solicitou a lavratura de um novo boletim de ocorrência por parte da delegada, o que não ocorreu. Para a promotora, houve recusa da policial.

A reportagem conseguiu contato com Maria Corsato, que concordou em explicar seus argumentos e falar da sua atuação. Porém, para conceder entrevista à imprensa, ela precisaria de autorização da 2ª Seccional de Polícia Civil da Capital. A corporação não respondeu a respeito do pedido de entrevista e enviou uma nota em que afirma que o inquérito conduzido por ela foi arquivado pelo juiz a pedido do Ministério Público.

Para a promotora, o caso proposto por Brennand foi instaurado com base em "prova maculada" e há indícios suficientes de eventual "crime de denunciação caluniosa a ser investigado". Um deles é o fato de Brennand ter apagado mensagens dele no diálogo apresentado à polícia contra a mulher e seu noivo.

"Não sabemos o que ali estava escrito e nem o que a suposta vítima [Brennand] foi inquirida a respeito do que ela própria deletou na conversa", diz a promotora.

A Promotoria enviou o caso à Delegacia Geral da Polícia Civil e à Corregedoria da Polícia Civil, solicitando a possibilidade de designar outro delegado para a instauração do inquérito. Foi esse pedido que motivou a decisão do órgão policial de apurar a conduta de Corsato. A medida foi confirmada pela SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo).

A pasta afirma ainda que a investigação sobre suposta injúria, perseguição e denunciação caluniosa solicitada pela mulher contra Brennand foi encaminhada à 2ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas. "A equipe da unidade trabalha para esclarecer os fatos", diz.

Brennand é alvo de cinco denúncias e três pedidos de prisão preventiva pelo Ministério Público de São Paulo. À época do caso de agressão contra Alliny Gomes, sua defesa afirmou que ele compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades e disse que os vídeos mostram que as agressões verbais foram iniciadas pela modelo.

Desde o fim de setembro, Brennand é representado pelo advogado Ricardo Sayeg. A Folha procura o escritório desde então para falar das acusações contra o empresário e recebe como resposta que o advogado não se manifestará a respeito. Nesta segunda (5), a reportagem não conseguiu novamente contato.

Nos últimos meses, Brennand publicou vídeos para falar das investigações. No último, ele xingou promotores e advogados envolvidos, negou os supostos crimes e disse ser alvo de perseguição. Disse ainda que, no Brasil, a maioria das denúncias de assédio sexual é falsa —a tese dele, porém, é refutada por especialistas.

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