Isabel Cristina, assassinada há 40 anos em MG, é beatificada pela Igreja Católica

Morta de forma brutal aos 20 anos de idade, em Juiz de Fora, ela sonhava em ser médica para ajudar famílias carentes

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Ribeirão Preto

Assassinada de forma brutal quando tinha 20 anos, Isabel Cristina Mrad Campos (1962-1982) é oficialmente a nova beata brasileira. A cerimônia em reconhecimento do martírio da jovem foi realizada neste sábado (10) em Barbacena (MG).

Isabel Cristina foi morta há 40 anos, em Juiz de Fora (MG), por um homem que trabalhava na montagem de um guarda-roupas em sua casa e tentou estuprá-la.

Isabel Cristina Mrad Campos foi morta em 1982, aos 20 anos - Paróquia Nossa Senhora da Piedade/Divulgação

Nascida em 29 de julho de 1962 em Barbacena e filha de uma família muito religiosa, ela havia se mudado para Juiz de Fora para fazer cursinho pré-vestibular para tentar cursar medicina numa universidade.

Em 1º de setembro de 1982, o homem contratado para prestar serviços no apartamento em que ela morava com o irmão tentou estuprá-la, mas ela resistiu. Ela teve as roupas rasgadas, foi agredida, amarrada e amordaçada antes de ser morta com 15 facadas.

O autor do crime, Maurilio Almeida de Oliveira, foi condenado a 19 anos de prisão. Cumpriu 13 anos da pena, até fugir. Ele morreu em 2004.

O martírio de Isabel Cristina foi reconhecido pelo papa Francisco em outubro de 2020, mas a pandemia da Covid-19 impediu que a cerimônia fosse realizada antes.

Na solenidade deste sábado, realizada no parque de exposições Senador Bias Fortes, na cidade em que Isabel Cristina nasceu, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida e que presidiu a cerimônia, fez reflexões sobre a morte do corpo, mas não da alma, e disse que a então jovem não teve medo de quem matou seu corpo. O ato foi acompanhado por familiares de Isabel Cristina, como o irmão dela, Paulo Roberto Mrad Campos.

Ele ainda pediu na homilia que o exemplo da agora beata dê coragem às pessoas para aceitarem suas dificuldades e angústias sem temor.

A leitura da carta apostólica, em que o papa Francisco inscreveu Isabel Cristina entre os beatos, foi feita em latim por dom Raymundo e em português pelo monsenhor Danival Milagres, coordenador geral da cerimônia de beatificação. A data para a celebração litúrgica definida foi a de 1º de setembro, a mesma em que ela foi morta, segundo a Arquidiocese de Mariana.

Em 2001, ano em que foi instalado o processo de beatificação, dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006), ex-arcebispo de Mariana, disse em texto publicado na Folha que Isabel Cristina teve formação religiosa desde a infância, quando aprendeu a se dedicar aos pobres.

Discreta, estudou num colégio católico e, além de inteligente, era querida pelos professores, de acordo com ele.

"Não raro, Isabel Cristina ajudava doentes e idosos, dando-lhes, com carinho, alimento na boca [...] Terminado o ensino médio, com apoio dos pais, seguiu para Juiz de Fora. Foi nessa cidade que, após os primeiros meses de estudo, sofreu o assassinato por ter com coragem resistido [...] Ainda hoje, há muitas pessoas que podem testemunhar sobre sua vida e que apresentaram o pedido para que a autoridade eclesiástica examinasse oficialmente suas virtudes e a coragem com que enfrentou o martírio, prova do amor e respeito que dedicava a Deus."

Cerimônia de beatificação de Isabel Cristina neste sábado (10) em Barbacena (MG)
Cerimônia de beatificação de Isabel Cristina neste sábado (10), em Barbacena (MG) - @ArquidiocesedeMariana no Youtube/Reprodução

O processo incluiu depoimentos colhidos pelo Tribunal Eclesiástico nomeado pela arquidiocese, que foram enviados a Roma. "O martírio veio ratificar as atitudes mais profundas de Isabel, que levaram às últimas consequências seu anseio de amar e respeitar a Deus, evitando ofendê-lo", escreveu dom Luciano.

Em sua homilia, segundo o UOL, dom Raymundo disse que a história de Isabel Cristina reforça a necessidade de combater o feminicídio.

"O martírio de Isabel Cristina nos leva também a pedir a Deus a graça de que as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade; que cessem a exploração e os crimes sexuais contra as mulheres; que cesse o feminicídio! Não tenhamos medo de romper as cadeias da violência e da opressão", disse.

Neste domingo (11), no Vaticano, o papa Francisco homenageou Isabel Cristina, dizendo que ela foi morta "em ódio à fé, por ter defendido sua dignidade como mulher e o valor da castidade".

"Que seu heroico exemplo possa estimular em particular os jovens a darem testemunho generoso de sua fé e de sua adesão ao Evangelho. Um aplauso à nova beata", disse o papa.

Também neste domingo, foi celebrada uma missa de ação de graças pela beatificação de Isabel no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, seguida de transladação dos restos mortais da agora beata para a Capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, segundo a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Agora, o próximo passo dentro da Igreja Católica será o pedido de canonização de Isabel Cristina. Há dezenas de relatos de graças supostamente alcançadas por sua intercessão e, se houver a comprovação de algum milagre atribuído a ela, poderá ser declarada santa.

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