Para Honoré de Balzac, dizer que um homem não pode amar a mesma mulher por toda a vida é tão absurdo quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música. E se dependesse do amor de Jonas por sua esposa Leny de Almeida Nascimento, o escritor francês estava certo.
O casal viveu apaixonado ao longo de 76 anos de casamento, e Leny nunca se recuperou da morte de seu marido, aos 102 anos. "Ela não tinha dúvidas sobre a vida após a morte, embora tenha batalhado para viver. Quando partiu, deve ter tido a certeza de que iria se encontrar com seus filhos e seu grande amor, nosso pai", disse a segunda filha, Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP.
Entusiasmada com a leitura de clássicos franceses, Balzac era seu autor favorito, assim como Victor Hugo e Maupassant. Passava horas discutindo literatura com a irmã, enquanto cuidava dos filhos pequenos.
Nascida em Santa Rita dos Coqueiros, Minas Gerais, casou-se aos 17 anos. Além de literatura, gostava de ler e acompanhar os assuntos de política no país. E alimentou esse gosto até 2018, quando se sentiu arrasada com o resultado da eleição presidencial.
Mãe de cinco filhos, perdeu dois precocemente. Nunca os privou da educação, que considerava indispensável. Talvez por isso seus filhos tenham seguido caminhos acadêmicos distintos, nas áreas de filosofia, sociologia e medicina.
Viveram por um tempo em uma fazenda no interior de Minas Gerais, mas depois se mudaram para São Paulo, quando Jonas conseguiu um emprego de engenheiro agrônomo no Instituto de Pesquisa Tecnológico do estado.
Na cidade grande, se sentiu distante da realidade conhecida do campo, onde tinha proximidade com os animais da fazenda e com o jardim, que cuidava com esmero. Também adorava receber convidados com seus famosos jantares de comida típica mineira.
"Ela era uma excelente anfitriã e adorava receber as pessoas em casa, com belas mesas. Ficava muito contente de ser elogiada pela beleza de suas recepções", conta Maria Arminda.
Receber bem, cozinhar, educar, ensinar os filhos a serem o que e quem queriam, sempre com generosidade. Não suportava preconceito e discriminação, que colidiam de frente com os valores aprendidos no colégio de freiras.
A pauta feminista também era fundamental, e Leny defendia a importância de mais mulheres na política. Ela, aliás, costumava acompanhar as parlamentares na TV Câmara.
Sempre muito elegante, nunca deixava de usar seu traço característico, uma camélia de seda ou um broche de flor bem colocados na lapela.
Leny morreu no dia 7 de novembro, aos 96 anos. Deixou três filhos, dez netos e oito bisnetos.
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