Como um bom estudioso do filósofo grego Platão, o professor Alcides Hector Rodriguez Benoit tinha fixação pelo contraditório.
Ideias proferidas por seus alunos, mesmo as mais tresloucadas, eram atenciosamente escutadas por ele.
O prazer da audição só não era maior do que o sentido por Hector, como era conhecido, ao desconstruir ou remodelar preconceitos.
Nascido em 2 de setembro de 1951 em Montevidéu, capital do Uruguai, Hector escolhera nos anos 1970 o Brasil como casa. Apaixonado pela doutrina filosófica grega, ele via o país como terreno fértil para apreensão e compartilhamento de conhecimento.
O pensador graduou-se em filosofia, em 1974, pela USP (Universidade de São Paulo). Lá, dedicou-se especialmente a estudar a dialética das obras platônicas.
Em 1982, defendeu, pela mesma universidade, seu mestrado em filosofia e, em 1990, seu doutorado. A tese deste último era o caráter esotérico da dialética de Platão.
Na filosofia, esoterismo se refere à linha pedagógica segundo a qual certos conhecimentos não devem ser vulgarizados ou democratizados, mas comunicados apenas a um pequeno número de iniciados.
Anos antes, em 1979, havia ingressado como docente no curso de filosofia da USP de Ribeirão Preto. Ficou na cidade até 1990, mas nunca mais deixou o interior paulista. Naquele mesmo ano, começou a ministrar aulas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), de onde se aposentou em 2015.
Aposentado, continuou atuando como professor colaborador no programa de pós-graduação em filosofia da instituição. Sua obra foi homenageada no livro "A Tradição Dialética na Obra de Hector Benoit – Diálogos e Testemunho" (Annablume, 2018), organizado por ex-orientandos.
Hector era um professor dedicado. Claro e compreensivo, adorava repetir, com entonação carregada de exagero proposital, frases de autoria de grandes filósofos, característica que rendia vários momentos cômicos durante suas aulas.
O cinema também o cativava. Ele inclusive pensara em estudar a sétima arte antes de ingressar no curso de filosofia. Hector podia citar todos os vencedores do Oscar de melhor filme sem titubear, apesar de serem os roteiros suas grandes paixões.
Militante político desde a juventude na cisplatina, o professor nunca abandonou as convicções revolucionárias trotskistas. Além disso, foi estudioso de Marx e da experiência soviética.
Alcides Hector Rodriguez Benoit morreu em 5 de dezembro de 2022, aos 71 anos. Ele deixa filhos e netos. A causa da morte não foi divulgada pela família.
Andreia Galvão, diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da USP, lamentou a morte do colega e o descreveu como uma grande inspiração para a comunidade acadêmica.
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