Descrição de chapéu Obituário Adriana Dias (1970 - 2023)

Mortes: Foi referência na pesquisa sobre células neonazistas no Brasil

Adriana Dias colaborou no grupo de transição do governo Lula e foi ativista pelos direitos humanos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Intelectual em estado de alerta." É assim que a antropóloga Debora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília), define a amiga Adriana Dias, referência na pesquisa sobre células neonazistas no Brasil. "Foi uma mulher valente: para a vida e para as ideias."

A historiadora foi a responsável, por exemplo, por um monitoramento que apontou que o número de células neonazistas no Brasil saltou de 75 para 530 de 2015 a 2021. Ela também encontrou uma carta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicada em um site neonazista em 2004.

"Ela fez de seu corpo a matéria de sobrevivência e de política: uma ativista feminista contra o capacitismo e patriarcado; uma mulher judia que alertou sobre a emergência do neonazismo no Brasil antes mesmo de o fenômeno parecer realidade", acrescenta Diniz.

A historiadora Adriana Dias durante audiência pública sobre o aborto no STF, em 2018
A historiadora Adriana Dias durante audiência pública sobre o aborto no STF, em 2018 - @congregacaobethelsp no Instagram

Adriana, que sofria com a Síndrome dos Ossos de Vidro, também foi referência na luta pelas pessoas com deficiência, atuava por pautas feministas e coordenou a Associação Vida e Justiça de Apoio às Vítimas da Covid-19.

Nas palavras de amigos, a partida dela será sentida por todo o país.

"Ela passou por dezenas de internações, cirurgias, mas o bom humor da Adriana é algo que eu nunca vou esquecer", diz a deputada estadual Andrea Werner (PSB-SP).

Quando a visitou no hospital, a congressista relata que pediu desculpas por não ter ido antes e perguntou se ela a perdoaria. Já com muita dor e com os olhos fechados, Adriana fez que "não" com a cabeça. "Ela tentou dar leveza até nesse momento difícil e pesado. Foi uma pessoa brilhante."

A morte da historiadora, que colaborou durante o governo de transição do presidente Lula (PT), foi lamentada pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Em nota, ele escreveu que Adriana foi uma mulher com deficiência de referência "para nós e nos estudos sobre neonazismo". "Expressamos aqui nossa homenagem em agradecimento a essa grande mulher, e enviamos nossos sentimentos à família."

A historiadora era casada com Marcelo Higa, com quem tinha uma relação de parceria e amor única, segundo Andrea.

Entre as suas paixões, estavam duas cachorrinhas adotadas, Ju e Bel, que foram levadas ao hospital para ficar perto dela. A historiadora as chamava de filhas. "São minhas paixõezinhas, paixão da mamãe", brincou ela durante uma entrevista à Folha, em novembro de 2022.

Adriana morreu, neste domingo (29), em decorrência de um câncer no cérebro, que descobriu no fim do ano passado. Ela deixa o marido, as cachorrinhas, amigos e admiradores.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.