Descrição de chapéu Alalaô

Menos blocos e preços em alta desafiam retomada do Carnaval em SP

Projeção de arrecadação na folia deste ano fica abaixo do registrado em 2020; organizadores alegam falta de diálogo com prefeitura, que nega

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São Paulo

O Carnaval deste ano na cidade de São Paulo deve ser menor do que a festa de três anos atrás, encerrada quase um mês antes de ser decretada a pandemia de Covid-19 no país, em março de 2020. De lá para cá, foram dois anos sem programação oficial, e o tamanho da tão esperada retomada da folia pode frustrar.

Apesar de a programação de blocos de Carnaval e desfiles das escolas de samba ocorrer em uma situação epidemiológica mais favorável, a cidade terá 20% menos cortejos que em 2020. Neste ano, com a repescagem de atrações como o Tarado Ni Você, a serão cerca de 520 blocos confirmados.

Foliãs acompanham bloco na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo
Blocos de Carnaval em São Paulo estão 20% menor do que em 2020 - Bruno Santos - 5.fev.23/Folhapress

Outro indício de encolhimento é a queda na projeção da movimentação financeira esperada para os dias de festa. De acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a festa deve gerar R$ 2,9 bilhões, valor ligeiramente menor do que o calculado em relação a 2020, quando o Carnaval paulistano mobilizou R$ 3,1 bilhões —os valores foram corrigidos pela inflação.

Em comparação com 2022, quando a folia ainda foi atípica, a movimentação financeira esperada para 2023 é 27% maior. No ano passado, a alta de casos de Covid-19 registrada em janeiro impediu a programação oficial. Na ocasião, a cidade movimentou cerca de R$ 2,3 bilhões com os dias de festa.

Por outro lado, a arrecadação de patrocínio pela administração municipal, que garante as despesas de montagem da estrutura, como banheiros químicos e gradis de segurança, está maior. Foram R$ 25,6 milhões ante R$ 21,9 milhões em 2020.

Sem informar números, a SPTuris, empresa da prefeitura responsável por organizar o Carnaval no Sambódromo, afirmou apenas que a expectativa para este ano é de que os valores, ao menos, se equiparem ao registrado em 2020, quando a cidade movimentou R$ 2,7 bilhões.

"A SPTuris esclarece que não trabalha com a expectativa de crescimento, considerando haver um lapso de três anos desde o último Carnaval de rua, que pode ter mudado hábitos de consumo, além de estarmos convivendo com a Covid", informou em nota.

Organizadores de blocos são unânimes em avaliar que o Carnaval está mais caro neste ano. Os custos de aluguel de equipamentos, equipes de segurança e trios elétricos foram impactados pela alta da inflação assim como os demais setores da economia. Os desfiles estão cerca de 30% acima do praticado há três anos, calculam integrantes dos cortejos.

Além disso, a captação de recursos sofreu entraves devido ao calendário deste ano, que cai na terceira semana de fevereiro, mais cedo que em 2020, quando a folia caiu no início de março.

Com isso, as verbas de patrocínio tiveram que ser negociadas com mais antecedência. Alguns produtores só vão receber os valores após os desfiles, o que exigiu uma reserva financeira de que nem todos os blocos dispõem.

Uma das principais marcas patrocinadoras do Carnaval de São Paulo, a cerveja Amstel fechou menos contratos de parceria com blocos e festas fechadas neste ano em comparação com 2020. Mesmo assim, para a gerente de marketing da marca, Anna Luisa Dafico, existe uma expectativa em torno da retomada do Carnaval em 2023. "Será um momento de reencontro e celebração", diz.

Em carta aberta divulgada na terça-feira (7), representantes de blocos deram outra explicação para o encolhimento do Carnaval de rua de São Paulo. Segundo o coletivo, houve "falta de encontro e diálogo real com a prefeitura e falta de antecedência no planejamento da festa". A lista oficial dos blocos aprovados com os respectivos trajetos foi divulgada pela secretaria de Cultura na última quinta-feira (2).

Os representantes relatam que participaram de 25 reuniões com as subprefeituras e, mesmo assim, "não foram explicados pontos básicos sobre trajetos, localização de banheiros, fechamento de rua, serviços de saúde e gestão de resíduos [...], e sobraram falas de ameaças, de decisões autoritárias e de mão única sobre horários e trajetos".

A secretaria de Cultura afirma que o diálogo com os organizadores tem sido diário para "estruturar cada cortejo adequadamente ao trajeto, bem como horários e datas solicitados".

"Devido à complexidade do evento e ao fato de que ainda estão sendo feitas alterações, como cancelamentos e mudanças nos trajetos, muitos dados não puderam ser divulgados até o momento", informou a pasta, que afirma trabalhar com outras secretarias e com a Polícia Militar para "proporcionar a melhor festa para todos".

Bares e restaurantes pedem agilidade na dispersão

O setor de bares e restaurantes em São Paulo pediu à prefeitura agilidade na dispersão dos blocos, principalmente, nas regiões da cidade em que ruas são fechadas para o cortejo. "Isso impede os clientes de chegar aos restaurantes, o que atrapalha o atendimento", diz Percival Maricato, diretor institucional da Abrasel-SP (Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo).

Enquanto alguns donos de estabelecimentos admitem prejuízo nesta época do ano, quando a clientela mais endinheirada sai da cidade para passar os dias de feriado na praia ou no campo, outros faturam alto com a folia.

Nesse grupo, estão os donos de bares que ficam na rota dos blocos de Carnaval e organizam eventos fechados cobrando entrada dos clientes.

A rede hoteleira espera que a ocupação fique em 55% com média diária de R$ 315, valor 20% maior do que o registrado em 2020 durante o Carnaval.

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