Descrição de chapéu Obituário Cilene Pereira (1965 - 2023)

Mortes: Jornalista, era referência na cobertura de saúde

Cilene Pereira foi protagonista de campanha para incentivar doação de órgãos

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São Paulo

"Eu sou Cilene Pereira que assina a reportagem sobre a importância de doar órgãos e a Cilene Pereira que aparece no início do texto, na lista de transplantados..."

Assim começava um artigo de uma jornalista pioneira na cobertura de saúde e que se tornaria referência no país publicado na revista IstoÉ, onde foi editora, mesmo cargo que ocupava atualmente na Veja, depois de passar por Jornal do Brasil, O Globo, O Estado de S. Paulo e Jeffrey Group.

"Cilene teve um papel marcante dentro do espaço da saúde como jornalista e também como pessoa", afirma Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Albert Einstein, onde ela foi assessora de imprensa durante a pandemia e também participou da criação da Agência Einstein, voltada a notícias de saúde.

Jornalista Cilene Pereira, que virou ativista da campanha #JUNTOS pela doação de órgãos
Jornalista Cilene Pereira, que virou ativista da campanha #JUNTOS pela doação de órgãos - Lincoln Chessa/divulgação

"Ela fez um trabalho espetacular no Einstein, um jornalismo científico sério, embasado na verdade, com fontes confiáveis", ressalta o pesquisador Luiz Vicente Rizzo.

"Uma pessoa excepcional, apaixonada na medida certa e que fará falta em um ambiente que precisa de uma cultura de divulgação clara, honesta e objetiva."

Assim era Cilene Pereira: discreta, competente e empenhada em destrinchar relatórios científicos, traduzir a linguagem médica para o leitor comum e ampliar o espaço do tema na mídia. Sempre com um sorriso no rosto e a seriedade profissional que lhe garantiram reconhecimentos como figurar entre as Jornalistas mais Admiradas no país.

Diagnosticada com uma doença degenerativa rara, a Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), ela se tornou paciente e ativista.

A doença genética de Cilene instigou o cardiologista Bruno Kerges a investigar a origem das variações da pressão arterial na paciente. O vínculo desaguou em um doutorado e o levou a desenvolver pesquisa no Instituto do Coração, onde mais de 250 casos já foram avaliados.

Em 2017, Cilene passou por um transplante para controle da doença. "Doe órgãos. Eu recebi um fígado e sou grata a este ato de amor de uma família que há, exatos três anos, perdia um ente querido", escreveu ela em setembro de 2020, ao se tornar uma das protagonistas da campanha #Juntos, para estimular a doação.

"Os cirurgiões retiraram meu fígado e o entregaram para os colegas do Hospital das Clínicas. Naquela noite, duas pessoas ganharam uma chance de seguir com a vida."

Sua foto na campanha transmite força, doçura, resiliência, qualidades que a acompanharam ao longo de oito anos de tratamento.

Na imagem em preto e branco estão o semblante calmo e alegre, a cicatriz extensa que corta seu corpo delicado, os braços firmes que a abraçaram nessa caminhada.

Na jornada, ela ainda teve a generosidade de compartilhar o processo de ver nascer a nova identidade de gênero de um filho trans. "Viva o Niki e viva todos aqueles que, como ele, têm o direito humano, social e legal de serem quem são", escreveu a mãe orgulhosa de Nicolas, 21, Cecília, 25, e Catarina, 16.

Na última terça-feira (7), Cilene teve um AVC hemorrágico. A confirmação da morte cerebral veio na manhã desta segunda-feira (13), quando começaram os protocolos para doação de órgãos.

Um último ato com o qual ela se despediu da vida aos 57 anos. Esta era Cilene Pereira, jornalista, transplantada e doadora, mãe, mulher de Itamar Ciochetti e amiga.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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Erramos: o texto foi alterado

Cilene Pereira sofreu um AVC hemorrágico na terça-feira (7), não na quarta (8), como publicado em versão anterior deste texto.

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