Pela 1ª vez em cinco anos, Cantareira termina janeiro com mais de 50% de água

Especialista diz que volume é boa notícia, mas avalia que quadro deveria estar melhor

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São Paulo

O Cantareira, maior produtor de água da região metropolitana de São Paulo, terminou janeiro operando com 51,9% de sua capacidade. Esta é a primeira vez, desde 2018, que o sistema finaliza o mês acima dos 50% de capacidade.

O sistema é formado pelos reservatórios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro e é responsável pelo abastecimento de grande parte de São Paulo.

Em 2022, o Cantareira fechou janeiro com 33,6% da capacidade. Em 2021, ficou em 42,6%; em 2020, em 45,7%; em 2019, em 43,3%; em 2018, em 50%; e, em 2017, em 60%.

Represa Atibainha, em Nazaré Paulista (SP), faz parte do sistema Cantareira - Rubens Cavallari - 23.nov.2022/Folhapress

Antonio Carlos Zuffo, professor associado de hidrologia e gestão dos recursos hídricos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que o aumento do volume é uma boa notícia, mas que o resultado deveria estar melhor.

"Se a gente pegar outubro, novembro e dezembro, são três meses de chuva, mas o aumento do reservatório foi em torno de 10%. É muito baixo se a gente considerar que metade do período chuvoso já passou", afirma.

Em janeiro, segundo o professor, a recuperação do reservatório foi de apenas 8,3%, ainda abaixo dos 8,84% registrados em dezembro de 2022.

"Ainda assim fechamos em 51,9%, mas, se a gente pegar de outubro de 2022 a janeiro de 2023, em quatro meses a recuperação do sistema foi de 20%. É uma recuperação tímida ainda. Nesse período de chuva tem de subir mesmo e é bom que suba bem mais do que isso porque, em geral, quando entramos no período seco, ficamos de cinco a seis meses com [volume de] chuvas bem abaixo, que não vai produzir nenhuma recuperação no sistema."

De acordo com o professor, a influência do fenômeno La Niña (esfriamento das águas do Pacífico) atrasou o período chuvoso, que deveria ter começado entre o final de setembro e o começo de outubro.

"Quando tem o La Niña, o período chuvoso começa entre novembro e dezembro, ou seja, diminui em cerca de dois meses o período chuvoso e aumenta em dois meses o período seco. Isso não ajuda o reservatório."

No período seco, que costuma começar em meados de abril, cerca de 30% a 35% do volume armazenado no reservatório será consumido, segundo Zuffo. A esperança, ele diz, é que continue chovendo dentro da média até março.

"Se chover na média, podemos atingir uns 60%, 65% da capacidade, que é uma situação mais confortável para chegar até o próximo período úmido, em outubro", diz.

O final deste ano deve trazer um pouco de alívio, uma vez que, segundo o professor, estaremos sob influência do El Niño, que antecipa o período úmido.

"Quando vem o El Niño, e no final do ano vai ocorrer, ele inverte a situação, chove mais do que a média. A gente não sabe quanto a mais, mas ele antecipa o início da chuva. Em vez de começar no final de setembro, começo de outubro, começa em agosto. Tem um mês a mais de chuva e um a menos de seca."

Em nota, a Sabesp diz que as chuvas beneficiaram os reservatórios, mas ressalta a importância do uso consciente da água.

"Como a temporada de chuvas se estende até março, o cenário indica a possibilidade de elevação ainda maior no nível dos reservatórios até o início do período de estiagem. A Companhia, no entanto, destaca a importância do uso consciente da água pela população durante todo o ano, sempre evitando o desperdício", afirma a Sabesp.

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