Se despejada, Cultura pode dar lugar a outra livraria em SP

Proprietário pede na Justiça a desocupação do imóvel no Conjunto Nacional

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A loja da Livraria Cultura na avenida Paulista poderá ser ocupada por outra rede livreira, caso seja efetivado o despejo da inquilina que está no imóvel desde os anos 2000 e que foi responsável por fazer do local um ponto turístico de São Paulo. A notícia da decretação de falência da Cultura, suspensa por decisão judicial provisória, provoca preocupação entre frequentadores. Alguns lamentam a possibilidade de que o espaço possa se tornar um novo vazio urbano na cidade.

Caso a concorrente desocupe o salão no Conjunto Nacional, porém, há ao menos uma candidata a manter uma atividade do mesmo ramo no local. A Livraria Leitura tem interesse em instalar ali a sua primeira megaloja na capital paulista, segundo Marcus Teles, presidente da rede que possui 99 unidades no país e que vem apresentando crescimento nos últimos anos com um modelo de negócio baseado mais em vendas em lojas físicas do que na internet.

Entrada da Livraria Cultura no interior do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo
Entrada da Livraria Cultura no interior do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo - Zanone Fraissat - 10.fev.2023/Folhapress

Teles, que também é presidente da Associação Nacional de Livrarias, afirmou, no entanto, não ter feito proposta de locação. "Não procuramos os donos ainda porque estamos esperando uma definição", disse nesta terça-feira (14) à Folha. "A gente, como livreiro, gostaria muito que a Cultura se recuperasse, apesar da situação, que não é boa", comentou.

A eventual nova megalivraria do Conjunto Nacional dificilmente ocuparia todo o espaço utilizado pela Cultura. Teles avalia que, para ser viável, o imóvel de aproximadamente 4.000 metros quadrados precisaria ser dividido com restaurantes, cafés e outras empresas preferencialmente do segmento gastronômico. No caso da Leitura, não há interesse em explorar mais do que a metade da loja. "Ainda assim, seria a maior livraria da cidade de São Paulo. Seria uma livraria maravilhosa", comentou.

A manutenção de um estabelecimento livreira conta com a simpatia de Wilton Figueiredo, sócio da Bombonieres Ribeirão Preto, grupo empresarial proprietário da sala, segundo uma pessoa que acompanha a discussão. Ela também diz que uma empresa do setor manifestou interesse em se instalar no local. Propostas de companhias de outros segmentos, com superior ao contrato estabelecido com a Cultura, chegaram a ser recusadas em outras oportunidades, disse.

A Folha noticiou nesta segunda-feira (13) que a Bombonieres Ribeirão Preto considera irreversível a sua decisão de despejar a Cultura. O locador afirmou, por meio do escritório de advocacia que o representa, que aguarda apenas a execução da sentença de despejo e que não há chance de renegociação da dívida que supera R$ 20 milhões referentes a aluguel, condomínio e IPTU que deixaram de ser pagos nos últimos anos.

Sérgio Herz, presidente da Cultura, negou que o diálogo com o proprietário tenha chegado ao fim. Ele disse à reportagem que o débito relatado pelo representante do locador foi acumulado no período em que a pandemia impôs restrições severas ao funcionamento da loja, mas, neste momento, a unidade é financeiramente sustentável e um acordo seria benéfico aos dois lados.

"Pretendemos chegar a um acordo com relação a esses valores, e a negociação, no âmbito judicial, é importante para os dois lados e faz parte do processo", disse Herz.

A livraria, cuja unidade no Conjunto Nacional enfrenta desde o final de 2018 por um processo de recuperação judicial e se mantém funcionando graças a uma liminar que suspendeu, no mês passado, um decreto de falência da empresa.

No Conjunto Nacional desde 1969, a Cultura instalou em meados dos anos 2000 a sua megaloja no salão ladeado por rampas que dão acesso ao mezanino de onde é possível ter uma vista quase completa das estantes e bancas de livros distribuídas pela loja.

Antes, a sala abrigava o Cine Astor, que era operado pela Bombonieres Ribeirão Preto. O piso central inclinado do atual saguão da livraria era o local onde ficavam as poltronas do cinema.

Além da livraria, a Cultura também administra no local o Teatro Eva Herz, que também faz parte do contrato de locação e, em caso de concretização do despejo, também deixaria de funcionar no local.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.