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Dialogar sobre conteúdos online com filhos é mais eficaz do que restringir acesso a internet

Especialistas recomendam que pais conversem para criar uma relação de confiança com as crianças

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São Paulo

Mais do que restringir, conversar e estabelecer uma relação de confiança. Essa é a opinião dos especialistas quando o assunto é acompanhar o que crianças e adolescentes fazem na internet.

De acordo com pesquisadores consultados pela Folha, dialogar sobre os conteúdos e participar da vida online dos filhos são medidas muito mais efetivas do que a restrição e a hipervigilância.

"Em algumas situações, as medidas restritivas precisam acontecer. Mas a restrição não é o melhor caminho porque diminui o risco, mas também a oportunidade que esse ambiente cria de socialização e contato com conteúdos", diz Luísa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil.

Ilustração mostra crianças brincando em frente ao logo do Twitter
Ilustração mostra crianças brincando em frente ao logo do Twitter - Dado Ruvic/Reuters

A última edição do estudo, que investiga como crianças e adolescentes de 9 a 17 anos utilizam a internet, indica que 6% dos pais não têm nenhum conhecimento das atividades dos filhos na rede. Na faixa de 15 a 17 anos, o desconhecimento é ainda maior: segundo os adolescentes, 36% dos responsáveis sabem muito, 53% sabem mais ou menos e 11% não sabem nada sobre o que estão fazendo no ambiente virtual.

"Os limites de monitoramento devem levar em consideração que os filhos são indivíduos e têm direito à privacidade, por isso mesmo é preciso construir conjuntamente como essas ações serão feitas. A hipervigilância, mais do que ajudar, tende a atrapalhar o acompanhamento das atividades online e dificultar ações que possam evitar algum dano", afirma Georgia da Cruz Pereira, professora da Universidade Federal do Ceará.

Para iniciar a conversa, é necessário relativizar o conceito de nativos digitais, segundo o qual os mais jovens têm naturalmente maior facilidade com a tecnologia. Não é porque a criança sabe escolher vídeos no YouTube, por exemplo, que ela tem capacidade de identificar se o conteúdo é próprio para sua idade.

Também é fundamental conhecer a natureza da rede social que os jovens estão usando. Segundo o psicólogo e sociólogo Francis Moraes de Almeida, da Universidade Federal de Santa Maria, as plataformas não se preocupam em seguir o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ou em definir uma classificação indicativa por faixa etária.

Karen Borges, advogada especialista em direito digital e proteção de dados no NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) concorda. "Não dá para confiar só nas plataformas, deixar a critério delas. Quem vai poder avaliar se o filho tem maturidade para aquele conteúdo são os pais. Por mais que a plataforma julgue que o conteúdo é correto para a idade, o acompanhamento dos pais é primordial".

A partir do acompanhamento e das conversas, os pais devem buscar entender a relação da criança ou adolescente com a rede. Ele apenas consome ou também produz conteúdo? Tem o sonho de ser influenciador digital? As respostas alteram os cuidados.

Quando a criança ou adolescente posta –e principalmente quando faz isso almejando grande sucesso– convive com a frustração de ter publicações com pouco alcance e um número reduzido de curtidas. Além disso, está exposto a comentários sem filtros, que podem ocasionar sofrimento psíquico.

Almeida recomenda que o espaço para críticas fique fechado e que os pais chequem se os filhos apagam os conteúdos que não atingem o sucesso esperado. "A busca por aceitação talvez seja um dos maiores perigos", diz o pesquisador, ressaltando que a rejeição online pode ter impacto na autoimagem.

Ainda nesse sentido, é fundamental que os jovens entendam que o sucesso daquilo que produzem não está diretamente relacionado à qualidade. É válido ensiná-los que as plataformas são empresas e há uma lógica comercial por trás dos algoritmos que ajudam fotos e vídeos a alcançar sucesso. Esse é um passo para que compreendam que não devem postar conteúdo sensível em busca de audiência.

Falar da questão econômica também abre caminho para explicar que perfis não são como cadernos. Eles não são próprios, pertencem às redes, que têm interesses diferentes do usuário.

"Esses espaços não foram projetados pensando nas crianças e adolescentes como seus utilizadores, então ainda faltam mecanismos que potencializem as oportunidades e reduzam os riscos", diz Georgia Pereira.

Outro aspecto relevante é observar o tempo gasto com cada rede social. Passar todo o tempo livre na plataforma dificulta o exercício de outras formas de sociabilidade importantes para o desenvolvimento.

Geralmente, com crianças esse trabalho ocorre sem embates. Já no caso dos adolescentes, o processo pode requerer exercícios que promovam a autorreflexão. "O responsável pode questionar: ‘Está fazendo bem para você? Você não está deixando de fazer coisas que poderiam ser mais legais’", orienta Almeida.

Os especialistas recomendam ainda observar com atenção mudanças de comportamento. Atitudes como fechar as abas, bloquear o equipamento e ficar nervoso quando alguém se aproxima podem indicar que há algo errado. Piora no desempenho escolar, afastamento dos amigos e aumento do tempo de tela também podem ser indícios de contato com conteúdo sensível.

"Você não deixa seu filho andar pela rua sozinho e sair falando com pessoas estranhas. Na internet não deve ser diferente", diz Karen Borges.

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