Descrição de chapéu Obituário José Antônio de Andrade (1938 - 2023)

Mortes: Motorista de ônibus, Zé Correia rodou o país com sua poesia de cordel

Depois de aposentado, José Antônio de Andrade publicou um livro e recitou seus versos em espaços culturais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Motorista de ônibus por décadas, José Antônio de Andrade era conhecido como Zé Correia, por causa do pai, Antônio Correia. Assim era chamado pelos integrantes do sarau Elo da Corrente, em Pirituba, na zona norte de São Paulo, bairro em que morou nos últimos 51 anos e onde apresentou seus versos.

Zé Correia se dedicou à cultura após a aposentadoria. Gostava de fazer poesias no estilo de cordel, inspiradas no sertão da Bahia, onde nasceu. "Era a distração dele participar das apresentações no sarau", diz a filha mais velha, Maria do Socorro, 54.

Além dos saraus, foi convidado para se apresentar nos CEUS (Centro Educacionais Unificados) de São Paulo e em escolas municipais e estaduais.

José Antônio de Andrade (1938 - 2023)
José Antônio de Andrade (1938 - 2023) - Arquivo pessoal

Apesar de ter estudado só até a quarta série do primário (atual terceiro ano do ensino fundamental), Zé Correia aproveitou o tempo livre para pesquisar literatura de cordel. Em 1999, publicou o livro "O Destino de Muitos", uma autobiografia, pela editora Scortecci. Além disso, participou de outros livros sobre cordel. Seu trabalho na área rendeu convites: conheceu várias cidades no interior de São Paulo, viajou para Salvador, Rio de Janeiro e se apresentou também em Buenos Aires, na Argentina, em 2011.

A trajetória cultural foi uma virada, após uma vida atrás do volante para garantir o sustento da família.

Nascido em Macururé, no nordeste semiárido da Bahia, Zé Correia morava com os pais e 12 irmãos. Aos 9 anos, a mãe morreu de uma doença desconhecida, coube ao pai criar os filhos.

Na adolescência, precisou ajudar em casa. Trabalhou em garimpo, fazenda, como boiadeiro, e na construção de barragens. Viveu no sertão da Bahia até os 23 anos, quando mudou-se para São Paulo.

Seu primeiro emprego foi como ajudante de caminhão. No retorno de uma viagem para São Paulo, conheceu a mulher, Theodora Ferreira Andrade, companheira até o fim de seus dias, com quem teve três filhos.

"Nós gostávamos de saber que ele era reconhecido pelos poemas, se tornou uma referência. Era uma pessoa simples, nunca perdeu o sotaque baiano. Além de ser muito sábio nos conselhos que dava aos filhos", diz Maria do Socorro.

Zé Correia também gostava de música. Comprou um violão, mas só arranhava. Não aprendeu a tocar.

Morreu em casa no dia 10 de abril, em decorrência de câncer de próstata, cercado pela família. Tinha 84 anos. Deixa a mulher, filhos, netos e bisnetos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.