Descrição de chapéu Obituário Carlos Alberto Bello e Silva (1962 - 2023)

Mortes: Professor de sociologia, inspirou gerações de alunos

Apaixonado pela universidade, Carlos Alberto Bello e Silva deu aulas até cerca de uma semana antes de sua morte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Entre seus alunos e colegas, o professor Carlos Alberto Bello e Silva deixava a impressão de que, numa conversa com ele, era necessário discutir tudo com profundidade.

Ao longo de décadas, ele participou de mobilizações em defesa da universidade pública e marcou gerações de estudantes, servidores e professores num período em que a expansão universitária no Brasil tornava o debate inevitável dentro das próprias instituições de ensino.

Conhecido como Bello ou Carlão pela maioria dos colegas, fez parte da primeira turma de professores da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Os anos seguintes à inauguração do curso de ciências sociais foram de intenso debate sobre o apoio institucional aos cursos da escola, as políticas de permanência para os alunos do campus de Guarulhos e o papel dos professores. Bello tinha uma das vozes mais marcantes nesses debates e, segundo amigos, também sabia escutar.

Homem com camisa branca põe a mão no queixo e olha compenetrado em sala de aula
Carlos Alberto Bello e Silva (1962 - 2023) - Leitor

Aos 13 anos, já sabia que queria estudar economia na USP, e assim o fez anos mais tarde. Dali seguiu para um mestrado na PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e, depois, para um doutorado novamente na USP. Fez parte dos quadros de docentes da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo antes de migrar para a Unifesp.

No esporte, compartilhou com o pai a paixão pelo tênis. Era fanático a ponto de ir ao outro lado do mundo para assistir ao Australian Open durante um período de férias. Queria ver a vitória do ídolo Roger Federer ao vivo, mas errou o ano. O suíço foi campeão no ano seguinte, em 2017.

Nascido e criado na capital paulista, era também um torcedor intransigente do Santos —era um dos poucos assuntos que não aceitava debater, afinal era indiscutível que era o maior clube de todos os tempos. Sua memória enciclopédica continha a escalação de times e seleções que jogaram antes mesmo de ele nascer.

Bello fez parte de todas as diretorias da Adunifesp (Associação dos Docentes da Unifesp) entre 2009 e 2019.

Apaixonado pela universidade, deu aulas até cerca de uma semana antes de sua morte, mesmo já debilitado por um câncer no sistema digestivo. Bello falava pouco de sua vida pessoal, a ponto de muitos colegas não estarem a par do avanço da doença. Preferia os grandes debates, como estratégias para o combate à fome e à miséria, a garantia de direitos fundamentais e o aprofundamento da democracia.

"Ele encarnava o que é a universidade", disse o amigo e colega de departamento Bruno Comparato. "As pessoas acham que na universidade todo mundo pensa igual, que é um centro de doutrinação ideológica, e na verdade todo mundo discordando, e é bom que seja assim porque é dessa forma que a ciência avança. O Bello sabia disso, e ele sabia ouvir."


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.