Um dos principais movimentos de revolta contra a Coroa Portuguesa do Brasil Colônia terá a partir deste sábado (29) a primeira mulher oficialmente reconhecida entre seus idealizadores.
A fazendeira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo entrará para o Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG).
A participação da fazendeira na Inconfidência Mineira já era conhecida em meio aos historiadores. Com a entrada no Panteão, porém, Hipólita se junta a outros integrantes do movimento já homenageados no local.
Hipólita era casada com o inconfidente Francisco Antônio de Oliveira Lopes. Os dois moravam na Fazenda da Ponta do Morro, propriedade da família de Hipólita, em Prados, próximo à Estrada Real, caminho utilizado para levar o ouro de Minas para o litoral do Rio de Janeiro e, em seguida, para Portugal.
A propriedade tinha localização estratégica e facilitava a comunicação entre rebeldes da região com os de Vila Rica, hoje Ouro Preto. A fazenda, então, acabou se transformando em um ponto de encontro de integrantes do levante.
A história de Hipólita é ainda marcada por sua atitude na chegada da notícia de que Tiradentes e outros inconfidentes haviam sido presos, em 1789.
Via emissário, a fazendeira manda uma mensagem a Vila Rica defendendo que integrantes do movimento que se encontravam livres iniciassem uma ação armada contra a Coroa.
"O cavaleiro, no entanto, é preso no caminho e a mensagem não chega a Vila Rica", relata a historiadora Pilar Lacerda, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas e curadora do Festival de História, que acontece em Ouro Preto, dentro do qual ocorrerá a cerimônia de entrada de Hipólita para o Panteão dos Inconfidentes.
A historiadora afirma não haver dúvidas da participação da fazendeira na Inconfidência. "A Coroa Portuguesa confiscou seus bens, e isso não ocorreu com as mulheres de outros inconfidentes", diz.
A entrada de Hipólita para o Panteão dos Inconfidentes ocorreu depois de reuniões iniciadas a partir de janeiro de 2023 entre historiadores e representantes do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e do Museu da Inconfidência.
O prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, afirma que Hipólita entra para o Panteão como conjurada, e não como inconfidente, que é como ficaram conhecidos os integrantes do levante processados pela Coroa Portuguesa.
Apesar de ter tido seus bens confiscados, Hipólita não foi julgada e condenada, como ocorreu com outros participantes da revolta.
Uma lápide com o nome de Hipólita será colocada ao lado das dos 16 inconfidentes que têm restos mortais no Panteão, entre os quais, o seu marido. A fazendeira, porém, está sepultada na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Prados.
A historiadora Pilar Lacerda afirma que o reconhecimento oficial da participação de Hipólita na Inconfidência poderia ter ocorrido há mais tempo, e que isso não aconteceu em razão do machismo da sociedade.
"Temos muitas histórias apagadas propositalmente por conta do machismo", aponta. A fazendeira nasceu em Prados em 1748. Morreu também em Prados em 1828.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.