Descrição de chapéu Independência, 200

Revolucionária mineira do século 18 entra para o Panteão da Inconfidência

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo é a primeira mulher a figurar oficialmente como integrante do levante, assim como Tiradentes

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Belo Horizonte

Um dos principais movimentos de revolta contra a Coroa Portuguesa do Brasil Colônia terá a partir deste sábado (29) a primeira mulher oficialmente reconhecida entre seus idealizadores.

A fazendeira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo entrará para o Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG).

A participação da fazendeira na Inconfidência Mineira já era conhecida em meio aos historiadores. Com a entrada no Panteão, porém, Hipólita se junta a outros integrantes do movimento já homenageados no local.

Hipólita era casada com o inconfidente Francisco Antônio de Oliveira Lopes. Os dois moravam na Fazenda da Ponta do Morro, propriedade da família de Hipólita, em Prados, próximo à Estrada Real, caminho utilizado para levar o ouro de Minas para o litoral do Rio de Janeiro e, em seguida, para Portugal.

A foto mostra ilustração de como seria a revolucionária mineira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que participou da Inconfidência Mineira.
Hipólita Jacinta Teixeira de Melo em ilustração de Arthur Starlig - Acervo do Projeto República/UFMG

A propriedade tinha localização estratégica e facilitava a comunicação entre rebeldes da região com os de Vila Rica, hoje Ouro Preto. A fazenda, então, acabou se transformando em um ponto de encontro de integrantes do levante.

A história de Hipólita é ainda marcada por sua atitude na chegada da notícia de que Tiradentes e outros inconfidentes haviam sido presos, em 1789.

Via emissário, a fazendeira manda uma mensagem a Vila Rica defendendo que integrantes do movimento que se encontravam livres iniciassem uma ação armada contra a Coroa.

"O cavaleiro, no entanto, é preso no caminho e a mensagem não chega a Vila Rica", relata a historiadora Pilar Lacerda, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas e curadora do Festival de História, que acontece em Ouro Preto, dentro do qual ocorrerá a cerimônia de entrada de Hipólita para o Panteão dos Inconfidentes.

A historiadora afirma não haver dúvidas da participação da fazendeira na Inconfidência. "A Coroa Portuguesa confiscou seus bens, e isso não ocorreu com as mulheres de outros inconfidentes", diz.

A entrada de Hipólita para o Panteão dos Inconfidentes ocorreu depois de reuniões iniciadas a partir de janeiro de 2023 entre historiadores e representantes do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e do Museu da Inconfidência.

A foto mostra lápide com o nome de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo que será colocada no Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto
Lápide em pedra sabão, ainda em fase de acabamento, que será colocada em homenagem a Hipólita Jacinta Teixeira de Melo no Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto - Arquivo fHist/Festival de História

O prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, afirma que Hipólita entra para o Panteão como conjurada, e não como inconfidente, que é como ficaram conhecidos os integrantes do levante processados pela Coroa Portuguesa.

Apesar de ter tido seus bens confiscados, Hipólita não foi julgada e condenada, como ocorreu com outros participantes da revolta.

Uma lápide com o nome de Hipólita será colocada ao lado das dos 16 inconfidentes que têm restos mortais no Panteão, entre os quais, o seu marido. A fazendeira, porém, está sepultada na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Prados.

A historiadora Pilar Lacerda afirma que o reconhecimento oficial da participação de Hipólita na Inconfidência poderia ter ocorrido há mais tempo, e que isso não aconteceu em razão do machismo da sociedade.

"Temos muitas histórias apagadas propositalmente por conta do machismo", aponta. A fazendeira nasceu em Prados em 1748. Morreu também em Prados em 1828.

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