Descrição de chapéu Rio de Janeiro

'Ficou me interrogando sem socorrer minha neta', diz avó de Kathlen Romeu sobre atuação de PMs

OUTRO LADO: Defesa mantém versão de que policiais reagiram a ataque; idosa prestou depoimento sobre momento que jovem grávida foi morta

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Rio de Janeiro

A avó da designer de interiores Kathlen Romeu, jovem grávida morta no Rio de Janeiro em 2021, afirmou em depoimento à Justiça que, logo após sua neta ser baleada, os policiais militares não a socorreram de imediato e começaram a interrogar a idosa. Sayonara de Fátima Queiroz disse, nesta segunda-feira (29) que um dos agentes apontou a arma para ela enquanto gritava por socorro.

O caso aconteceu em junho de 2021 no Complexo do Lins, zona norte do Rio. Kathlen foi morta ao ser baleada por tiro de fuzil no peito enquanto visitava a avó. O Tribunal de Justiça do estado ouvi nesta segunda as testemunhas de acusação no processo em que dois policiais militares, Rodrigo Correia de Frias e Marcos da Silva Salviano, são réus sob a acusação de homicídio da jovem.

Kathlen posa grávida para a foto. Ela sorri para a barriga
Kathlen de Oliveira Romeu, 24, que estava grávida, morreu após ser baleada no Complexo do Lins, zona norte do Rio - Reprodução/Instagram

Sayonara estava com a neta no momento em que elas foram atingidas. Elas estavam na Rua Araujo Leitão, próximo a uma viela conhecida como Beco da 14. Em depoimento, a avó disse que a neta foi atingida após uma única rajada de tiros. Quando os disparam cessaram, a idosa conta que levantou e gritou por ajuda aos policiais que apareceram no local. Ela disse, no entanto, que os militares apontaram a arma para ela.

"Quando eu levantei, os dois policiais que estavam na frente apontaram as armas para mim. Pensei que iam socorrer minha neta, mas eles passaram por ela, nem a olharam. Vieram me interrogando", disse Sayonara, que completou que gritou para que ajudassem Kathlen. "O tempo que ele ficou ali me interrogando sem socorrer a minha neta foi muito abusivo."

Na versão da Polícia Militar, os agentes teriam reagido a um ataque feito por criminosos que estavam na rua —narrativa que é sustentada pela defesa dos dois réus por homicídio. Sayonara, porém, negou que tenha acontecido confronto no momento que Kathlen foi baleada.

"Tinha moradores na rua, crianças indo para a escola. Por não ter polícia [na rua], estava todo mundo tranquilo", disse a avó, que também negou ter visto pessoas armadas no local.

De acordo com a idosa, os tiros partiram do Beco da 14, viela perpendicular à rua Araújo Leitão, onde Sayonara esta com a neta. A avó afirmou ainda que se tivesse visto os policias no beco, de onde eles apareceram, ela teria evitado passar pelo local.

"Evito passar por ali, porque a [rua] Araújo Leitão está muito perigosa. Era comum os policiais passarem por lá com armas em punho, às vezes atirando. Mas naquele dia estava tranquilo", contou.

De acordo com o Ministério Público, Frias e Salviano atingiram a jovem ao atirarem contra pessoas que estariam vendendo drogas no Beco da 14. No entanto, Sayonara também negou em depoimento ter visto qualquer atividade do tipo no momento que passaram por lá.

No inquérito, Promotoria chamou atenção para o fato de os policiais terem disparado em direção à rua Araújo Leitão, que tem grande movimento de carros e pedestres.

"Assim que começou os tiros, as pessoas correram. Não era uma troca de tiro, partiu de um lado só. Quando vi a Kathlen cair, eu me joguei no chão. Achei que ela estava se protegendo. Eu olhava para ela e pedia para deitar com a barriga para cima, para não machucar o bebê. Mas os olhos dela já estavam vidrados", contou Sayonara, que se emocionou no depoimento.

Procurada, a defesa dos dois policiais manteve a versão de que os agentes reagiram a criminosos.

Quando Kathlen finalmente foi socorrida pelos policiais, os agentes a levaram de viatura até o hospital Salgado Filho, no Méier, mas ela não resistiu aos ferimentos. Sayonara também contou em depoimento que precisou brigar com os PMs para que eles deixassem a avó entrar no carro e acompanhar a neta até o hospital.

MÃE LEMBRA QUE FILHA SE MUDOU PARA BUSCAR VIDA MAIS SEGURA

Além de Sayonara, outros oito testemunhas também prestaram depoimento à Justiça nesta segunda-feira. Uma delas era a mãe de Kathlen, Jackelline de Olveira Lopes, que contou que havia se mudado com a filha do Complexo do Lins em busca de uma vida mais segura, longe dos conflitos rotineiros da comunidade.

Tanto Sayonara quanto Jackelline endossaram a versão do Ministério Público de que os agentes estavam dentro da casa de um morador, no Beco da 14, no dia em que Kathlen foi baleada. Essa informação foi trazida pela Promotoria no inquérito do caso, que apontou que os PMs estavam de "troia", jargão popular para emboscada, pouco antes dos disparos.

O morador da casa é uma das testemunhas previstas para serem ouvidas no processo. A próxima audiência está marcada para o dia 7 de agosto.

Frias e Salviano ainda vão prestar depoimento à Justiça, mas a audiência para isso ainda não foi marcada. Os dois cabos da PM também respondem por fraude processual em processo que são réus junto com outros três colegas de farda. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Rio em dezembro de 2021 sob suspeita de terem modificado a cena do local em que Kathlen foi morta e implantado 12 cartuchos calibre 9 mm usados e um carregador de fuzil com dez munições intactas.

No dia 23 deste mês, os cinco policiais negaram em audiência que tenham cometido fraude processual. À Justiça Militar, eles disseram que apenas pegaram sacolas deixadas na rua por criminosos e negaram a acusação de terem colocado qualquer objeto no local.

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