Descrição de chapéu Folhajus

'Menos um fazendo o L': motorista vai responder por homicídio culposo com omissão de socorro

Inquérito policial foi entregue à Justiça nesta quinta (11); atropelador também foi indiciado sob suspeita de incitação ao crime

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São Paulo

A Polícia Civil indiciou o motorista de aplicativo Christopher Rodrigues, 27, que no último dia 25 de abril atropelou e matou Matheus Campos da Silva, 21, no corredor Leste-Oeste, região central de São Paulo, e fez publicações em rede social debochando da vítima. "Menos um fazendo o L", escreveu em referência aos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o delegado Percival Alcântara, responsável pelo caso e titular do 5º Distrito Policial, Rodrigues foi indiciado por suspeita de homicídio culposo de trânsito, quando não há intenção de matar, com causa de aumento de pena por omissão de socorro, e incitação ao crime.

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Vídeos mostram Christopher Rodrigues debochando de vítima de atropelamento - Reprodução

Inicialmente, o caso havia sido registrado como furto e morte suspeita ou acidental. O inquérito policial, concluído nesta quinta-feira (11), foi enviado à Justiça.

Rodrigues, que segundo a sua defesa compareceu à delegacia nesta quinta, deverá responder em liberdade.

O advogado André Nino, que defende o motorista de aplicativo, afirmou que o posicionamento da polícia foi correto, ao concluir por homicídio culposo, sem intenção de matar. "Vamos aguardar os próximos passos da Promotoria para fazer a defesa dentro do processo, a partir da denúncia do Ministério Público", afirmou.

Rodrigues afirmou à polícia que a colisão foi um acidente e que a passageira teria chamado por socorro. Mesmo assim foi indiciado por suspeita de omissão.

No depoimento, ele disse estar trafegando com um Ford Ka quando a vítima, correndo após o furto do celular de outro condutor, avaliado em R$ 800, surgiu em frente ao veículo, que não freou a tempo. No entanto, em suas redes sociais, o motorista publicou vídeos em que zombava da morte provocada. Por isso, acabou indiciado sob suspeita de incitação ao crime.

Em um dos registros publicado em seu perfil no Instagram, o atropelador afirmou que, mesmo após pedidos de transeuntes, dentre eles os "direitos humanos", não tiraria seu veículo de cima do jovem. "Não posso tirar o carro, né? Senão o cara foge", ironizou. "É o ladrão de celular. Ladrão, foda-se. Talvez eu encontre esse vagabundo em outra vida."

Naquele momento, conforme o boletim de ocorrência, Matheus Campos da Silva ainda estava vivo.

Outro vídeo feito pelo motorista de aplicativo mostrou a vítima viva e ensanguentada sob o veículo.

"Comédia, vai roubar trabalhador?", questionou o atropelador na gravação. Balançando a cabeça e o indicador da mão esquerda, a vítima negou. "Não, não vai sair, não. Só com a polícia, chama a polícia", continuou Rodrigues, se recusando a oferecer ajuda.

Matheus da Silva foi identificado por uma das passageiras do motorista que teve o celular furtado como sendo o ladrão. O outro passageiro, marido dela, corroborou com a versão da mulher.

Silva não tinha antecedentes e a sua defesa dele nega que ele estivesse envolvido com crimes.

ADVOGADO DA FAMÍLIA DA VÍTIMA DIZ VER CULPA

O advogado da família do jovem, Walisson dos Reis, diz discordar veementemente do indiciamento por homicídio culposo. Segundo ele, a intenção de matar está explícita na omissão de socorro, observada pela investigação, e nos vídeos de autoria do motorista.

"Respeito o delegado, mas não se pode enquadrar o que aconteceu como algo não intencional. É como dar uma licença para fazer justiça com as próprias mãos. Ele matou e até gravou estar indo à delegacia assinar um assassinato. É um desrespeito."

Agora, Reis aguarda manifestação do Ministério Público. A Folha apurou já estar o inquérito nas mãos da Promotoria, que decidirá em que termos oferece a denúncia.

Nesta quinta, o delegado Alcântara disse que o caso precisou de cuidados na investigação, principalmente pela falta de imagens.

"A colheita de informações foi feita quase exclusivamente com prova testemunhal porque o laudo pouco acrescentou", afirmou. "Foi preciso muita atenção e confrontar as pessoas sobre o que foi dito para chegar no indiciamento."

As plataformas de transporte 99 e Uber baniram o motorista de seus sistemas, ressaltando repudiar qualquer forma de violência e aguardar o fim das investigações.

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