Cidade do interior da Bahia foi a que mais perdeu população, mostra Censo

Caatiba viu número de moradores diminuir 45% entre 2010 e 2022; municípios de CE e PA também tiveram quedas expressivas

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Recife

Caatiba (BA), Catarina (CE) e Santana do Araguaia (PA) ficam localizadas a centenas de quilômetros uma da outra, mas têm uma realidade em comum apontada pelo Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As três cidades foram as que mais perderam habitantes percentualmente em relação ao levantamento de 2010.

Em um intervalo de 12 anos, o município baiano perdeu 45,67% da sua população, e agora tem 6.205 habitantes.

No Censo de 2010, Caatiba tinha mais de 11,4 mil moradores. O município fica a 68 km de Vitória da Conquista, no centro-sul da Bahia, e a 600 km de Salvador.

"Como é um município pequeno, qualquer variação é um efeito grande", diz o superintendente estadual do IBGE na Bahia, André Urpia, que apontou dois indicadores como decisivos para a saída de pessoas de Caatiba.

"A região tinha uma série de fábricas [de calçados] que estavam funcionando e depois saíram, e um conjunto de municípios ali teve essa queda possivelmente por conta da queda de emprego na região. Vamos ter que verificar depois [em outros dados] se houve mudança para algum município próximo."

População de Caatiba, no interior baiano, caiu quase pela metade em 12 anos, segundo Censo do IBGE - - Divulgação/Prefeitura de Caatiba

Urpia também afirma que a perda de um distrito de Caatiba para outra cidade pode ter influenciado no resultado.

O superintendente do IBGE na Bahia ainda frisou que Caatiba perdeu territórios para três municípios da região ao todo: Itambé, Planalto e Barra do Choça.

"Se as condições que estão dadas não alterarem, certamente o município continuará com a tendência de queda. Por si só, a taxa de natalidade vem caindo e a média de moradores por domicílio, inclusive no estado inteiro, caiu muito. Se as condições de emprego não forem mais fortes, acho pouco provável que volte a crescer", afirma.

"É uma área de produção de leite, de gado muito forte, mas talvez não consiga ofertar emprego para toda a população do município, com o número de vagas talvez não sendo capaz de atender as pessoas. Para isso, é importante ter outras formas de atuação e trabalho."

O geógrafo Gilton Carmo diz que a proximidade com uma cidade maior dificulta o crecsimento do município.

"O comércio do município tem dificuldade de se desenvolver porque, por exemplo, o morador de Caatiba predominantemente vai comprar em Vitória da Conquista", acrescenta. "A grande dificuldade é a não oportunidade de emprego e renda. É uma migração urbana."

A diáspora também acontece em Catarina, a 394 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. A cidade perdeu 45,36% dos moradores e possui agora 10.243 habitantes, segundo o novo censo, ante mais de 18 mil de duas décadas atrás.

A principal atividade econômica da cidade é a agrícola, impulsionada pela produção de algodão, frutas, milho e feijão, além da pecuária.

A queda de Catarina não foi isolada. Além da cidade, outras 70 tiveram redução dentre os 184 municípios do Ceará.

Catarina, no interior do Ceará, pode ter redução de vereadores com queda do número de moradores - Reprodução/Fundef

Na divisa com o Tocantins, a cidade paraense de Santana do Araguaia perdeu 42,28% dos habitantes, caindo de 56.153 para 32.413 moradores.

Luiz Claudio Martins, coordenador técnico estadual do IBGE no Pará, afirma que a queda no número de habitantes aconteceu em diversos municípios do estado, assim como houve acréscimos em outros, em movimentações influenciadas por fatores econômicos.

"A região Norte é marcada pela flutuação da população principalmente por causa da busca por oportunidades de trabalho. Os grandes centros têm mais [poder de] atração para novos moradores", diz.

O coordenador ainda explica que não é possível cravar quais fatores específicos foram decisivos para a movimentação. "É preciso fazer uma avaliação criteriosa de dados que ainda serão divulgados no próprio censo, como de migração por trabalho."

A diminuição da população pode levar a uma redução nos repasses de verbas públicas federais e estaduais. O Censo é um dos parâmetros utilizados na distribuição de recursos públicos, além de indicadores sociais e de áreas específicas.

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