Descrição de chapéu greve

Médicos de unidades de saúde de São Paulo entram em greve

Paralisação envolve profissionais que atuam em serviços gerenciados por organizações sociais de saúde e por hospitais filantrópicos

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São Paulo

A autônoma Milena Alves de Oliveira, 19, iria aproveitar a consulta pediátrica da filha, Maria Júlia, na UBS Humberto Pascale, e tentar encaixe com o clínico geral para pedir um encaminhamento ao psiquiatra. No caso dela, a tentativa foi em vão devido à falta do médico.

Segundo informação dada à paciente, o clínico havia aderido à greve dos médicos, anunciada pelo Simesp (Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo). A paralisação, iniciada nesta segunda, envolve os médicos que trabalham em unidades de São Paulo administradas por OSS (organizações sociais de saúde) e por hospitais filantrópicos.

A UBS Humberto Pascale, na Barra Funda, zona oeste paulistana, é gerenciada pela Afne (Associação Filantrópica Nova Esperança).

Recepção da UBS Humberto Pascale, na Barra Funda, na zona oeste da capital paulista
Recepção da UBS Humberto Pascale, na Barra Funda, na zona oeste da capital paulista - Patrícia Pasquini/Folhapress

A reportagem esteve no local e conversou com outra paciente que ficou sem atendimento devido à greve. A mulher, que não se identificou, foi acolhida, recebeu o receituário e a orientação para fazer o reagendamento da consulta.

Nas UBS Bom Retiro, no centro, também gerida pela Afne, e na Vila Califòrnia, na zona leste, administrada pela SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), havia médicos trabalhando, de acordo com a informação obtida por pacientes e funcionários.

De acordo com o sindicato, médicos de cerca de 65 unidades de saúde estão parados. Dos serviços municipais foram atingidos alguns Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e UBS (Unidades Básicas de Saúde).

O movimento também envolve médicos do CSEB (Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa), da USP, e do Incor. Em ambos há atuação da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina).

Os serviços de urgência e emergência clínica ou cirúrgica, como as AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais), UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e UTIs funcionam normalmente.

O Simesp explicou que as OSS foram autorizadas a contratar profissionais para substituir os grevistas. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal da Saúde.

A contratação ocorreu como pessoa jurídica, com pagamento à vista. A diretoria do Simesp considerou a prática antissindical, "com intuito de desmobilizar a categoria e diminuir o impacto da paralisação".

A entidade afirma, também, que a contratação emergencial contraria os princípios da Atenção Primária à Saúde, porque esses profissionais não conhecem a área de abrangência da unidade e muito menos a população assistida.

Categoria teve o pagamento do reajuste salarial retroativo negado

A categoria reivindica o pagamento do reajuste salarial retroativo, o que foi recusado pelo Sindhosfil-SP (Sindicato das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo).

A negociação se estendeu de setembro de 2022 —data-base dos médicos— a abril deste ano, quando o Simesp assinou a CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) 2022-2023, após quase sete meses de negociação com o Sindhosfil-SP.

O pagamento do reajuste retroativo estava previsto em cláusula específica da CCT. No entanto, o Sindhosfil-SP entregou ao Simesp a versão final do documento com alteração no trecho sobre o retroativo, e orientou as OSS e filantrópicas a não pagarem os atrasados.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde afirmou que realiza o pagamento do reajuste retroativo dos meses entre setembro de 2022 a março de 2023 para todas as organizações sociais de saúde, conforme recebe o plano de trabalho de cada uma. A pasta disse que segue em diálogo para que enviem o mais rápido possível.

Sobre a decisão dos médicos contratados por OSS e hospitais filantrópicos, a secretaria disse que monitora, junto às Coordenadorias Regionais de Saúde e organizações parceiras, a situação nos equipamentos de saúde da rede municipal.

O que diz o Sindhosfil

Edison Ferreira da Silva, presidente do Sindhosfil-SP afirma que não há diferenças retroativas a serem pagas.

"A data-base é setembro de 2022 e vale até o final de agosto de 2023. O sindicato começou as negociações no ano passado e só fechou a convenção coletiva em abril de 2023. O reajuste firmado foi de 8,82% a partir de abril de 2023 e não de setembro. O sindicato assinou o documento, recebeu a proposta duas vezes, não questionou e após assinar a convenção para reajuste da categoria a partir de abril é que veio reivindicar as diferenças retroativas. Não há. A convenção define o reajuste da categoria a partir de abril de 2023", explica Silva.

"O sindicato patronal não disse às entidades para não pagarem o retroativo, apenas emitiu uma circular dizendo que a convenção coletiva havia sido assinada e a partir daquela data prevalecia a decisão do acordado", finaliza o presidente do Sindhosfil-SP.

Ato

Na manhã desta segunda, cerca de 50 pessoas participaram de um ato realizado pelo Simesp, em frente à Secretaria Municipal da Saúde, na Vila Buarque. De lá, o grupo seguiu para a sede da Prefeitura de São Paulo, onde o presidente do Simesp, Augusto Ribeiro, e quatro diretores foram convidados para uma reunião.

Na ocasião, Edenilson de Almeida, secretário-executivo da Casa Civil da prefeitura, disse que desconhecia o impasse apresentado pelo Simesp e se comprometeu a intermediar uma reunião com a Secretaria da Saúde para resolver a questão.

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