Descrição de chapéu Obituário Maiza Amaral (1936 - 2023)

Mortes: Boa cantora e cozinheira, deixa legado de amor e saudade

Maiza era diabética e, nos últimos anos, tornou-se uma paciente difícil

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São Paulo

Maria Eliza do Amaral nasceu em 19 de junho de 1936, em São Paulo. Era filha de Dulce de Campos, filha e neta de governadores de São Paulo, e de Urbano do Amaral, o Nico, de família quatrocentona. Mas os sobrenomes tradicionais não se traduziam em dinheiro. O casal levou uma vida apertada, que piorou depois que Nico morreu em 1943, num acidente de moto no túnel 9 de Julho.

Dois anos depois, Dulce se casou com um primo de Nico, Estanislau do Amaral, que deu uma vida confortável às irmãs Maiza (como Maria Eliza sempre foi chamada) e Dudu. Mas o padrasto não quis que elas cursassem faculdade. Só deixou que Maiza fizesse um curso livre de história nos EUA. Tampouco consentiu que ela, uma excelente cantora, seguisse carreira profissional. Maiza se apresentou num programa de TV e gravou um compacto, mas ficou por isto mesmo. Mesmo assim, cantou até o fim da vida, em bares de clubes e festas de amigos.

Maiza Amaral (1936 - 2023)
Maiza Amaral (1936 - 2023) - Arquivo pessoal

Além disso, era uma ótima cozinheira e tinha talento para moda e decoração. Seu marido, Gerardo Goes, não gostava que ela trabalhasse fora, mas não a impediu de ter empregos em empresas de tecidos, lojas de decoração ou mesmo como microempresária, produzindo compotas para vender ou organizando banquetes. Os dois se separaram em 1984, depois de 25 anos.

Maiza morreu no sábado (22), aos 87 anos, deixando dois filhos e dois netos. Desde que fez 80, morava comigo, seu filho mais velho. Diabética há quase três décadas, precisava ser vigiada para não assaltar a geladeira.

Em 2020, levou um tombo e quebrou o colo do fêmur. Foi operada e poderia ter se recuperado, mas era uma paciente difícil. Detestava fazer fisioterapia e se recusava a usar andador. Foi perdendo aos poucos os movimentos das pernas, e passou a precisar de cuidadora todos os dias. Voltou a ser bebê: usava fraldas, dormia quase o dia todo e só se preocupava com o que iria comer.

No começo do ano, já estava tão fraca que eu pressenti que não lhe restava muito tempo. Foi internada na terça (18) e passou por uma intervenção cirúrgica na sexta (21), que seria simples para alguém mais novo e mais forte.

No sábado (22) de manhã, quando ainda estava na UTI e já bem ruinzinha, fiquei a sós com ela no quarto. Como tivemos muitos problemas ao longo dos anos —ela demorou para aceitar que eu sou gay—, amigos me aconselharam a perdoá-la. Até comecei perdoando, mas logo passei a agradecer, agradecer, só agradecer. O fato é que foi uma mãe maravilhosa. Me deu o gosto pelos livros, me levou para viajar, me mostrou o mundo. No meio dos agradecimentos, abri um berreiro. Chorei como não imaginei que fosse chorar.

Ela morreu às 16h do mesmo dia, e agora vivo um turbilhão de emoções. Sinto alívio de saber que ela não está mais sofrendo, e que eu também não terei mais tanto trabalho —só quem cuida de pais idosos consegue fazer ideia. Mas também estou transbordando de amor e saudade.

A missa de sétimo dia de Maiza Amaral acontece nesta sexta (28), às 10h, na Igreja de São José —rua Dinamarca, 32, Jardim Europa.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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