'Polícia precisa saber diferenciar pobre de bandido', diz Lula para Cláudio Castro

Presidente critica atuação de policiais em caso na Cidade de Deus, em que menino de 13 foi morto pela PM

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Rio de Janeiro

O presidente Lula (PT) criticou a atuação da Polícia Militar do Rio de Janeiro em evento ao lado do governador Cláudio Castro (PL), dias após uma sequência de mortes de jovens atribuídas a agentes do estado.

De frente para Castro no palanque, Lula cobrou que a polícia saiba "diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua".

"O povo preto, pobre, da periferia, que precisa ser tratado com respeito. Para que nunca aconteça o que aconteceu com um menino de 16 anos, que foi assassinado por um policial despreparado ou irresponsável", disse o presidente.

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O presidente Lula de frente para o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, enquanto criticava a atuação da Polícia Militar na morte de Thiago Flausina, 13 - Reprodução/CanalGov no YouTube

"A gente não pode culpar a polícia, mas temos que dizer que um cidadão que atira num menino que já estava caído não estava preparado do ponto de vista psicológico para ser policial."

Ele se referia à morte do menino Thiago Flausino, 13, no domingo (6), na Cidade de Deus, baleado e morto enquanto passeava de moto pela região. Segundo os familiares, o tiro que atingiu o garoto partiu de um policial militar do Batalhão de Choque. Os parentes afirmam que o PM também disparou contra o jovem quando ele estava deitado ferido no chão. A Divisão de Homicídios e a PM apuram o caso.

Na madrugada do mesmo dia, um jovem morreu baleado por um PM na saída de um baile funk no morro do Santo Amaro, no Catete, na zona sul da cidade. A morte de Guilherme Lucas Martins Matias também é investigada pela Polícia Civil, que apreendeu a arma utilizada pelo agente.

Lula afirmou não responsabilizar o governador e disse que quer contribuir na melhoria da formação de policiais.

"Precisamos criar condições, governador. E o presidente da República quer ter responsabilidade com você. Nós precisamos criar condições da polícia ser eficaz, pronta para combater o crime", disse ele.

"Essa polícia precisa saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua. E para isso precisa estar ser bem formada. Não estou jogando culpa a nenhum governador. O governo federal tem que assumir responsabilidade a ajudar os governadores a combater a violência, porque o crime organizado está tomando conta do país."

Lula foi anunciar a parceria de R$ 2,6 milhões entre o governo federal e a prefeitura do Rio de Janeiro.

De acordo com a gestão municipal, os recursos serão usados para a compra de quase 700 ônibus, a requalificação do corredor de ônibus Transoeste e a construção de terminais e garagens públicos.

Parte da verba também será destinada para a construção de um anel viário em Campo Grande, na zona oeste da cidade, investimento de cerca de R$ 1 bilhão. O bairro, um dos mais populosos da cidade, foi onde o prefeito Eduardo Paes (PSD), anfitrião do evento desta quinta, teve seu pior resultado na eleição de 2020 contra o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). O ex-presidente Jair Bolsonaro também venceu Lula na região no ano passado.

Ao longo do evento, Castro, que apoiou Bolsonaro no ano passado, foi vaiado sempre que mencionado nos discursos. Lula defendeu o governador fluminense.

"O governador do Rio foi meu adversário nas eleições. Mas agora acabou. Ele é governador e é com ele que temos que fazer acordos", disse o presidente.

Castro não discursou e aplaudiu as falas de Lula que mencionavam investimentos e parcerias. Durante a sequência de críticas a Bolsonaro, o governador ficava de cabeça baixa sem aplaudir.

Apesar de ser uma agenda oficial, o evento desta quinta deixou o tom impessoal e teve clima de campanha para Lula. Antes da cerimônia, a organização do evento chegou a tocar jingles do petista, enquanto o cerimonialista puxava exaltando o chefe do Planalto.

Por diversas vezes, o cerimonialista do evento exaltou Lula antes do início da cerimônia. "Lula é uma ideia, que não se prende, não se mata e não acaba", disse, logo emendando: "O Brasil venceu o ódio. O Brasil sorri de novo".

O tom eleitoral do evento já antecipa as movimentações para a corrida municipal do ano que vem. Com as obras, Paes tenta ampliar sua popularidade pela zona oeste da cidade, reduto eleitoral bolsonarista.

Já a parceria com o governo federal estreita os laços de Paes com Lula, relação que teve percalços este ano —entre eles, a não indicação do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), braço direito do prefeito, para um ministério e os imbróglios para beneficiar o aeroporto Galeão, pauta cara ao alcaide.

Paes quer tentar manter o PT dentro de seu arco de alianças na campanha do ano que vem. Uma ala do PT exige o posto de vice, de olho numa possível saída do prefeito para a disputa ao governo estadual em 2026.

O prefeito, porém, quer Pedro Paulo ao seu lado na chapa. Uma ala petista defende que, sem esse espaço, o partido lance candidato próprio na capital fluminense ou apoie um nome indicado pelo PSOL.

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