Descrição de chapéu Governo Lula

Lula reclama do centrão e vê uso de votação para pressionar por reforma ministerial

Presidente ainda não tem previsão para reuniões com PP e Republicanos; Câmara emperra arcabouço fiscal

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Brasília

O presidente Lula (PT) tem reclamado a aliados sobre a estratégia de líderes do centrão para pressioná-lo a concretizar a reforma ministerial que irá colocar o PP e o Republicanos no primeiro escalão do governo.

Em conversas com pessoas próximas, segundo relatos, o petista afirmou que as negociações vão acontecer e não deveriam se misturar com sinalizações em tom de ameaça e barganha.

Contrariando o Palácio do Planalto, a Câmara ainda não deu uma previsão de quando irá concluir a votação do novo arcabouço fiscal. Falta apenas uma votação no plenário da Casa para Lula conseguir liquidar a tramitação do projeto e cumprir uma promessa de campanha –extinguir o teto de gastos.

O presidente Lula durante cerimônia do Ministério da Pesca no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira-2.ago.23/Folhapress

Integrantes do centrão reconhecem nos bastidores que o objetivo é forçar Lula a acelerar as conversas com os partidos que receberam a promessa de ministério e cargos em estatais.

Os deputados André Fufuca, do PP, e Silvio Costa Filho, do Republicanos, já foram confirmados como futuros ministros por auxiliares de Lula, como Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela relação com o Congresso.

Fufuca é líder do PP na Câmara. Costa Filho é um dos deputados do Republicanos mais próximos do governo. Os dois ministeriáveis, porém, estão num limbo, pois não sabem quando serão nomeados nem quais pastas irão comandar.

Aliados do presidente dizem que fazer uma reforma ministerial não é uma matemática simples, pois isso envolve "cortar na carne".

Lula sinalizou a integrantes da cúpula do seu partido a disposição de que a reforma ministerial tenha como alvo pastas hoje de ministros sem padrinhos políticos e representantes do PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do próprio PT.

De acordo com relatos das conversas, a insatisfação do petista se dá pelo fato de o centrão não aceitar que as trocas na Esplanada precisam seguir o ritmo do presidente e o tempo da política, mesmo quando o mandatário já deu a palavra de que PP e Republicanos terão seus ministérios.

Por isso, a relação deveria ter bases mais respeitosas, segundo o entorno de Lula.

Por outro lado, uma ala do centrão pinta uma imagem diferente sobre a construção dessa aliança com o governo.

Membros do grupo liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), questionam se Lula criará vínculos de confiança com os ministros indicados pelos partidos, já que ainda não se tem um horizonte para a reforma ministerial que foi sinalizada pelo governo no início de julho.

Em 7 de julho, numa sexta-feira à noite, Lula reuniu no Palácio da Alvorada ministros como Padilha e Rui Costa (Casa Civil) e expoentes do centrão na Câmara, entre eles Lira, Fufuca, Hugo Motta (líder do Republicanos) e Elmar Nascimento (líder da União Brasil).

Depois disso, Padilha já se reuniu separadamente com os ministeriáveis do PP e do Republicanos. Mas a próxima etapa, que é o encontro de Lula e dirigentes desses partidos para amarrar o apoio deles no Congresso, emperrou. O Palácio do Planalto diz que ainda não foi possível conciliar as agendas.

Sem um desenho claro para a reforma, chegou a esses postulantes a informação de que poderiam vir a ser ofertados a eles ministérios nascidos do desmembramento de pastas maiores.

Depois de divididos, esses ministérios seriam ocupados por Fufuca e Silvio Costa Filho. É o caso do Ministério de Portos e Aeroportos, que seria dividido em dois; e a pasta de Micro e Pequenas Empresas, que sairia do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Mas líderes do centrão enviaram recados à articulação política do Palácio do Planalto de que os partidos não se interessam por ministérios desidratados.

A demora para a acomodação dos indicados do centrão está preocupando articuladores do governo que temem fissuras ainda maiores na relação com o Congresso.

O PP mira o Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família e é comandado por Wellington Dias (PT). O Republicanos está de olho no Ministério dos Esportes, ocupado por Ana Moser. A fatura do consórcio liderado por Lira inclui ainda a Caixa e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), recriada pelo Congresso.

Mas Lula tem resistido a entregar esse pacotão.

Deputados do PP se reuniram com Fufuca na terça-feira (8). Uma ala da bancada defendeu que o partido elevasse a pressão para que a reforma ministerial se consolide logo. Fufuca, porém, conteve o movimento incendiário, apesar de reclamar da falta de perspectiva para Lula se decidir sobre as mudanças na Esplanada.

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Lula posa para foto com ministros, Lira e outros parlamentares após semana de aprovação da Reforma Tributária e da proposta do Carf na Câmara - 7.jul.2023/Twitter

Enquanto o presidente não encerra esse capítulo das trocas ministeriais, líderes do centrão passaram a prever derrotas para o governo na votação do arcabouço –quando ela for marcada. Segundo integrantes do governo, esse adiamento também servirá para reavaliação do texto.

No Senado, a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) articulou uma mudança na redação que permite ao governo prever cerca de R$ 32 bilhões a mais de despesas no projeto de Orçamento de 2024. O dispositivo agora precisa do aval da Câmara.

No início do mês, parlamentares influentes do centrão diziam que deveriam concordar com a proposta. Mais recentemente, os ventos mudaram de rumo e os líderes da Câmara pediram um estudo detalhado para o ministro Fernando Haddad (Fazenda) sobre esse ponto e outras alterações que o Senado aprovou no projeto do arcabouço.

O Palácio do Planalto quer aprovar esse texto na Câmara o mais rápido possível, pois as equipes de Haddad e Tebet pretendem enviar a proposta de Orçamento de 2024 até o fim do mês, já com o formato final da regra de despesas.

Por isso, a previsibilidade para a votação no plenário da Câmara ganhou grande peso como moeda de troca política.

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