Agentes da PRF pedem autocrítica após morte, mas rechaçam Gilmar por 'generalização'

Texto que circula em grupos de WhatsApp cita 'caça às bruxas' aos servidores por erros da gestão Bolsonaro

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Brasília

Agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) começaram neste fim de semana a circular, em grupos de WhatsApp formados por integrantes da corporação, uma mensagem que pede "autocrítica" da instituição diante da morte da menina Heloisa dos Santos Silva e do caso Genivaldo Santos.

Ao mesmo tempo, o texto também critica a fala do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes que, citando esses episódios, afirmou que o órgão "merece ter a sua existência repensada".

A mensagem, a qual a Folha teve acesso, tem sido republicada nesses grupos após a declaração de Gilmar e vem recebendo manifestações de endosso dos participantes.

"É inegável que a instituição precisa de um exercício autocrítico para corrigir rotas", diz o texto, que depois critica o posicionamento de Gilmar e defende que os agentes da corporação não podem ser penalizados de forma generalizada por "episódios pontuais" ou de "responsabilidade de um gestor de outrora" —em referência ao governo de Jair Bolsonaro (PL).

Viatura da PRF ao lado do hospital onde Heloísa foi internada após ser baleada
Viatura da PRF ao lado do hospital onde Heloísa foi internada após ser baleada - Reprodução - 8.set.2023/TV Globo

A declaração do ministro do STF aconteceu nas redes sociais neste sábado (16), após a morte da menina Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos. Ela foi baleada em uma ação da PRF.

O magistrado também mencionou a morte de Genivaldo Santos, asfixiado em uma viatura da PRF, e a atuação da corporação durante o segundo turno das eleições do ano passado.

Na ocasião, a PRF montou blitze em locais em que o presidente Lula (PT) tinha obtido mais votos no primeiro turno —na época, o chefe da corporação era Silvinei Vasques, indicado por Bolsonaro. No dia do segundo turno, Vasques publicou nas redes sociais uma mensagem pedindo voto para o ex-presidente, então candidato.

Gilmar afirmou que, em casos de "violações estruturais", é necessário pensar em "medidas também estruturais".

"Ontem, Genivaldo foi asfixiado numa viatura transformada em câmara de gás. Agora, a tragédia do dia recai na menina Heloisa Silva. Para além da responsabilização penal dos agentes envolvidos, há bem mais a ser feito. Um órgão policial que protagoniza episódios bárbaros como esses —e que, nas horas vagas, envolve-se com tentativas de golpes eleitorais—, merece ter a sua existência repensada", escreveu Gilmar na rede social X, antigo Twitter.

Heloisa foi baleada na nuca e no ombro durante uma ação da PRF no Arco Metropolitano, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Quando foi atingida pelos disparos, ela estava com a família indo para casa, em Petrópolis, na região serrana.

O presidente Lula (PT) usou rede social para se manifestar sobre a morte da criança. No texto, disse que a pequena Heloisa foi atingida por tiros de quem deveria cuidar da segurança da população. "Algo que não pode acontecer".

A mensagem que circula entre agentes da PRF lembra que a instituição tem 95 anos de história e que nos dois casos, "cometeu dois erros graves, contra Genivaldo e Heloisa", episódios que devem ser apurados e dos quais os responsáveis devem ser punidos pelas "vidas perdidas e danos irreparáveis".

O texto cita, entre aspas, a declaração de Gilmar, mas sem nomeá-lo —se refere apenas a um integrante do STF— e a classifica como "demagógica e leviana". Diz que é uma "generalização preconceituosa e estigmatizada" e que ofende os 13 mil agentes do órgão e também fere a "harmonia e independência" dos poderes.

"Em nome de uma caça às bruxas, de cunho político-ideológico, estão promovendo uma perversa inquisição contra servidores policiais que devotaram suas vidas a servir aos brasileiros e que em nada têm culpa de episódios pontuais, com Genivaldo e Heloísa, ou organizacionais, de responsabilidade de um gestor de outrora", acrescenta a mensagem.

Esse trecho final é uma referência aos escândalos da corporação durante o governo Bolsonaro e durante a gestão Vasques, em particular as suspeitas de que a força tenha sido usada, durante o segundo turno, para impedir o voto de eleitores de Lula.

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