'Armários seguraram laje em cima de mim', diz sobrevivente de explosão em Cabreúva

Acidente em metalúrgica no interior de SP deixou mortos e dezenas de feridos

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Cabreúva

O torneiro mecânico Paulino Roberto, 62, trabalhava a poucos metros da caldeira que explodiu em Cabreúva (78 km de São Paulo), na manhã desta sexta (1º). O acidente deixou mortos e dezenas de feridos.

"Eu estava dentro da minha sala, fazendo peças no torno, quando escutei o primeiro barulho, parecido com um deslocamento de ar. Em seguida tomei uma pancada na cabeça e caí no chão, desacordado", disse o metalúrgico, que por pouco não foi esmagado pela laje do galpão.

"Quando acordei, vi que dois armários estavam segurando a laje em cima de mim. Agradeço a Deus, que me deu uma vida nova. A dor no coração acredito que vai amenizar, mas a saudade dos amigos vai ser grande", disse Roberto enquanto observava as ruínas da fábrica neste sábado.

Destroços de metalúrgica em Cabreúva (SP) neste sábado (2), dia seguinte à explosão que deixou 4 mortos - Jardiel Carvalho/Folhapress

Quando recobrou a consciência, poucos minutos depois de desmaiar, ainda havia muito fogo e fumaça em meio aos escombros da fábrica, conta o metalúrgico, que trabalhava na empresa havia três anos. O local foi interditado pela Defesa Civil.

"Esperei uns dez minutos e saí me arrastando. Era um cenário de destruição completa, com vários colegas no chão. Em 42 anos de metalurgia nunca vi uma situação dessa."

A força da explosão foi sentida em toda a região. Janelas em residências vizinhas quebraram com o estrondo e outros galpões no entorno da fábrica foram atingidos por rochas e peças metálicas. Terrenos próximos também foram alcançados pelo fogo, que foi controlado pelos bombeiros.

O mecânico Jailton Vieira dos Santos, 40, estava a cerca de 8 km do local quando ouviu o barulho.

"Quando escutei o estouro vim correndo pra cá", disse o prestador de serviços, que trabalhava fazendo manutenção de equipamentos da metalúrgica.

Ele contou que estava afastado havia cerca de dois meses, mas planejava voltar ao serviço. "Aqui os patrões eram como família, tratavam todos bem e ajudavam muito", disse.

A metalúrgica Tex Tarugos para Extrusão Ltda já havia sido denunciada ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) pelo descumprimento de cinco normas de segurança. A empresa também teve a sua licença de operação negada pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado) no mês passado.

Segundo a prefeitura de Cabreúva, o acidente levou à morte três pessoas –uma no momento da explosão e outras duas em hospitais. Dezenas de pessoas ficaram feridas.

De acordo com o chefe de fiscalização do MTE na região, 41 pessoas estavam dentro da fábrica no momento da explosão, entre funcionários e patrões.

Uma das vítimas era Fernando Nascimento dos Santos, 25. Conhecido como Café, ele era natural de Cristinápolis (117 km de Aracaju), em Sergipe. O município declarou luto oficial de três dias em respeito às vítimas.

Neste sábado, familiares reconheceram o corpo de outra vítima do acidente, o ferramenteiro Azarias Barbosa do Nascimento, 46. Ele estava no IML (Instituto Médico Legal) de Jundiaí e será sepultado neste domingo (3) no Cemitério Municipal de Betim, em Minas Gerais.

A identidade das outras vítimas ainda não foi divulgada.

Segundo o governo do estado, a Polícia Civil investiga o caso e aguarda a conclusão de laudos periciais.

Erramos: o texto foi alterado

A explosão da caldeira da metalúrgica deixou três mortos e não quatro como afirmado pela Prefeitura de ​​Cabreúva. O texto foi corrigido. 

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