Descrição de chapéu Cracolândia drogas

Gestão Tarcísio cogita tratar usuários de droga em unidade criada para Champinha

Governo estadual busca novo espaço porque local criado para atender dependentes químicos em São Paulo está lotado

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São Paulo

Com o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas perto de atingir a capacidade total de atendimento, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) planeja transformar a Unidade Experimental de Saúde, na Vila Maria, zona norte de São Paulo, em equipamento de atendimento a usuários de drogas.

O Hub foi inaugurado no início de abril como principal porta de entrada aos dependentes químicos da cracolândia que buscam tratamento.

A Unidade Experimental de Saúde, atualmente, é ocupada por quem cometeu crimes, mas foi considerado inimputável pela Justiça. Entre eles, está Roberto Aparecido Alves Cardoso, conhecido como Champinha, que cumpre medida protetiva no local desde 2007. Ele é acusado de ter participado aos 16 anos do assassinato do casal de estudantes Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em 2003.

Unidade Experimental de Saúde deve receber usuários de drogas da cracolândia em busca de tratamento
Unidade Experimental de Saúde deve receber usuários de drogas da cracolândia em busca de tratamento - Avener Prado - 19.abr.13/Folhapress

A ideia do governo estadual é aproveitar a mudança na legislação recente, que tornou irregular a detenção de pessoas com diagnóstico de transtornos mentais, para atrelar a unidade experimental à estrutura de atendimento contra a dependência química. Outra facilidade é a proximidade, já que os dois endereços ficam a cerca de 15 minutos de carro de distância.

A estrutura estadual de internação para dependentes químicos, que inclui leitos em hospitais psiquiátricos e vagas em comunidades terapêuticas, opera com 85% da ocupação atualmente, muito próxima da capacidade total. Entre abril e setembro, cerca de mil pessoas foram encaminhadas para internação, segundo o governo estadual. A capacidade do Hub é de 700 atendimentos clínicos por mês.

Em cinco meses, desde a inauguração em abril, 2.440 pacientes foram levados para hospitais especializados, outros 433 pacientes apresentaram demandas clínicas e receberam tratamentos em prontos-socorros e unidades básicas de saúde.

No total, o governo estadual dispõe de 1.605 vagas em comunidades terapêuticas e registrou, em cinco meses, 1.624 encaminhamentos a esses equipamentos localizados, em maior parte, em cidades do interior. Segundo a gestão estadual, a rotatividade permite que não haja filas para as vagas, mas não informou o tempo médio de permanência dos pacientes.

Os estudos para a mudança de uso da unidade experimental começaram após a aprovação da resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que determinou o fim dos manicômios judiciários a partir da segunda quinzena de agosto.

A mudança da norma no CNJ prevê que as unidades devem ser desativadas até maio do ano que vem. Quando isso acontecer, os internos que ocupam hoje a unidade na Vila Maria terão que ser realocados em locais como residências terapêuticas ou casas de familiares. Mas ainda não está claro como isso irá acontecer.

O rumo de Champinha é incerto. Procurado, o Tribunal de Justiça de São Paulo disse que o caso corre em segredo e, por isso, não iria comentar o assunto.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que não há qualquer definição sobre o atendimento de dependentes químicos na Unidade Experimental de Saúde, que segue atendendo normalmente pacientes encaminhados por meio de ações judiciais.

Em entrevista à Folha em julho, o diretor do Hub, Quirino Cordeiro Júnior, afirmou que a inauguração do centro atraiu uma grande demanda reprimida de dependentes químicos de todas as partes da cidade em busca de internação para superar o vício. "Temos uma preocupação específica com as cenas abertas de uso de drogas e estamos fazendo esse trabalho [da busca ativa de usuários], porém, quando nós abrimos o serviço, nos deparamos com a demanda reprimida absurda", disse. "Isso é uma coisa que nós não conseguimos controlar porque a ideia da criação do HUB é um serviço porta aberta."

A alta na demanda por internações psiquiátricas tem pressionado também a rede municipal, que dispõe de menos leitos do que o estado. Além disso, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não administra mais o hospital São José, no Imirim, na zona norte paulistana, selecionado para ser transformado em um serviço de acolhimento a médio prazo de usuários de drogas.

O hospital fazia parte da Rede Santa Casa e foi alvo de um abaixo-assinado entre moradores do bairro contrários ao encaminhamento de usuários de drogas vindos da cracolândia. Com isso, o projeto foi descartado em junho deste ano.

Procurada, a gestão não explicou o motivo de o hospital ter deixado de integrar a rede municipal de saúde e nem se haverá substituição dos 50 leitos fechados.

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