Descrição de chapéu Obituário Roque Reinaldo Brand (1941 - 2023)

Mortes: Filósofo e ateu, doou o corpo inteiro para estudo em universidade

Roque Reinaldo Brand chegou a estudar em um seminário, mas mudou de vida para abraçar a ciência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Roque Reinaldo Brand por pouco não se tornou padre da Igreja Católica, mas teve uma crise existencial e abraçou a ciência, a filosofia e o casamento.

Nascido em Pareci Novo, no interior do Rio Grande do Sul em 1941, ele foi para São Leopoldo para estudar no seminário da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). Dos 16 aos 28 anos, ele percorreu o caminho da vida religiosa, que foi interrompido por questões filosóficas e conceituais, além da paixão por Maria Elide Becker Brand, 81, que era irmã de colegas seminaristas.

Roque Reinaldo Brand (1941 - 2023)
Roque Reinaldo Brand (1941 - 2023) - Arquivo pessoal

"Ele ficou fisicamente cego porque não conseguia tomar a decisão de largar o seminário. O médico falou que ele estava com cegueira psicológica", conta a filha Cristina Brand, 47. "Ele sofria uma pressão maior porque era o único filho homem —tinha duas irmãs mais novas—, em uma colônia alemã no interior do Rio Grande do Sul. Naquela época, era sinônimo de sucesso o filho homem virar padre. Foi uma frustração para minha avó."

Após tomar a decisão e se tornar ateu, Roque se casou com Maria Elide em 1972. Tiveram dois filhos, Cristina e Régis, 49.

A mudança de vida também o levou em meados da década de 1960 a lecionar filosofia na Unisinos, onde fez mestrado e foi professor por 34 anos.

Intelectual, ele também se tornou professor de latim e grego e ainda era fluente em alemão, espanhol, inglês e francês.

"Ele sempre foi um pai muito amoroso e inspirador, principalmente, pela intelectualidade. Cresci vendo a montanha de livros dele. Nos últimos meses, mesmo acamado, ele lia incansavelmente", diz Cristina, lembrando que o pai assinava cinco ou seis jornais, inclusive internacionais.

Devido à idade avançada, Roque passou a sentir muitas dores nos joelhos por causa do desgaste na cartilagem. Assim, decidiu colocar uma prótese no joelho direito para facilitar sua movimentação no dia a dia. A prótese, porém, acabou sendo rejeitada pelo corpo, provocando complicações.

Como havia pedido muitas vezes em vida, seu corpo foi doado para ser estudado no curso de medicina da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul). "Ele era uma pessoa muito em prol da ciência. Ele sabia da carência de corpos para estudo nas aulas de anatomia", diz Cristina, destacando que não foi fácil tornar o pedido do pai realidade.

"Foi muito difícil tanto por preconceito como porque ninguém sabia como proceder. Confesso que me admirei que o hospital não estava preparado para essa doação. Se eu e meu irmão não fôssemos determinados, não teríamos conseguido", conta.

Brand morreu de sepse aos 82 anos, no dia 23 de setembro, no hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). Ele deixa a mulher, os dois filhos e as netas Liz e Paola.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.