Descrição de chapéu Obituário Fanny Gurman Biderman (1936 - 2023)

Mortes: Acolheu familiares e amigos com afeto e generosidade

Matemática, Fanny Gurman Biderman era amante das ciências e das relações humanas

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São Paulo

Com a Fanny, faz sentido começar pelo fim de um texto-padrão de obituário: deixou marido, três filhos, além de outros tantos considerados filhos; quatro netos (e era a vó Fanny para mais uma dúzia); inúmeros sobrinhos e afilhados —era tia de verdade e postiça de gente grande e pequena; uma irmã de fato e muitas de coração e incontáveis amigas e amigos. Essa quantidade de afetos diz muito sobre ela.

Acolhimento e generosidade são características da matemática e analista de dados com uma queda para as ciências (e as relações) humanas. Fanny nasceu em São Paulo em 6 de maio de 1936 e cresceu em Promissão, centro-oeste paulista. Caçula dos três irmãos em uma família de imigrantes judeus poloneses, ela não teve que aprender a cozinhar maravilhosamente, como a mãe e a irmã, para poder se dedicar aos estudos.

Concluído o ensino médio, mudou-se com a família para o Bom Retiro, na capital paulista. Matriculou-se num cursinho para prestar os exames para o curso de matemática na USP. Ela e mais umas três amigas estavam entre as poucas mulheres que, à época, cursaram e concluíram o curso.

Fanny Gurman Biderman (1936 - 2023)
Fanny Gurman Biderman (1936 - 2023) - Arquivo pessoal

Fanny e o engenheiro Maurício se casaram depois de terminarem a faculdade. Ela chegou a dar aulas de matemática, mas largou o trabalho formal quando engravidou da primeira filha. A segunda veio um ano depois e, passados mais quatro anos, nasceu o filho mais novo. Cuidava dos filhos e acumulava informalmente as funções de contadora, secretária e administradora da pequena firma de engenharia que o marido tinha com um colega. Durante toda a vida, Fanny e Mauricio foram companheiros, cúmplices e apaixonados um pelo outro.

Também se envolvia nas atividades da Casa do Povo, associação cultural de judeus progressistas, que se firmou como local de resistência cultural e política durante os anos da ditadura. Nessa época, seus filhos estudavam na escola sediada na Casa do Povo, e Fanny ajudou a cuidar de colegas de seus filhos cujos pais foram presos pelos órgãos repressores da ditadura.

Retomou de vez a vida profissional em 1977. Na Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), montou o setor de indicadores sociais, que dirigiu até se aposentar, aos 60 anos, depois de treinar e formar muitos profissionais.

Voltou então à faculdade, para aprender informática, uma área ainda nova naquele 1996. E aproveitou para fazer as outras coisas de que mais gostava, além de trabalhar. Viajou com o marido, paparicou os netos, organizou festas inesquecíveis e dançou bastante.

Além de gostar muito de música —tinha a coleção dos LPs de Chico Buarque—, adorava dançar. E desde pequena, seja como baliza nos desfiles de escola, seja como odalisca, sua fantasia preferida de Carnaval. Por volta dos 50 anos, começou a frequentar aulas de dança para valer —chegou a se apresentar em alguns espetáculos, organizados por sua professora.

Morreu aos 87 anos, em 15 de setembro, em decorrência de uma hemorragia intracraniana. Deixou muitas saudades em todas aquelas pessoas citadas no começo deste obituário.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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