O salão abrigava 200 pessoas animadíssimas para ver os shows de dança do ventre, ouvir música e apreciar a culinária árabe. A lista de espera para reservas era de semanas. O palco: Bagdad Café, espaço curitibano que teve como anfitrião por 25 anos o libanês Adnan Ahmad Jezzini.
"Adnan era um anfitrião, um mestre de cerimônia, muito acolhedor, um verdadeiro árabe curitibano. Grande representante da cultura árabe. Sempre educado, amava as crianças e recebia todos com muito carinho. Expressava a vida com gentileza e generosidade", diz o amigo Emerson Godoi.
O libanês nasceu em Beirute, em 1948, numa família de dez irmãos. Na juventude, foi esportista. Jogou vôlei pela seleção de seu país e praticou ciclismo profissional. Estudou história e administração na França, onde trabalhou em um banco.
No Brasil, encontrou a liberdade e as possibilidades que buscava. Desembarcou em Curitiba em 1976, durante a guerra civil em seu país. Foi garçom, vendedor de sapatos e dono de padaria antes de abrir uma pequena cantina chamada Bagdad Café, dentro de uma escola de inglês.
Lá, reunia os amigos para ouvir música árabe e tocar derbak (instrumento musical árabe). Logo, o espaço ficou pequeno para tanto cliente. Foi a expansão do Bagdad Café, que não parou mais. O empreendimento, no centro de Curitiba, era o único que oferecia culinária árabe e se tornou uma das baladas mais procuradas da cidade.
"Adnan fazia questão de recepcionar a todos. Era um anfitrião nato. O Bagdad deu tão certo pelo amor que ele tinha em receber as pessoas", conta a esposa, Jhanainna Jezzini, que administrou o espaço com ele por duas décadas. Em 2021, o casal vendeu o Bagdad e abriu o Bar da Dinda, também em Curitiba.
Seu amor pela vida, ressalta a esposa, estendia-se às flores e aos moradores de rua, a quem ajudava sempre. "Era uma pessoa maravilhosa. Extremamente sincero e verdadeiro, odiava mentira. Amava as plantas, as crianças, os idosos. Tinha tanto amor no coração que parecia não caber nele."
A amiga Carolina de Freitas ressalta sua alegria, gentileza e carinho. "Ele vivia contando histórias, era excelente anfitrião, um showman. Tinha uma mão mágica para as plantas, as tratava como pessoas; o jardim dele era sempre o mais bonito. O gosto que ele tinha pela vida encantava", fala.
Giovana Godoi é afilhada de Adnan. "Ele sempre fez questão de estar presente, de cuidar de mim, de saber, de me ligar. Muito observador e atento aos detalhes. Nunca deixou de nos perceber e ter gestos de carinho conosco. Apoiava e incentivava em todas as escolhas."
Ela lembra que o padrinho era poliglota e estava sempre a instigando a melhorar seu vocabulário, sempre muito paternal. "As histórias dele nunca se esgotavam; era um ser humano inesgotável, de cultura, de conhecimento, de vivências."
Adnan morreu em 9 de setembro, de parada cardíaca. Deixa a esposa, dois afilhados, incontáveis amigos e um legado de alegria e amor pela vida e pela cultura árabe.
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