Descrição de chapéu Obituário Eliana Rosa de Almeida Scheuer (1943 - 2023)

Mortes: Curadora informal de notícias, vivia e sentia intensamente

Eliana Rosa de Almeida Scheuer separava sugestões de leitura para familiares e amigos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Aos 79 anos, a professora Eliana Rosa de Almeida Scheuer estava muito preocupada com o impacto da inteligência artificial no jornalismo. Fascinada pela maneira como alguns acontecimentos mudam a ciência, marcam a vida das cidades e às vezes percorrem o mundo, reclamava que não queria "perder a parte humana" do modo como as notícias são feitas.

Sua preocupação era justa pois as reportagens, colunas e notas que ela lia diariamente eram essenciais na relação de Eliana com a família e os amigos. Nunca abdicou da edição impressa e recortava, com tesoura, os textos que achava mais importantes.

Separava-os em pastas com os nomes das duas filhas, para que lessem quando chegassem em casa. Guardava as capas de jornais das datas mais marcantes de sua própria vida. Nos últimos anos, enviava as sugestões de leitura pela caixa de mensagens do Instagram.

Mulher em pé, com casaco branco, em campo com flores violetas e uma árovra
Eliana Rosa de Almeida Scheuer (1943 - 2023) - Leitora

O fascínio pelo conhecimento uniu Eliana e Luiz Scheuer, com quem ficaria casada por 48 anos. Ele conta que num dos primeiros encontros, em meados da década de 1970, ela apareceu com três livros debaixo do braço para discutir direito —curso que os dois faziam à época.

Era o ponto em comum de um amor que parecia improvável, de uma estudante que cresceu na cidade grande com um ex-seminarista que veio da região de fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina.

Eliana nasceu em São Paulo, filha de pai português e mãe brasileira, e passou a infância entre a capital e a cidade de Campinas. Formou-se normalista e, enquanto estudava ciências jurídicas, tinha de andar por toda a cidade para dar aulas particulares. À noite, esperava ao lado do orelhão para o qual Luiz sempre telefonava, antes de ir para casa.

A lua de mel foi uma viagem à região dos Sete Povos das Missões, terra natal do marido, para conhecer os sogros. Seu primeiro apartamento era tão pequeno que não era possível entrar no quarto do casal sem cair diretamente na cama.

Pouco tempo depois, os dois embarcaram na viagem que alimentou sua fome de mundo. Em 1977, o casal foi morar na região de Stuttgart, na Alemanha. Num só ano, rodaram 32 mil quilômetros de carro, para conhecer todos os cantos da Europa onde conseguissem chegar.

De volta ao Brasil, foi mãe pela primeira vez aos 37 anos, de Carolina. Beatriz nasceu sete anos depois, uma surpresa após Eliana achar que já estava na menopausa.

Ela teve alguns problemas de saúde ao longo da vida, como um tipo raro de leucemia e diabetes. Quando falava sobre depressão, dizia que o motivo era sua vontade de viver e de sentir emoções demais.

Em julho se divertiu em um show de Roberto Carlos e estava animadíssima para ir a outro, de Paul McCartney, no dia do seu aniversário de 80 anos. Deixou o marido, duas filhas e dois netos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.