Ruralistas articulam derrubar vetos de Lula ao marco temporal

Ambientalistas também criticam Planalto e Greenpeace diz que texto deveria ter sido vetado integralmente

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Brasília

Diante dos vetos do presidente Lula (PT) ao projeto do marco temporal de terras indígenas, a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) afirmou nesta sexta (20) que os vetos serão derrubados em sessão do Congresso Nacional.

Uma das principais forças do Congresso, a bancada reúne 303 deputados federais e 50 senadores em exercício.

Em nota, a FPA afirmou que os vetos "serão objeto de derrubada", "respeitados os princípios de representatividade das duas Casas Legislativas, com votos suficientes para a ação".

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Grupos indígenas acompanham julgamento do marco temporal em telão na área externa do STF - Pedro Ladeira - 31.ago.2023/Folhapress

"Diante das decisões recentes responsáveis por estimular conflitos entre a população rural brasileira – indígenas ou não, em desrespeito à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, a FPA não assistirá de braços cruzados a ineficiência do Estado brasileiro em políticas públicas e normas que garantam a segurança jurídica e a paz no campo", diz o texto.

"Buscaremos a regulamentação de todas as questões que afetam esse direito no local adequado, no Congresso Nacional", acrescenta.

A FPA afirma ainda que a decisão dos plenários da Câmara e do Senado "é soberana e deve ser respeitada pelos demais Poderes".

Para a rejeição do veto é necessária a maioria absoluta dos votos, ou seja, 257 votos de deputados e 41 votos de senadores, computados separadamente. Registrada uma quantidade inferior pela rejeição em umas das Casas, o veto é mantido.

Os vetos também foram criticados por ambientalistas.

O porta-voz do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, disse que Lula "perdeu uma excelente oportunidade de colocar em prática o que afirmou durante a COP do Egito".

"Na ocasião, ele assinalou de maneira clara que o Brasil se juntaria aos esforços globais para a construção de um planeta mais saudável e justo. Na prática, o veto parcial do PL 2903 vai na contramão do compromisso assumido com o mundo", afirmou, em nota.

Na avaliação do porta-voz, o petista deveria ter vetado integralmente o texto. Segundo Aguiar, com o veto parcial, Lula "atende aos interesses de uma minoria privilegiada". Ele também diz que é "grave e preocupante" que o petista tenha "cedido à pressão da bancada ruralista".

"O PL 2903 nada mais é do que uma tentativa do agronegócio de dificultar a demarcação de terras indígenas e abrir caminho para a exploração comercial desenfreada dos territórios originários."

VETO PARCIAL

Lula vetou parcialmente o projeto. Entre os pontos barrados está o cerne da proposta, que determina que as terras indígenas devem se restringir à área ocupada pelos povos na promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.

Caso o trecho não fosse vetado, os indígenas que não estavam em suas terras até a data da promulgação da Carta Magna não teriam o direito de reivindicá-las.

O texto deve ser publicado em Diário Oficial da União ainda nesta sexta, prazo final para a decisão do Planalto. O anúncio dos vetos foi feito após reunião de Lula com os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Jorge Messias (AGU).

"Vetei hoje vários artigos do Projeto de Lei 2903/2023, ao lado da ministra Sonia Guajajara e dos ministros Padilha e Jorge Messias, de acordo com a decisão do Supremo sobre o tema. Vamos dialogar e seguir trabalhando para que tenhamos, como temos hoje, segurança jurídica e também para termos respeito aos direitos dos povos originários", escreveu Lula no X (antigo Twitter).

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