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SP ganha primeira bebeteca pública, e outras 11 devem ser abertas até o final deste ano

Unicef vê investimento na primeira infância como fundamental para desenvolvimento; custo total será de R$ 1,3 milhão

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Menino de camiseta vermelha, coloca vasilhame vazado vermelho na cabeça

Carlos Eduardo Alves, Cadu, 2 anos, brinca em bebeteca municipal em São Paulo Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

Um tapete colorido é o pretexto perfeito para espalhar brinquedos no chão. Tecidos de várias cores são capas de super-heróis e de princesas –vai da imaginação de cada um. Um sofá claro, repleto de almofadas multicoloridas, vira lugar para dar cambalhotas. Bonecos de pano pretos e brancos, de cabelos longos e curtos, expressam a diversidade das crianças. Caixotes e escorregadores de madeira viram o playground.

Esse é o cenário da primeira bebeteca municipal de São Paulo, inaugurada no fim de setembro dentro do CEU (Centro Educacional Unificado) Barro Branco, em Cidade Tiradentes, na zona leste. O espaço, aberto ao público em geral, é destinado ao desenvolvimento integral de crianças com até 3 anos e 11 meses, enfatizando a relação com adultos, cuidadores e familiares, que acompanham o bebê no lugar.

Não há regras, mas os chamados mediadores incentivam a interação e a exploração dos brinquedos, de acordo com Shirley da Silva Santos, professora de educação infantil e formadora na Divisão de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação.

"Os mobiliários e materiais da bebeteca são escolhidos com o objetivo de provocar a curiosidade, a experimentação e a investigação. O desenvolvimento cognitivo ocorre por meio desses processos, enquanto a criança aprende livremente."

Criança sorridente segura brinquedo de madeira colorido, observada pela irmã mais velha
Laura Gomes Bezerra Silva, 2, sorri ao segurar brinquedo de madeira ao lado da irmã, Lívia, 10, na bebeteca do CEU Barro Branco, na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Servidora municipal há 15 anos, Shirley explicou que a diferença entre a creche e a bebeteca está na abordagem educacional. A primeira segue um currículo educacional, com foco na aprendizagem formal, enquanto a outra oferece um ambiente de convivência, onde pais, cuidadores e responsáveis participam das atividades junto com as crianças.

A auxiliar de vendas Joyce Gomes da Silva, 35, costumava levar sua filha mais nova com ela para buscar a mais velha no CEU Barro Branco. Enquanto Lívia, 10, fazia aulas gratuitas de teatro, balé e natação, Laura, 2, e sua mãe esperavam sentadas na biblioteca da unidade. Com a inauguração da bebeteca ali, logo em frente às prateleiras de livros infanto-juvenis, o tempo de espera virou diversão.

"É um espaço pensado em todos os detalhes para crianças, com brinquedos feitos de acordo com a idade", afirmou Joyce, enquanto observava as duas filhas brincando juntas no espaço.

Para Adriana Alvarenga, chefe do Unicef em São Paulo, órgão de defesa e proteção dos direitos de crianças e adolescentes, a primeira infância, que vai da gestação até os seis anos, é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças.

"Investir nesse período tem impactos significativos na educação futura das crianças. A iniciativa das bebetecas é uma maneira de fornecer um ambiente propício para o brincar e interagir nessa faixa etária. Outros municípios, como Recife [PE] e Jundiaí [SP], também têm investido na primeira infância por meio de espaços e abordagens similares."

Adriana explicou que o brincar na primeira infância auxilia no desenvolvimento saudável das crianças. Isso permite, segundo ela, que os pequenos explorem o espaço, desenvolvam coordenação motora e aprendam a interagir com objetos e pessoas.

"Esse equipamento estimula a criatividade, a expressão livre e a experimentação, formando crianças mais observadoras."

Os espaços também ajudam a eliminar preconceitos de gênero, segundo Adriana, permitindo que meninos e meninas brinquem com a mesma variedade de brinquedos e atividades.

"As crianças não nascem racistas ou preconceituosas. Elas vão desenvolvendo [o preconceito] ao longo da vida pelas suas experiências. Mas se eles têm a oportunidade de brincar de boneca, de cozinha ou de carrinho, sendo menino ou menina, provavelmente serão adultos melhores porque vão compreender que não existe isso de 'cozinha é coisa de mulher'".

Aos 2 anos, Pedro Henrique Ferreira Trindade não se intimida em pegar utensílios de cozinha de brinquedo, preparar um caldo imaginário e oferecer a quem estiver ali na bebeteca do CEU Barro Branco. Vestido de Batman, ele acredita que é um super-herói que sabe cozinhar.

"Em casa ele gosta de brincar de cozinhar, acho que é porque me observa cozinhando e quer imitar. Aí, na bebeteca, ele mistura essas paixões, comida e desenhos. Esse espaço estimulou brincadeiras mais criativas e ele até esqueceu a tela. São também brinquedos mais seguros porque não têm fiapos", afirmou Bruna, que passou a levar o filho no novo espaço ao menos três vezes por semana.

A bebeteca do CEU Barro Branco foi uma doação da Fundação Bernard Van Leer. Para as outras 11 unidades que serão inauguradas ainda em 2023, o secretário municipal de Educação de São Paulo, Fernando Padula Novaes, afirma que a verba de R$ 1,3 milhão (R$ 120 mil por unidade) já está garantida.

As futuras bebetecas, no mesmo padrão, segundo o município, estarão dentro de CEUs sob gestão do Instituto Baccarelli, que afirma promover ensino de excelência a jovens em situação de vulnerabilidade.

São elas Parque Novo Mundo, Tremembé, Taipas, Pinheirinho, Freguesia do Ó, Arthur Alvim, Carrão, Vila Alpina, São Miguel, São Pedro/José Bonifácio e Parque do Carmo. A previsão é inaugurar 38 unidades até 2024, informou a pasta.

Bebeteca do CEU Barro Branco

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