Descrição de chapéu greve transporte público

Adesão cai, e greve aumenta embate entre Tarcísio e sindicato dos metroviários

Com operação parcial das linhas, transtorno é menor do que o provocado pela paralisação de outubro; governador fala em punição, e sindicato reage

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São Paulo

A greve de metroviários, ferroviários, professores e servidores da Fundação Casa e da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) nesta terça-feira (28) provocou uma escalada retórica do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do movimento sindical, mesmo que tenha perdido adesão e gerado uma sensação de transtorno menor do que foi observado em paralisações anteriores.

Linhas de trem e metrô operaram parcialmente durante a manhã, com a implantação de planos de contingência das companhias e uma adesão menor entre os metroviários. Pelo menos 88% dos funcionários do Metrô aderiram à paralisação, de acordo com a companhia. Segundo Tarcísio, 70% do efetivo da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) compareceu ao trabalhou e, na Sabesp, o efetivo é de 80%.

Catracas fechadas na estação Itaquera do metrô, nesta terça (28) - Adriano Vizoni/Folhapres

É um contraste com a mobilização do dia 3 de outubro, quando houve adesão total dos funcionários do Metrô e as linhas públicas (1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata) passaram o dia todo fechadas. Na CPTM, três das cinco linhas públicas funcionam parcialmente desde o início da manhã desta terça, também uma paralisação menor do que na greve anterior, quando o fechamento chegou a ser total durante algumas horas em linhas como a 11-coral e a 7-rubi.

Com a greve, o trânsito de veículos ficou carregado logo cedo na capital. De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), foram registrados 630 km de lentidão às 8h desta terça —aumento de 6,2% em relação à terça-feira da semana passada (dia 21), quando a lentidão atingia 593 km no mesmo horário. O número, contudo, é quase igual ao de suas semanas atrás (dia 14), quando foram contabilizados 631 km de lentidão no mesmo horário.

O trânsito na volta para casa foi menor que o da greve no anterior no transporte sobre trilhos. Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a cidade registrou 673 km de lentidão às 18h30, contra 704 km do dia 3 de outubro.

Na terça-feira passada (21), sem paralisação no transporte público, o motorista sofreu mais nas ruas de São Paulo. Naquela data –o primeiro dia útil da semana depois do feriado prolongado do Dia da Consciência Negra—, a lentidão às 18h30 chegou a 777 km.

O governo estadual afirma que todos os sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto operavam regularmente na rede da Sabesp —a paralisação tende a afetar mais o atendimento a emergências.

Sobre os impactos da greve na rede de ensino, a Secretaria de Educação do Estado respondeu que "quatro escolas, em um universo de 5.300, não funcionaram" nesta terça, e que 621 professores aderiram às manifestações e paralisaram as atividades. "O ponto facultativo não se aplica à Secretaria de Educação em virtude da preparação do Provão Paulista Seriado e da manutenção do calendário escolar", acrescentou a pasta.

Alguns equipamentos de saúde também tiveram o atendimento afetado. O ambulatório do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, na Vila Clementino (zona sul), fechou as portas nesta terça em razão do ponto facultativo decretado no estado. Nada foi avisado, segundo os pacientes, que ficaram sem atendimento para consultas marcadas havia meses. Em nota, o Instituto afirmou que o cancelamento dos serviços foi divulgado em seu site e disse estar remarcando as consultas afetadas.

Apesar da menor adesão, Tarcísio subiu o tom contra os grevistas. Falou em anotação individual das faltas durante a greve "com vistas a aplicação de penalidade" e disse que a mobilização não impedirá o governo de seguir com o plano de privatizações. Em nota, o governo afirma que a checagem nominal foi realizada pela manhã, sob protesto dos funcionários públicos.

"Não adianta fazer greve contra privatização. Vamos continuar tocando, vamos continuar desestatizando", disse o governador. Afirmou também que a gestão estadual não pode tolerar desrespeito e indisciplina.

Camila Lisboa, presidente do sindicato dos metroviários –categoria que se tornou a principal antagonista do governo estadual nesta greve—, afirmou que a punição individual por faltas é inconstitucional. O sindicato disse que deve acionar órgãos como o Ministério Público do Trabalho e a OIT (Organização Internacional do Trabalho).

"Isso se chama assédio moral coletivo", disse Lisboa. "Ele está falando isso porque está se mostrando um autoritário, mas não é assim que a vida funciona."

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), por sua vez, embarcou na repercussão da greve e declarou que a paralisação tem como objetivo prejudicar a imagem de sua gestão e do governador Tarcísio. Ele também disse que o movimento age sob influência do deputado federal Guilherme Boulos e do partido dele, o PSOL —Lisboa é filiada à sigla. Boulos e o PSOL não comentaram.

Ainda que a adesão à greve tenha diminuído, a paralisação descumpre decisões da Justiça do Trabalho que exigiam contingentes maiores de funcionários nos horários de pico. No caso do Metrô, a exigência era que 80% dos servidores se apresentassem ao trabalho, e na CPTM, ao menos 85%. A determinação foi cumprida apenas no caso da Sabesp (80%).

Na greve do dia 3, funcionários do Metrô e da CPTM também descumpriram decisões judiciais, argumentando que elas impediam o direito de greve. Naquela ocasião, porém, a exigência era de que todos os funcionários trabalhassem nos horários de maior movimento.

De qualquer forma, na ocasião os metroviários foram multados em R$ 2 milhões por descumprir a ordem, e o governo estadual pediu o pagamento de outros R$ 7,1 milhões por prejuízos causados pela paralisação. Eles recorrem das duas multas.

A greve não afeta as linhas privatizadas do metrô (4-amarela e 5-lilás) e de trens (8-diamante e 9-esmeralda). As linhas 1-azul, 2.verde e 3-vermelha operam parcialmente, e a linha 15-prata está fechada. Na CPTM a operação também é parcial na tarde desta terça.

Em meio à greve, enquanto tentavam chegar ao trabalho, passageiros divergiam sobre a paralisação. Uns diziam ser legítimo reclamar, outros não viam propósito no movimento.

Vanderleia Pereira, 51, trabalha em um cartório na praça da Sé, no centro. Diz que normalmente usa o metrô, mas aguardava na estação Itaquera (zona leste) a chegada de um amigo para irem de trem até a Luz, na região central. Dali, usaria a linha 4-amarela do metrô, privada.

"Acho que privatizar não é a solução", disse Vanderleia, em referência às pautas da greve. "A gente teve essa experiência com o apagão da Enel. Fiquei 24 horas sem luz, mas teve gente que sofreu muito mais. Eles reduziram as equipes, não tinha gente para atender", afirmou.

No fim da madrugada, o auxiliar de logística José Roberto Santos, 36, que trabalha em Osasco (Grande SP), esperava a abertura da estação Corinthians-Itaquera. "Não tenho como chegar e o patrão não quer saber de nada."

Interpelado por participantes da greve que distribuíam panfletos na estação, ele respondeu que era melhor privatizar tudo e pagar mais caro para "não ter palhaçada". Poucos minutos depois, às 4h30, as escadas foram liberadas com o início da operação na linha 11-coral, e Santos embarcou para tentar chegar ao trabalho.

PROTESTO NA ALESP

Servidores do governo paulista se reúnem na tarde desta terça em frente à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), em protesto contra a privatização da Sabesp. O ato é puxado, principalmente, por professores da rede estadual e conta também com metroviários.

"O governador Tarcísio uniu os trabalhadores do estado contra o projeto que ele tem de entregar São Paulo ao setor privado e precarizar os serviços. Nós vamos lutar juntos para defender o estado", disse Altino dos Prazeres, metroviário demitido em outubro após a paralisação da categoria.

Já os professores aproveitaram para protestar contra uma série de medidas do governo, entre elas a PEC que retira recursos da Educação para transferir para a Saúde. Eles também reclamam da precariedade da estrutura das escolas e da falta de professores na rede estadual.

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