Descrição de chapéu chuva

'Foi questão de sair com roupa e documento', diz morador de Gramado (RS) sobre rachaduras

Cidade gaúcha está em estado de calamidade; no estado, há 28 mil desabrigados e desalojados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Harmonia (RS)

As chuvas acima da média que afetam o Rio Grande do Sul desde a última sexta-feira (17) já deixaram milhares de desalojados e desabrigados, causaram danos materiais e trouxeram insegurança em relação ao futuro de suas localidades frente ao risco de desastres.

Em Gramado, cidade turística da serra gaúcha que entrou nesta sexta (24) em estado de calamidade, a população vive momentos de incerteza após o surgimento de rachaduras em três bairros do município, algumas de até 150 metros de comprimento. Nesta quinta-feira (23), um prédio desabou. Ninguém ficou ferido.

vista aérea de prédio que desmoronou com árvores no entorno
Vista aérea de local atingido em Gramado, no Rio Grande do Sul - Diego Vara/Reuters

Todas as residências do bairro Três Pinheiros foram interditadas preventivamente no domingo (19), assim como 23 moradias em apenas uma rua no bairro Piratini e outros trechos pontuais.

Agora, os moradores desses bairros ficam no aguardo para entender quais serão os próximos passos.

A cidade, um dos maiores polos turísticos do Sul do Brasil, foi atingida por um fenômeno chamado movimento de massa.

A remoção das famílias do bairro Três Pinheiros foi rápida, conta o afiador de cutelaria Eder Leandro Rossa, morador que participou das ações de evacuação.

No sábado, Rossa estava prestando apoio aos afetados pela enchente na região do Vale do Paranhana, próxima a Gramado. Depois de retornar à cidade, começou a receber mensagens sobre as rachaduras no solo e o risco de desabamento do prédio no domingo de manhã.

Ele se mobilizou junto a outros moradores, e logo em seguida a administração municipal emitiu as notificações de risco. "Em menos de uma hora o bloco maior de pessoas a gente conseguiu evacuar. Foi questão de sair com a roupa e o documento, foi rápido para tirar", diz Rossa.

Ele conta que ainda não havia um estudo técnico aprofundado sobre a situação do terreno, mas havia precedentes de desastres do tipo, em proporção reduzida. Em 2002 houve um desmoronamento grande no local, o que levou à construção de muros de contenção que mitigaram o problema por quase 20 anos.

"Agora se repetiu, em uma escala maior", diz. "Desde 2002 quando foram feitas as contenções se tinha uma ideia de que já era área segura, e agora se desfez a condição."

Enquanto a situação não se regulariza, Rossa continua próximo ao bairro integrando uma equipe de moradores locais para cuidar do bairro.

"Desde domingo ao meio dia durmo no meu carro. Ontem [quinta-feira, dia 23], me dei o privilégio de jantar uma comida quente e deitar em uma cama. Estou dormindo no carro, tomando banho com garrafinha d'água, porque não consigo sair daqui, me distanciar do pessoal sabendo que eles precisam de alguma coisa", conta.

Uma das preocupações agora é, além da questão patrimonial, o suporte emocional às famílias desalojadas.

"Todas as pessoas estão com os nervos à flor da pele. A condição sim é de se romper [as contenções], a gente só não sabe a dimensão, nem quando. Essa tensão de não saber é o que incomoda", lamenta Rossa. "Quem tinha casa em um dia, no outro já estava procurando algo para alugar. É complicado".

Na quarta-feira (22), membros do Serviço Geológico do Brasil (SGB) fizeram uma visita técnica para fazer a análise do terreno nas áreas de risco, e outra visita será feita no domingo (26).

A prefeitura já informou previamente nesta semana que vai solicitar ao SGB uma avaliação geral das áreas de risco no município, a ser realizada no próximo ano.

Na tarde desta sexta, grupos de moradores organizados pela Defesa Civil voltaram temporariamente ao bairro Três Pinheiros para buscar itens essenciais em suas casas.

Também nesta sexta, o prefeito de Gramado Nestor Tissot (PP), o vice-prefeito Luia Barbacovi (PP) e outros integrantes da administração municipal se reuniram com esses moradores para explicar a ação de evacuação do local e as medidas tomadas daqui para frente.

Além do nervosismo com a situação de suas casas, os gramadenses também reclamam da repercussão de notícias falsas em um momento de vulnerabilidade.

Moradores ouvidos pela reportagem relatam incômodo com publicações sensacionalistas circulando na internet, que dariam a entender que toda a cidade está enfrentando rachaduras e desabamentos, atrapalhando as ações de ajuda e causando prejuízos para a economia local.

A proprietária de uma agência de turismo, setor que move a economia local, chama essa situação de "absurda". e que não está acontecendo rachaduras pela cidade inteira, caso contrário ela não estaria na cidade mais.

Com a possível exceção da Cascata do Narciso, próxima ao prédio Residencial Condado Ana Carolina que desmoronou na quinta, os pontos turísticos da cidade não foram afetados pelos fenômenos geológicos e seguem abertos à visitação.

A programação do Natal Luz, tradicional evento natalino de Gramado, também segue sem alterações.

Cidades alagadas

Além dos estragos em Gramado, outras cidades sofreram com os impactos da chuva que atingem o Rio Grande do Sul.

De acordo com as últimas informações da Defesa Civil gaúcha, o estado ainda tem 24,1 mil desalojados e 3.837 cidadãos em abrigos públicos, distribuídos nos 194 municípios que reportaram algum tipo de dano. 40 cidades já decretaram situação de emergência até as 12h desta sexta-feira, e o governo espera que o número aumente assim que outras prefeituras terminarem de enviar a documentação necessária.

vista aérea de cidade alagada
Vista aérea de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, que sofre com alagamento - Lucio Tavora/Xinhua

Em Eldorado do Sul, cidade vizinha a Porto Alegre, aproximadamente 10 mil pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pela enxurrada do rio Jacuí, com 700 desabrigados acolhidos em dois ginásios.

Em São Sebastião do Caí, o nível do rio Caí atingiu 16 metros de sábado para domingo, a maior marca registrada nos 148 anos de existência da cidade. Mais de 80% dos moradores foram atingidos pela água, com 1,3 mil habitantes resgatados pelos bombeiros. A enchente do rio Caí foi a terceira de grande porte no ano, e cidades da região como Alto Feliz, Harmonia, Tupandi e Vale Real também decretaram situação de emergência.

quatro pessoas caminham em rua alagada
Moradores caminham em rua alagada em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul - Lucio Tavora/Xinhua
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.