Descrição de chapéu Obituário Luzia Maria Pereira (1953 - 2023)

Mortes: Destemida, enfrentava qualquer desafio sem esmorecer

Luzia Maria Pereira manteve a força e a coragem até os últimos dias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Luzia Maria Pereira tinha 1,60 m, mas era conhecida como Luziona. Imponente e destemida, enfrentava qualquer desafio sem esmorecer, e era difícil algo amedrontá-la. Só tinha pavor de lesma, que lhe causava asco, assim como quem cospe na rua sem cerimônia.

Nasceu em Herculândia, interior de São Paulo, em 9 de fevereiro de 1953, em uma família grande. Tinha oito irmãs e dois irmãos. Todos moravam em um sítio e trabalhavam na roça ajudando o pai no sustento da casa. Por conta da vida difícil e do trabalho pesado, o estudo não era uma prioridade. Conseguiu cursar apenas os anos iniciais do ensino fundamental. Ainda assim, adorava ler e fazer palavras cruzadas.

No final da adolescência, mudou-se com a família para Campinas em busca de condições mais dignas de vida e, com sorte, novos horizontes.

Luzia (na janela) com a filha Cíntia, dois netos e quatro bisnetos - Arquivo pessoal

Criou três filhas sozinha, com esmero. Atuou em várias ocupações para isso, mas se encontrou mesmo foi na culinária. Cozinhava como poucos, vendia congelados e fazia salgados de comer rezando.

Talvez pela vida dura ou por ter ido morar em uma área de ocupação, fazia questão de mostrar que era uma pessoa forte. Quando algum homem tentava se impor ou fazê-la sentir medo, ela devolvia na mesma moeda. Deixava claro que com ela a conversa seria de igual para igual, e sempre saía vencedora.

Torcedora fiel do Palmeiras, colecionava bola, latas de cerveja temáticas, camisetas, entre outros itens. Ai de quem ousasse tocá-los.

Nunca perdeu um dia de serviço, estivesse cansada ou doente. Na hora correta estava batendo o ponto, fosse em uma casa de família ou nos restaurantes onde trabalhou.

Seu hobby preferido era passar horas em bingos preenchendo as cartelinhas. Tinha sorte impressionante. Toda vez ganhava um dos prêmios.

Luzia ajudou a criar duas netas e dois bisnetos que moravam com ela. Uma das netas a chamava de mãe, o que sempre causava estranhamento por ser uma mulher preta e a menina, branca de olhos claros. Mas nada a abalava. Nem mesmo a notícia de que estava com câncer de mama, que apareceu durante a pandemia da Covid-19.

Foram anos de tratamento, com idas e vindas a diversas clínicas e hospitais, sempre acompanhada por Áurea, uma de suas irmãs, com quem dividia o aluguel na década de 1990, nos períodos mais difíceis. Nunca se afastaram. Moravam na mesma rua havia cerca de 30 anos, no distrito de Nova Aparecida, em Campinas.

"Minha mãe agora se tornou minha ancestral. Tínhamos visões diferentes do mundo, mas, tão diferentes que nos tornávamos iguais. Tenho gratidão por ela ser essa mulher forte, aguerrida, lutadora e que nunca mediu esforços para realizar o que é certo, me ensinando o conceito de sororidade na prática", diz a filha Cintia Pereira, conhecida como Dandewara.

Apesar do tratamento, o câncer apresentou diversas metástases. Luzia morreu no sábado, 18 de novembro, aos 70 anos, em Campinas.

Deixa as filhas Cintia, Silveliana e Suleima, sete netos, cinco bisnetos e quatro irmãs.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.