Descrição de chapéu Obituário Jardel Sebba Filho (1975 - 2023)

Mortes: Tinha paixão pela música e pela cultura pop

Jardel Sebba Filho sabia cultivar a amizade com o mesmo carinho que dedicava às coleções de livros, CDs e DVDs

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Leonardo Fuhrmann
São Paulo

Uma das maiores tristezas do jornalista Jardel Sebba Filho nos últimos meses era saber que nunca mais pisaria em Copacabana, no Rio de Janeiro. O agravamento do câncer veio em um momento em que ele planejava visitar —ao lado da esposa, a designer Carolina Lacreta— o bairro em que nasceu e foi criado.

Mas a Copacabana de Jardel nada tinha de Princesinha do Mar, como na música de Alberto Ribeiro e João de Barro. Era mais o microcosmo do Brasil, do compositor e escritor Fausto Fawcett. Ele sentia falta mesmo da mistura de malandros e otários e do cheiro de fritura nas ruas.

Formado neste caldeirão cultural carioca, Jardel passou pela Universidade Federal de Goiás —estado onde moram seu pai, o ex-deputado Jardel Sebba, e seus irmãos, o deputado estadual Gustavo, Eveline e Marília — e desembarcou depois em São Paulo, onde trabalhou nas revistas Vip, Sexy e Playboy. Do Rio de Janeiro, trazia um sotaque que nunca o abandonou, gírias típicas —como o "qualé, mermão?"— e a paixão recheada de causos pelo Flamengo.

Jardel Sebba (1975 - 2023)
Jardel Sebba (1975 - 2023) - Arquivo pessoal

De costas para o mar, Jardel foi formado na paixão pela música e pela cultura pop, em especial pelo rock inglês do The Smiths e do Joy Division. Mas sua cultura musical ia muito além disso. Como lembra o jornalista Fábio Peixoto, seu colega nos tempos de Editora Abril, ele era um cara capaz de passar horas em um papo sobre as diferenças entre o jazz da Costa Leste e o da Costa Oeste sem ser arrogante em momento algum. Assim, ajudou muito na formação de estagiários e recém-egressos do Curso Abril.

Evidentemente, tinha muito mais discos, livros, CDs e DVDs do que amigos. Mas sabia cultivar a amizade com o mesmo carinho que dedicava às coleções. Se parecia calado e introspectivo em um primeiro contato, se revelava um amigo dedicado e cuidadoso para quem o conhecia melhor. Assim, não era difícil ganhar dele "o livro que é a sua cara" ou "o disco que você precisa conhecer". Tudo isso sem perder um sarcasmo que tornava as conversas mais divertidas, inclusive quando falava da doença, que tratava desde 2019.

O seu humor fazia com que as reportagens e entrevistas que renderam se tornassem causos tão bons quanto as que não deram certo. Fez uma entrevista antológica (termo que usava sempre) com o ator Paulo César Pereio e o compositor Gilberto Gil e, mesmo com inúmeras tentativas, jamais conseguiu a entrevista do compositor Caetano Veloso para a Playboy. Passou até os últimos dias falando com paixão sobre música, livros, pautas e reportagens, mesmo quando não conseguia mais trabalhar.

Nos últimos meses, tentou retomar sua paixão pelo trompete, mas o fôlego já não lhe permitia tocar. Desde a última segunda-feira (20), as memórias soam livres, como as notas de um solo do trompetista norte-americano Miles Davis.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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