A visita de Michael Jackson a Salvador em 1996 exigiu uma estrutura de segurança que parecia intransponível para a imprensa. Não seria suficiente para driblar o esquadrão zumbi, especializado em roubadas, como ficou conhecida a equipe de fotógrafos da qual Nelson Perez era integrante.
Com um profissionalismo despojado e nada egoísta, lembra o amigo Carlos Magno de Figueiredo, 61, Nelson chegou antes a Salvador e acertou um hotel para o amigo no Pelourinho, onde aconteceu a gravação do clipe de "They Don’t Care About Us".
"Ele se incumbiu de revelar e transmitir o filme e me deixou fotografar, é um companheirismo que não vi em nenhum outro lugar", diz o fotógrafo. A trupe armou um esquema com o motorista local César Bahia para transmitir os filmes e ainda conseguiu circular entre a produção do astro pop. Estampou a capa do Jornal do Brasil.
Nelson também passou pelos jornais Valor Econômico e O Povo e fez uma das fotos icônicas do Fluminense. O registro é o de um voleio de Fred, em 2012, ano da conquista do tetracampeonato brasileiro pelo clube, que prestou homenagem em uma nota nas redes sociais.
Carioca, Nelson foi criado no Morro de São Carlos, no tradicional bairro do Estácio, na região central da cidade.
"Os avós deles, portugueses, pensaram que casa em locais altos no Brasil tinham o mesmo status daquelas em Portugal, então compraram o terreno e fizeram a casa que foi muito tempo o centro da família", diz o jornalista Giba Perez, 30, um dos filhos do fotógrafo.
Trabalhar com fotografia, segundo Giba, era parte da essência do pai, um artista a todo tempo. "Fui capa do Jornal do Brasil em uma Bienal do Livro, e sempre que a gente se juntava ele tirava foto, era preciso posar."
Além dele, Nelson teve mais duas filhas, Giulia Perez, 18, e Isabela Perez, 8, com companheiras diferentes. O tempo do pai carinhoso e carente era dividido com o trabalho e com a tentativa de juntar ou visitar os filhos que vivem no Rio de Janeiro e em Niterói.
Leitor ávido, também se dedicava às reuniões com amigos para tomar cerveja e contar histórias. "Pior é que a gente combinava um horário e ele chegava mais cedo, ia tomando chope e se irritava quando aparecíamos na hora marcada", diz Carlos Magno. Já o filho Giba lembra das reuniões durante a infância no sítio de Alaor Filho, seu padrinho e ex-chefe do pai, em Itaboraí, na porção leste do Grande Rio.
Em junho, após se queixar de dores nas costas e receber avisos do filho para procurar um médico, Nelson descobriu um câncer, que se espalhou pelos ossos. Ele morreu em 15 de outubro, aos 55 anos. Deixa os filhos e a mulher, Valéria. "Não era esse o combinado", lamenta o amigo Carlos Magno.
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