Descrição de chapéu Assembleia Legislativa

Deputado estadual é suspeito de liderar milícia na Bahia

Deputado informou que está à disposição da Justiça; esposa e filho de Binho Galinha, além de três policiais, foram presos em operação

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Salvador

O deputado estadual Kleber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha (Patriota-BA), foi denunciado pelo Ministério Público do Estado da Bahia sob acusação de liderar uma milícia em Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, a 109 km de Salvador.

Ele é acusado por crimes de lavagem de dinheiro do jogo do bicho, agiotagem e receptação qualificada e foi um dos alvos da Operação "El Patron", deflagrada na manhã desta quinta-feira (7) pelo Ministério Público estadual, Polícia Federal, Receita Federal e Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

Em nota, o deputado informou que está à disposição da Justiça, que "tudo será esclarecido no momento próprio" e que manterá suas atividades na Assembleia Legislativa da Bahia: "Confio na Justiça e estou à disposição para dirimir dúvidas e contribuir quanto a transparência dos fatos."

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Deputado estadual Binho Galinha (Patriota-BA) é suspeito de liderar milícia em Feira de Santana (BA) - Binho Galinha no Instagram

Ao todo, 15 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público, que pediu a prisão preventiva de dez delas. A polícia cumpriu seis mandados de prisão nesta quinta, e outras quatro pessoas são consideradas foragidas. Não houve pedido de prisão contra o deputado Binho Galinha.

Foram presos a esposa do deputado, Mayana Cerqueira da Silva, o filho João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, além de Jorge Vinícius de Souza Santana Piano, apontado como operador do núcleo financeiro da organização criminosa.

Os advogados de Mayana Cerqueira e João Guilherme informaram que vão analisar os autos assim que tiverem acesso à íntegra da documentação e que qualquer conclusão nesse momento será meramente especulativa e temerária.

"Os acusados se resguardam ao direito de se manifestar no momento processual adequado sobre o que for necessário à elucidação dos fatos e demonstração da verdade. Além disso, se colocam desde já a disposição da justiça, colaborando no que for necessário", informaram, em nota.

No final da tarde desta quinta, Mayana Cerqueira foi solta mediante uso de tornozeleira eletrônica pelo fato de ser mãe de uma criança de 12 anos.

Também foram detidos três policiais militares identificados como Jackson Macedo Araújo Júnior, Roque de Jesus Carvalho e Josenilson Souza da Conceição. Na casa deste último, a polícia encontrou pacotes com pasta base de cocaína.

Os policiais, apontam os investigadores, integrariam o braço armado da organização criminosa e teriam como atribuição efetuar cobranças mediante violência e grave ameaça, de valores indevidos oriundos do jogo e de agiotagem.

Acusado de integrara milícia, o policial Roque de Jesus Carvalho foi diretor do Conjunto Penal de Feira de Santana entre 2017 e 2022, na gestão do então governador Rui Costa (PT).

As defesas de Jackson e Roque informaram que não tiveram acesso aos autos e por isso, por enquanto não iam se pronunciar.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Jorge Vinícius de Souza Santana Piano e Josenilson Souza da Conceição.

O deputado Binho Galinha foi alvo de busca e apreensão em seus imóveis, parte deles registrados em nomes de terceiros. Em um deles, polícia encontrou um fuzil que tinha registro de uso por Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador em nome do deputado.

As investigações foram iniciadas há pouco mais de um ano, antes de Binho Galinha ter sido eleito deputado estadual.

"As investigações já relatavam a prática de inúmeros crimes perpetrados pelo deputado e pela organização na qual ele era o líder. Por meio das diligências, foi possível confirmar as hipóteses da organização criminosas estar lavando dinheiro do jogo do bicho, atuando com agiotagem, extorsão e receptação qualificada", afirmou o delegado federal Geraldo Sergio Silva de Almeida.

As apurações apontam que a organização criminosa foi constituída na década de 1990. O deputado teria assumido a liderança do grupo em 2013, a partir do assassinato do bicheiro Oldair José da Silva Mascarenhas, conhecido como Dainho.

Segundo a promotoria, a morte de Dainho deu ao grupo de Binho Galinha o monopólio do jogo do bicho na região de Feira de Santana, domínio que se mantém até os dias de hoje. O grupo atuaria por meio de uma entidade conhecida como Paratodos, que dá nome às bancas do jogo do bicho.

A denúncia foi recebida pela Justiça, que acatou o pedido da Promotoria de bloqueio de R$ 200 milhões das contas bancárias dos investigados e o sequestro de 26 imóveis, incluindo dez fazendas, quatorze veículos, além da suspensão de atividades econômicas de seis empresas.

As investigações revelaram que a organização criminosa fez movimentações bancárias superiores a R$ 100 milhões de reais nos últimos dez anos em contas bancárias pessoais e de empresas "constituídas com o intuito de garantir aparência de licitude aos recursos movimentados". A principal destas empresas seria a Tend Tudo, que atua no segmento de revenda de peças automotivas.

A Promotoria solicitou à Justiça que determine o pagamento de multa superior a R$ 30 milhões por danos morais coletivos.

A operação envolveu a atuação de aproximadamente 200 agentes públicos, entre policiais, delegados, promotores de Justiça e auditores fiscais. Foram 35 cumpridos mandados de busca e apreensão, incluindo a casa e fazendas do deputado.

Binho Galinha foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 2022, quando obteve 49.834 votos tendo Feira de Santana como principal base eleitoral. Na época, sua votação surpreendeu os principais caciques políticos da cidade.

No primeiro turno, fez parte da aliança liderada por João Roma (PL), mas não fez campanha em favor do candidato bolsonarista. No segundo turno, contudo, selou seu apoio ao hoje governador Jerônimo Rodrigues (PT) em um encontro no Palácio de Ondina com a presença do então governador e hoje ministro da Casa Civil, Rui Costa.

A Assembleia Legislativa da Bahia afirmou, por meio de nota, que não foi informada, muito menos citada, a respeito da Operação realizada pela Polícia Federal.

"As investigações estritamente ocorrem no âmbito policial. Caso a ALBA seja notificada ou instada a se pronunciar, o fará de pronto. O Regimento Interno da Casa não prevê nenhum tipo de sanção a parlamentares durante o transcorrer de investigações", diz a nota.

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