Descrição de chapéu violência

'Gangue da bike' toma lugar de trombadinha em SP; grupo não tem ligação com cracolândia, dizem policiais

Grupo é formado por homens de 16 a 25 anos que miram celulares de pedestres e motoristas na região central

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São Paulo

Por questões de segurança, a paisagem do centro de São Paulo tem mudado com o tempo. Um exemplo é a colocação de gradis no entorno da praça da Sé, além da presença cada vez maior de PMs e guardas-civis.

As ações dos criminosos também tem se transformado com o tempo, como é o caso dos assaltantes em bicicletas, que na prática substituíram os antigos trombadinhas —como os retratados no filme "Pixote, a Lei do Mais Fraco", lançado no início dos anos 1980 pelo diretor Hector Babenco (1946-2016).

Enquanto os relatos de batedores de carteira nas ruas tem diminuído, os ladrões que agem sobre duas rodas fazem vítimas em locais como as avenidas Paulista e São João e no entorno da praça da República, principalmente a partir de 2022, em busca de celulares.

Mas quem são eles? A Folha conversou com policiais civis envolvidos em investigações contra o grupo e conseguiu traçar um perfil dos jovens. De acordo com os agentes, que falaram em condição de anonimato, desde fevereiro deste ano, quando teve início a operação Speed Bike, cerca de 100 pessoas foram identificadas como suspeitas de praticarem furtos montados em bicicletas e 58 delas foram presas em flagrante.

Bicicletas apreendidas em abril de 2022 com suspeitos de praticarem crimes na região central
Bicicletas apreendidas em abril de 2022 com suspeitos de praticarem crimes na região central de São Paulo - Reprodução/Polícia Civil

Segundo os policiais, o grupo é formado somente por homens com idades de 16 a 25 anos. A maioria vive em bairros da região central de São Paulo, e não têm emprego fixo.

Os policiais disseram ainda que não há indícios de que esses suspeitos tenham algum tipo de vínculo com a cracolândia.

No último domingo (3), a chamada gangue da bike teria sido a responsável pelo ataque ao Bar Brahma, que fica próximo da República.

Naquele dia, um integrante do grupo foi agredido por testemunhas após uma tentativa de furto em frente ao bar, que fica na esquina das avenidas Ipiranga e São João. Após as agressões, o jovem teria chamado outros suspeitos, que foram até o local e atiraram pedras contra o estabelecimento.

Presidente da Associação Geral do Centro de São Paulo, Charles Resolve diz que a ação desses grupos tem ficado cada vez mais comum na região. "Eles debocham do poder público e da segurança pública. Eu vejo da janela do meu escritório [na República] cinco viaturas e eles para cima e para baixo procurando suas vítimas. É como se tivessem certeza da impunidade", disse ele.

As investigações até aqui apontam que não há uma coordenação unificada —são pequenos grupos que se juntam para cometer os crimes.

A apuração da polícia também indica que os ataques contra pedestres e motoristas podem ser feitos por uma única pessoa ou por grupos de até cinco ladrões, que agem a partir da distração da vítima, tomam seu celular e fogem pedalando.

"Não existe uma gangue da bike. Existem algumas gangues da bike, tem mais de uma. Eles estão substituindo os trombadinhas, porém, é um tipo de trombadinha. Esse negócio de usar a bicicleta foi uma novidade, porque agora o objeto mais furtado é o celular", afirma Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para ele, a ação do ladrão montado em uma bicicleta acaba sendo mais fácil do que a do batedor de carteira. "O trombadinha precisava arrancar a corrente [do pescoço da vítima], pegar a carteira do bolso, pegar bolsa, era mais difícil. O celular normalmente está na mão e em uma mão só, essa é vantagem. E eles têm para quem vender. Tem muito receptador de celular", diz o analista.

A rua Guaianases, em Campos Elíseos, também no centro, se tornou o principal destino de celulares roubados ou furtados na cidade. Em 2023 já foram recuperados 2.790 aparelhos em prédios que ficam na rua, segundo o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

As ações da Polícia Civil resultaram na apreensão de 124 bicicletas no período que vai de fevereiro, incío da operação, e novembro.

Boa parte dessas apreensões ocorreu na área do 78° DP (Jardins), que abrange a avenida Paulista, um dos pontos preferidos dos grupos que usam as bikes para roubar celulares.

Os policiais ouvidos pela reportagem afirmam ainda que grande parte das bicicletas usadas nesses crimes estão em situação regular —em muitos casos, após as apreensões os suspeitos comparecem à delegacia e apresentam a nota fiscal da compra, e assim conseguem recuperar a bike.

No último domingo (3), o ataque ao Bar Brahma teve o envolvimento de pessoas suspeitas de serem integrante de uma gangue da bike.

Naquele dia, um integrante de um dos grupos foi agredido por testemunhas após uma tentativa de furto em frente ao bar, que fica na esquina das avenidas Ipiranga e São João. Na sequência, o jovem teria chamado outros suspeitos, que foram até o local e atiraram pedras contra a fachada do estabelecimento.

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