Empresário desaparecido em helicóptero avisou sobre possível mudança de rota para Ubatuba (SP)

Raphael Torres encaminhou áudio para o filho reportando condições adversas no voo; força-tarefa procura por outras três pessoas

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São Paulo

O empresário Raphael Torres, 41, um dos passageiros do helicóptero que desapareceu em uma viagem entre o Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, e Ilhabela, no litoral norte, na véspera do Ano-Novo, avisou o filho por uma mensagem de áudio sobre as condições climáticas adversas na cidade litorânea.

"Filho, eu vi que você leu a minha mensagem agora, acho que vou para Ubatuba. Ilhabela está ruim. Não consigo chegar", disse. Ao fundo do áudio é possível ouvir o barulho da aeronave, que teria feito um pouso de emergência em uma área de mata antes de alçar voo novamente.

O áudio foi encaminhado à Folha pela irmã de Torres, a nutricionista Herika Torres, 37, nesta quarta-feira (3), data em que se completam três dias de buscas pela aeronave por homens da FAB (Força Aérea Brasileira) e da Polícia Militar. As ações estão concentradas na serra do Mar.

A mulher confirmou que o empresário havia avisado familiares sobre a viagem realizada no domingo (31).

O empresário Raphael Torres, 41, é acostumado com viagens áreas, segundo uma irmã
O empresário Raphael Torres, 41, é acostumado com viagens áreas, segundo uma irmã - Leitor

Herika confirmou que foi seu irmão quem convidou as outras duas passageiras, a vendedora de roupas Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, e a filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20.

Além do trio, o piloto Cassiano Tete Teodoro segue desaparecido.

"A gente sabia que ele viajaria para Ilhabela no domingo. Estávamos crentes que tinha dado tudo certo na viagem. Até que a gente recebeu uma mensagem que ele voltaria para Ubatuba."

A nutricionista disse ter encaminhado uma mensagem felicitando o irmão pela passagem do ano. O texto, no entanto, não chegou a ser entregue. Segundo ela, em um primeiro momento não houve preocupação.

"Na segunda-feira que nós soubemos [a informação sobre o sumiço] através de uma conhecida nossa, que mandou a matéria e acabamos descobrindo pela mídia. Fomos até o Campo de Marte, entramos em contato com a polícia e com o hangar e seguimos na busca", acrescentou Herika.

Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, e a mãe, Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, são brancas, possuem cabelos longos e usam óculos
Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, e a mãe, Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, estavam no helicóptero que sumiu em São Paulo - Leitor

A nutricionista afirmou que o irmão atua na área de vendas de medicamentos. O empresário tem dois filhos, um de 16 e outro de seis anos.

Herika diz que o telefone do irmão está na caixa postal.

"Estamos na esperança. Enquanto há dúvida há o benefício da esperança. Entre o pessimismo e o otimismo, temos que agarrar no otimismo", completou Herika.

Morador da capital paulista, Torres é acostumado com viagens aéreas e já conhecia o piloto que transportava o trio, segundo a irmã.

A aeronave perdeu contato com o centro de comando depois de enfrentar trecho de forte neblina na região da serra. O último contato do piloto com os responsáveis pelo tráfego aéreo ocorreu às 15h10 de domingo. A Polícia Militar afirmou ter recebido um alerta sobre o desaparecimento às 22h40.

Além do empresário, vídeo e mensagens enviadas por piloto e passageira reportaram falta de visibilidade e um pouso de emergência em área de mata. "Tá perigoso. Muita neblina. Eu estou voltando", disse Letícia em mensagem enviada para o namorado no dia. Ela gravou um vídeo que mostra a aeronave voava envolvida em uma intensa neblina.

Por volta das 16h desta quarta-feira, um corpo foi localizado às margens de uma represa em Natividade da Serra, cidade no Vale do Paraíba que está localizada dentro do raio de buscas pela aeronave.

O cadáver, que segundo os bombeiros aparenta ser de um homem, ainda não foi identificado.

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança) declarou que o corpo foi encontrado por policiais militares. "A Polícia Civil está no local, assim como a perícia técnica. Diligências iniciais são realizadas na região", diz trecho do texto.

Piloto teve licença cassada por transporte ilegal

Cassiano Tete Teodoro, o piloto Cassiano Tete Teodoro, que comandava o helicóptero que desapareceu na tarde de domingo (31), teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em setembro de 2021 por transporte aéreo clandestino, fraudes em planos de voo e após ter escapado de uma fiscalização. Ele obteve uma nova licença em outubro do ano passado, após ficar afastado pelo prazo máximo de dois anos.

Além disso, a empresa que operava o helicóptero não tinha autorização para transporte aéreo de passageiros e, em 2022, o MPF (Ministério Público Federal) recomendou que várias empresas de aviação se abstivessem de alugar aeronaves às companhias de Teodoro, após identificar que ele atuava de forma clandestina. As informações foram publicadas inicialmente pelo Metrópoles e confirmadas pela Folha.

A defesa de Teodoro afirma que houve uma punição indevida contra o piloto e que fiscais da Anac cometeram irregularidade durante uma fiscalização.

Ainda não está claro se a viagem em que o helicóptero desapareceu foi remunerada, o que configuraria uma infração.

O nome de Teodoro foi mencionado como o condutor durante conversa sobre as condições meteorológicas com o dono de um heliponto em Ilhabela, local onde deveria ocorrer o pouso. Um documento do MPF também afirma que todos os voos da empresa CBA Investimentos, inscrita como operadora do helicóptero no registro da Anac, eram pilotadas por Teodoro —que também era sócio da empresa.

A recomendação do MPF, feita em abril de 2022, afirmava que a CBA Investimentos e outra empresa de Teodoro, a VoeSP, estavam oferecendo "de forma pública, nas mídias sociais, serviço de transporte aéreo de forma irregular e clandestina, na modalidade táxi aéreo, gestão de aeronaves e voos panorâmicos, sem autorização da Anac, promovendo sua propaganda, em especial, através das redes sociais".

Tanto a Anac quanto o MPF também dizem que Teodoro teria adulterado planos de voo e prestado informações imprecisas sobre as viagens. A agência de aviação, questionada pela Folha, ressaltou que o piloto não estava habilitado a realizar voos com passageiros, apesar de ter retomado a licença de piloto privado de helicóptero em outubro de 2023 –passado o período de punição.

A decisão da Anac que cancelou a habilitação para voo de Teodoro, em outubro de 2021, cita um caso em que o piloto teria fugido de fiscais da agência, que haviam dado uma ordem para que ele desligasse a aeronave para que ela fosse detida.

A advogada de Teodoro, Érica Zandoná, afirmou que os fiscais da Anac não estavam identificados na ocasião. Disse, ainda, que ele recebeu autorização para decolar.

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