Favela onde lutador de MMA foi morto passou da milícia para o tráfico em 2023

Homicídios na região aumentaram 194% após disputa entre criminosos; Diego Braga Nunes foi ao local tentar recuperar moto

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Rio de Janeiro

O Morro do Banco, zona oeste do Rio de Janeiro, é controlado por traficantes do Comando Vermelho desde março de 2023, início a expansão do tráfico para a zona oeste com a fragmentação da milícia. A comunidade é o local onde o lutador Diego Braga Nunes, 44, foi morto a tiros após tentar recuperar sua moto, por conta própria, nesta segunda (15).

A Yamaha do lutador de MMA, modelo XTZ250, ano 2023, com valor de tabela de cerca de R$ 25 mil, havia sido furtada de sua residência na madruga de segunda. O veículo foi encontrado dentro de uma casa no morro por policiais que investigam o caso. O enterro do lutador está marcado para às 11h desta quarta (17).

Lutador de MMA Diego Braga Nunes, 44, é morto após tentar recuperar moto furtada - @DiegoBraga13 no Instagram

A comunidade faz parte da 31ª Aisp (Área Integrada de Segurança Pública), que inclui oito bairros. A disputa entre os criminosos fez o número de mortes disparar na região, com aumento de 194% na letalidade violenta entre os meses de janeiro a novembro de 2023, ante o mesmo período do ano anterior.

A letalidade violenta, que reúne os casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e morte por intervenção de agente do estado, teve 100 registros nos 11 primeiros meses de 2023 e, em 2022, 34, no mesmo período.

Esse é o maior número em 20 anos do índice na região, já que em 2003, nesse período, foram 143 casos. Depois, o maior registro da letalidade ocorreu em 2018, com 63 casos de mortes intencionais. Os dados são do ISP (Instituto de Segurança Pública). Os números de dezembro do ano passado ainda não foram divulgados.

Em fevereiro de 2023, as disputas entre os grupos se tornaram mais acirradas. Esse é o mesmo período em que as investigações apontam que Edgar Alves, o Doca, suspeito de ser um dos chefes do CV, teria pedido de presente de aniversário o berço da milícia: Rio das Pedras.

O pedido ocorreu após fragmentações da Família Braga, a maior milícia do estado do Rio, que passou por disputas internas. A polícia apontava como líder dos milicianos Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, que se entregou à Polícia Federal na véspera de Natal.

Com traficantes reunidos na Rocinha, o Comando Vermelho passou a se expandir em direção a Rio das Pedras. Segundo investigações da Polícia Civil, o morro do Banco foi dominado pelos traficantes, mas a Muzema, localidade próxima onde o lutador residia, ainda passa por instabilidade na disputa.

Rio das Pedras ainda está sob domínio da milícia, mas que teria feito alianças com criminosos do TCP (Terceiro Comando Puro) para se manter no local.

Um dos líderes do CV que coordenaria o tráfico no Morro do Banco seria Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala. Ele estaria escondido na Rocinha e há informações passadas à polícia de que, após a repercussão da morte do lutador, ele teria suspendido uma festa para comemorar os seus 42 anos, que completa nesta quarta.

Pedro Bala tem três mandados de prisão em seu nome, sendo dois por homicídios e um por tráfico de drogas. Um dos homicídios é da adolescente Gabriela Estefany da Silva Pinto, 15. A Polícia Civil concluiu que ela foi morta após se relacionar com um traficante rival.

A reportagem não localizou no Tribunal de Justiça a defesa de Doca ou Pedro Bala. Um advogado que tem clientes apontados como integrantes da quadrilha afirmou à reportagem que ambos não possuem defensores.

Após dominar parte da zona oeste, o Comando Vermelho passou a perseguir moradores simpatizantes com os milicianos. Há pelo menos dois casos relatados na Delegacia de Homicídios de moradores que foram levados para serem mortos no Complexo da Penha —distante cerca de 25 quilômetros das comunidades da zona oeste.

Um suspeito de ter participado do homicídio do lutador, Tauã Silva, 18, foi preso nesta terça (16). Ele ainda não passou por audiência de custódia e não há informações sobre um possível defensor.

Segundo policiais militares, ele disse que os traficantes teriam encontrado no celular de Nunes contatos de milicianos e policiais. O atleta ainda tentou afirmar que chegou a dar aulas na comunidade, por isso, teria os contatos. O depoimento oficial de Silva ainda não foi divulgado.

Ainda de acordo com os militares, Silva teria dito que o lutador tentou correr ao ser apontado como miliciano, mas foi morto a tiros ao lado de uma creche. Depois, seu corpo foi jogado em uma região de mata.

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