Descrição de chapéu Obituário Araken Passos Vaz Galvão Sampaio (1936 - 2023)

Mortes: Escritor baiano registrou memórias sertanejas e exílio

Araken Vaz Galvão foi preso político da ditadura militar e fundou instituto cultural na Bahia

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Juazeiro (BA)

Entusiasta do realismo fantástico, Araken Vaz Galvão misturava memórias e ficção em suas 15 obras publicadas. Em "Crônicas de uma Família Sertaneja" (2004), narrou lembranças e causos populares do Sertão.

Vaz Galvão nasceu em Jequié (BA), em 1936. Seu imaginário literário veio nos estudos primários, incentivado por uma irmã mais velha que lia livros para ele.

Homem com barba branca e camiseta roxa segura um livro aberto nas mãos
O escritor Araken Vaz Galvão morreu no dia 4 de dezembro de 2023, aos 87 anos - Leitor

Ficou órfão de pai aos cinco anos e se mudou com a mãe e as irmãs para a fazenda do avô. Aos 12 anos, após a morte do patriarca, tiveram de ir para o Rio de Janeiro, depois de serem expulsos em brigas familiares por herança. Lá, entrou para o Exército ao completar a maioridade.

Após o Golpe de 1964, reuniu-se com outros sargentos, do Exército e da Marinha, e participou de um motim contra a ditadura militar. Concentraram-se no Alto do Caparaó, entre Minas Gerais e Espírito Santo, iniciando uma luta armada que ficou conhecida como Guerrilha do Caparaó.

Ainda na década de 1960, foi preso na Ilha das Pedras Brancas, em Porto Alegre.

Durante 11 anos foi exilado político em países da América hispânica, onde fez faculdade de artes plásticas, história e cinema. Após a anistia, retornou ao Rio e passou a se dedicar à escrita. As memórias desse período foram registradas no livro "Crônicas das Prisões de Exílio" (2016).

Em uma visita a amigos no Espírito Santo, conheceu a pedagoga Euzedir Miranda de Anchieta, na década de 1980. O pedido de casamento foi acompanhado de uma exigência: mudarem-se para a Bahia, pois ele queria morrer em terras baianas. A mulher pediu para ficarem perto de Salvador, em uma cidade praiana. Encontraram Valença (BA), onde foram morar no começo da década seguinte.

Vaz Galvão organizava almoços com escritores na nova terra. Os encontros renderam antologias. Junto com outros autores, fundou a Academia Valenciana de Letras (Avela), em 2007, da qual foi o primeiro presidente.

Também criou o Instituto Cultural Euzedir Vaz Galvão, que abriga uma biblioteca e um museu. "Era o grande sonho da vida dele. Hoje, a gente tem mais de 4.000 rótulos na biblioteca", conta a filha Juscimare Souza, 37.

Mesmo aos fins de semana e feriados, ia todos os dias ao escritório do instituto para escrever. Sua rotina também exigia uma pausa para leitura seguida de soneca após o almoço. "Era o sono sagrado da tarde", diz a filha aos risos. "Ele lia muito. Às vezes, três ou quatro livros ao mesmo tempo".

Nos últimos anos, sua escrita trazia a angústia da morte. "Chegar aos 80 anos lúcido e sentindo seu corpo se degradando com o tempo… acredito que essa escrita seria a obsessão dele", afirma Juscimare.

A articulação entre os escritores o fez representante da classe. Presidiu o Conselho de Cultura da Bahia durante dois anos, após oito como conselheiro.

Vaz Galvão recebeu o Prêmio Jorge Amado, da União Brasileira de Escritores (UBE), em 2016, pelo conjunto da obra. No último 2 de dezembro, recebeu a placa de Mérito Legislativo da Câmara Municipal de Valença.

Morreu dois dias depois, aos 87 anos, após tratar um câncer no esôfago. Deixa a esposa, três filhas, Márcia Vaz, Arany e Juscimare, oito netos e dois bisnetos.

Seu corpo foi cremado, e as cinzas serão jogadas em três locais que indicou, aos pés do ipê-amarelo que plantou na frente do instituto, em um parque no Rio e no Alto do Caparaó.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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