Quando em 2022 a tempestade virou tragédia mais uma vez em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, Hailton não teve dúvidas e partiu para lá. Assim como o desastre não era novidade, a ajuda às vítimas também não era.
Advogado com trajetória na assistência jurídica a grupos vulneráveis e movimentos sociais, ele colocava em prática o que havia aprendido como profissional e pesquisador onde fosse preciso.
A família de Hailton Pinheiro de Souza Júnior, nascido em 1982, saiu do Espírito Santo e se estabeleceu na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Desde cedo ele dizia estar certo de sua vocação profissional. Formou-se em direito na UFF (Universidade Federal Fluminense) e tinha como objetivo a magistratura.
Foi no início do trabalho como advogado que a inquietação passou a mudar seus rumos, levando o jovem para a área da antropologia, que estudou durante o mestrado e o doutorado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A jornada acadêmica sempre esteve lado a lado com sua visão otimista do mundo, orientada para a ação e a mudança. "Toda a trajetória dele foi marcada por engajamento", diz a irmã, Roberta Olmo, 45.
Foi assim que ganhou a confiança e a simpatia de grupos que precisavam reivindicar direitos ou reparações, como no caso da comunidade do Contorno, de Petrópolis, em 2011, uma das devastadas pela chuva.
"Ele nunca se dedicou à pesquisa apenas no âmbito acadêmico. Ele se envolvia politicamente e, por atuar como advogado, prestava assessoria", diz a amiga dos tempos de mestrado Ana Paula Perrota, 42, professora na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), onde também foram colegas de trabalho.
Foi assim que Hailton foi chamado a participar de um projeto para ajudar moradores de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, a buscarem reparação após serem afetados pelo temporal do ano passado.
Na Rural, como é chamada a universidade, Hailton envolvia seus alunos com atividades práticas, como júris simulados, e cativava diferentes turmas com o entusiasmo pelo ensino voltado para uma mudança do mundo.
"Para além de brilhante, ele se revelou uma pessoa sensível e solidária às causas alheias", diz a advogada Anna Beatriz Gaspar, 30, orientada por Hailton na graduação.
A inquietação ia além do trabalho. Onde estivesse, Hailton buscava novos grupos e atividades. Começou a praticar canoagem em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, para onde havia se mudado com a companheira, Isabele Hadama, mas não deixava de visitar os dois sobrinhos, filhos de Roberta.
Sua vida foi interrompida, porém, por complicações após uma cirurgia para retirar cistos do intestino. Ele morreu em 29 de dezembro, aos 41 anos.
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