Descrição de chapéu Obituário Ana Cândida Fernandes Silva (2002 - 2024)

Mortes: Escolheu o jornalismo para enfrentar preconceitos

Ana Cândida Fernandes Silva era fã de música e estudante dedicada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A apresentação de Paul McCartney no Rio de Janeiro, em 16 de dezembro, foi um dos grandes sonhos realizados de Ana Cândida. "Neta das beatlemaníacas que a polícia não conseguiu prender", disse ela uma em uma publicação no Instagram, em alusão a uma suposta tentativa da polícia de prender os músicos em 1969.

A música era uma das paixões da jovem estudante, nascida e criada no bairro Colégio, na zona norte do Rio de Janeiro, que também marcou presença nas apresentações de Coldplay e Lorde.

O concerto do beatle no Rio dividia a data com uma cirurgia importante para a estudante, que avisou, com sua determinação já conhecida, que adiaria o procedimento para curtir o show.

à esquerda, mãe de ana, maria de lourdes, posa para foto fazendo pose de beijo e exibindo pulseira, e à direita, a filha, ana cândida, olha para a foto, está maquiada e mostra a pulseira
Ana Cândida Fernandes Silva (2002 - 2024), à esq., com a mãe, Maria de Lourdes Silva, 59 - Arquivo pessoal

O que ela decidisse era cumprido, mesmo sob protestos de algum familiar, diz a tia e madrinha Maria da Penha Ferreira, 69. "Quando falava não, era não e pronto."

Era com essa personalidade decidida e o apoio da madrinha que Ana alugava carros para que o pai, Luiz, com quem era grudada, a levasse a shows e outros passeios pela cidade.

Essa energia também era dedicada às atividades no curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), nas quais abordava segurança pública, violência contra a mulher, cultura e acessibilidade.

Uma de suas funções era revisar os textos produzidos pelos colegas no site de notícias Rampas, produzido pelos estudantes. "Ela se mostrou uma editora de cultura muito atenta, interessada e inteligente", afirma a jornalista Fernanda da Escóssia, 51, professora da UERJ e coordenadora da Agência de Notícias Científicas, que abriga a página.

Ana tinha limitações de movimento por causa de uma atrofia muscular e usava cadeira de rodas para se locomover pela cidade. "Ela era idealista, tinha muitos sonhos, e falou que ia fazer jornalismo justamente para acabar com o preconceito", diz a madrinha, Maria da Penha.

Assim, logo que começou a estudar jornalismo, passou a incluir a acessibilidade nos trabalhos, com a dedicação pela qual ficou conhecida na universidade.

"A Ana Cândida era muito responsável. Em uma reunião, comecei dizendo ‘e aí, gente, pauta?’ Enquanto alguns não tinham, ela chegou com três", conta Fernanda.

Com a mesma vontade que tinha para estudar, ver shows, ler e aproveitar a vida, Ana também pesquisava possibilidades de tratamento.

Assim, depois de ver Paul McCartney, fez uma cirurgia de reparação da coluna, mas teve complicações dias depois do procedimento e morreu em 19 de janeiro, aos 21 anos. Era admirada por colegas e muito atenciosa com os pais e toda a família, como diz a madrinha. "Era um anjo, ajudava os pais em casa."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.